Veja o que acontecerá quando as placas tectônicas não existirem mais

De acordo com novo estudo, temos apenas mais 1,45 bilhão de anos para apreciar a atuação dinâmica do mecanismo geológico da Terra.

Por Robin George Andrews
Publicado 5 de set. de 2018, 11:04 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
O cone de cinzas Pu'u o Maui faz parte de um vulcão adormecido no Parque Nacional ...
O cone de cinzas Pu'u o Maui faz parte de um vulcão adormecido no Parque Nacional de Haleakala em Maui, no Havaí.
Foto de Design Pics Inc.

Não existe nenhuma arte geológica como as placas tectônicas da Terra. Graças a essa movimentação contínua, temos montanhas e oceanos, terremotos aterrorizantes, erupções vulcânicas incandescentes e novos terrenos surgindo a cada segundo.

Mas nada dura para sempre.

No futuro, o manto esfriará de tal forma que esse cinturão rolante que percorre o planeta todo deixará de se movimentar. Quando esse dia chegar, você poderá dizer adeus ao ciclo do carbono, bem como à constante reformulação e remodelação das massas de terra que foram fatores determinantes para a evolução ao longo de milhares de anos.

Quiming Cheng, geofísico matemático e presidente da União Internacional de Ciências Geológicas, foi quem assumiu mais recentemente o papel profético de prever quando esse dia sombrio poderá chegar. Ele calcula que a paralização ocorrerá dentro de cerca de 1,45 bilhão de anos. Isso seria bem antes de o sol se tornar uma grande bola vermelha gigante e nos consumir em seus últimos suspiros de vida daqui a aproximadamente 5,4 bilhões de anos.

O estudo, publicado este mês na revista científica Gondwana Research, gerou controvérsias, e alguns especialistas argumentam que nunca conseguiremos prever o fim das placas tectônicas. Mas grande parte dos cientistas concorda que tal fim um dia chegará,  levando a Terra a uma paralisação geológica.

Tornados raros atingem o vulcão Kilauea no Havaí
Landspouts são uma espécie de tornado menor do que o normal. Alguns deles foram vistos perto do vulcão Kilauea e capturados por um cinegrafista no local. A formação é rara para a região e ocorreu não só uma vez, mas várias vezes em uma só ocasião.

Então, como seria nosso mundo quando os principais processos planetários chegarem ao fim?

Quebra-cabeça tectônico

Desvendar esse quebra-cabeça significa primeiro compreender como funcionam as placas tectônicas. A Terra nasceu há 4,54 bilhões de anos nas piras do sistema solar inicial. Uma vez completamente derretido, o calor gerado por sua formação e materiais radioativos na rocha começou a se evadir. Assim que o planeta esfriou, a Terra se formou em sua estrutura atual em camadas, com um núcleo denso de ferro interno, um núcleo líquido externo, um manto superior frágil e uma crosta imprensando a rocha quente do manto inferior similar a um plástico.

Em algum lugar entre 600 milhões e 3,5 bilhões de anos atrás, placas formadas pela crosta e o manto superior, coletivamente denominados litosfera, esfriaram tornando-se densas o suficiente para conseguir se afundar no manto inferior, dando início à era das placas tectônicas. A litosfera ficou dividida em um quebra-cabeça de placas que estão constantemente se colidindo em toda a superfície do planeta, promovendo a ação geológica acima e abaixo dos oceanos. (Conheça o próximo supercontinente, a Pangeia Última.)

Nas cristas mesoceânicas, um material do manto surge, descomprime e desencadeia um derretimento profuso, criando a litosfera oceânica. As bordas mais frias e mais densas das placas ajudam essa placa da litosfera a se afastar dessas cristas e a submergir nas profundezas. Geralmente submergem sob uma placa oceânica ou continental menos densa em um processo conhecido como subducção. Essa atividade gera vulcões explosivos e uma crosta viçosa na superfície.

Quando duas placas continentais colidem, elas se unem, formando cadeias montanhosas como os Alpes ou o Himalaia. Pode ocorrer às vezes o afloramento de plumas de manto sob as placas continentais ou oceânicas, e esse centro de derretimento em constante movimento cria cadeias de vulcões.

Em algum momento, porém, o manto esfriará de tal forma que as placas já não conseguirão mais submergir nele, e vários estudos têm tentado prever quando isso ocorrerá.

O novo artigo de Cheng utiliza modelos matemáticos para estimar a rapidez com que o manto está esfriando, com base no que sabemos sobre a intensidade da atividade magmática do planeta de 3 bilhões de anos até o momento. Isso, segundo ele, nos apresenta uma estimativa primordial de quando as placas tectônicas chegarão ao fim.

Rumo à paralisação

Independentemente da precisão desse número, as placas tectônicas inevitavelmente se extinguirão, afirma Ken Hudnut, geofísico de investigação que trabalha para o Serviço Geológico dos Estados Unidos. Quando esse dia chegar, “poderá muito bem ser o fim do mundo como o conhecemos”.

A Terra provavelmente entraria em um regime único de crosta, um quebra-cabeça completo de placas titânicas que não iria mais se deslocar ou submergir. Montanhas não serão mais formadas, porém a Terra ainda terá uma atmosfera, assim a erosão pelo vento e as ondas acabarão com os altos picos de planaltos montanhosos. No futuro, grande parte dos continentes achatados ficará debaixo da água.

Zonas de subducção deixarão de existir, portanto, embora terremotos ainda aconteçam de vez em quando, eventos de grandes tremores de terra com magnitude acima de 7 ou próximo disso serão marcados na história. Ao mesmo tempo, grande parte do vulcanismo explosivo do mundo seria extinto, embora vulcões possam não ser totalmente extintos.

Marte, um mundo formado por falhas tectônicas, conseguiu forjar algumas características vulcânicas impressionantes, incluindo o Monte Olimpo, o maior vulcão do sistema solar. Sem mover as placas, um afloramento de plumas de manto duradouro concentrou uma grande proporção de derretimento da crosta em um único ponto.

Enquanto o manto da futura Terra permanece quente o suficiente para conduzir calor e derreter parcialmente, obteríamos pontos de calor dispersos, porém estacionários, de vulcanismo acionado pelas plumas. Nunca teríamos nada tão grande como o Monte Olimpo na Terra, pois nosso campo gravitacional é muito forte, e nada tão maciço e alto simplesmente submergiria na crosta. Em vez disso, nossos vulcões volumosos seriam mais planos e mais distantes uns dos outros.

E como acontece hoje, partes da litosfera inferior continuariam se descolando e formando partes do manto particularmente quentes. Isso faria com que o material do manto ascendesse em seu lugar, empurrando a crosta para cima e formando cadeias isoladas de montanhas e bacias associadas. Essa atividade causaria terremotos mais fracos e talvez até bolsões adicionais de vulcanismo.

“Esses são os processos que modelam a superfície de Vênus”, conta Robert Stern, um especialista em placas tectônicas da Universidade do Texas em Dallas, referindo-se a outro mundo sem placas tectônicas em pleno funcionamento. Porém, eventualmente, à medida que o resfriamento continua, esses mecanismos também deixarão de existir, e as últimas luzes vulcânicas do planeta se apagarão. O manto ficará relativamente frígido, e a Terra “se tornará um planeta morto, como Mercúrio”, segundo ele.

Talvez antes que isso aconteça o núcleo líquido da Terra resfriará o suficiente para acabar de vez com o calor, causando a falha do campo protetor magnético. O fluxo do sol de partículas energéticas eliminará a nossa atmosfera e sua expansão ferverá os oceanos até a extinção.

“Não há muito o que olhar adiante após a extinção das placas tectônicas”, diz Hudnut. O planeta simplesmente ficará cada vez mais plano e mais sem graça, ele prevê, até que a “Terra respingue no que sobrar do sol”.

Profetas das placas tectônicas

Outros pesquisadores apresentaram diferentes datas de extinção das placas tectônicas. Um estudo de 2016 utilizou simulações de computador extremamente detalhadas, porém simplificadas e  estimou a data de extinção em cinco bilhões de anos, mais ou menos na época do desaparecimento do sol.

Outro artigo de 2008 utilizou provas de atividades passadas de placas tectônicas para sugerir que as placas tectônicas são intermitentes. Seus autores preveem que a próxima grande pausa ocorrerá daqui a 350 milhões de anos, quando o Oceano Pacífico se fechar e suas diversas zonas de subducção forem desativadas.

“A questão é boa, e sim, eventualmente, acabará”, diz Stern. No entanto, ele discorda fundamentalmente com o raciocínio do novo estudo. “Eu não acredito em nenhum tempo estimado de extinção das placas tectônicas”, segundo ele.

Christopher Scotese, especialista emérito em placas tectônicas da Universidade do Texas em Arlington, sugere que o artigo não deveria se concentrar na refrigeração do manto. Em vez disso, sua base deveria ter sido sobre o mecanismo de tração das placas, devido às “regras de tração das placas”.

Em vez de um desaquecimento gradual, Scotese prevê que as placas tectônicas serão renovadas durante os próximos um a dois bilhões de anos, antes do fim dos cinturões rolantes. Ele explica que conforme o fluxo de calor do manto diminui, as placas se tornam extremamente frias e densas, permitindo-lhes uma subducção mais rápida.

Hudnut afirma que prever quaisquer eventos geofísicos futuros é, ainda que em curto prazo, “desafiador para além das capacidades humanas atuais”. Apesar disso, ele enfatiza que é bom pensar no futuro. E, enquanto nenhum dos artigos preditivos são perfeitos, eles destacam a complexidade do assunto e apontam onde estão as lacunas intrigantes em nosso conhecimento sobre o funcionamento do nosso próprio planeta.

Os modelos freneticamente diferentes “ajudam a esclarecer nossas ideias sobre o motivo das placas tectônicas existirem em primeiro lugar”, diz Scotese. “Talvez existam descobertas sobre o futuro que possam ser aplicadas no passado.”

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