O que a morte em massa de uma árvore icônica nos revela sobre as mudanças climáticas
Novo livro traz informações mais recentes de um mundo em transição e explora nossa capacidade de enfrentamento.
Derretimento das geleiras, aumento do nível do mar, períodos mais longos de estiagem — em um mundo aparentemente de cabeça para baixo, eu escolho olhar para o que ele tem de pior.
O Arquipélago de Alexander, no sudeste do Alasca, é um conjunto de milhares de ilhas em um dos raros pedaços de terra que ainda restam no planeta onde uma espessa camada de musgo cobre o chão das florestas e a diversidade de árvores inclui de pequenas mudas a anciãs gigantes. Mas eu não estava entrando naquele monomotor Cessna de quatro lugares para observar florestas de contos de fadas com pinheiros, arbustos e cedros. Minha viagem tinha como objetivo encontrar grandes cemitérios de árvores mortas ainda em pé e plantas que pudessem me dizer, através da ciência, que talvez o mundo não estivesse acabando devido ao aquecimento. No fim, aquelas árvores prestes a morrer me convenceram da nossa capacidade de enfrentar as mudanças climáticas.
Apertei o cinto, fechei as alças do meu colete salva-vidas laranja e coloquei os fones de ouvido. Avery, nosso piloto, apertou alguns botões e o rádio produziu um chiado.
"Vamos ver como está o som", ele disse.
"Muito bom", respondeu Paul do assento do copiloto. "Consigo te ouvir".
"Ouço vocês dois", confirmou Ashley à minha esquerda.
"Tudo pronto", eu disse, colocando minha câmera de lado para que eu pudesse ver os mapas plastificados sobre o meu colo.
Faltavam cinco dias para eu passar o verão medindo árvores mortas e em processo de deterioração nesse local remoto, onde os ventos são intensos e o mar bate forte contra a costa rochosa. Estávamos realizando essa viagem pela ciência e pela logística de campo; eu precisava finalizar a parte prática antes que chegasse de fato a hora de ir. O objetivo da viagem era confirmar a minha estratégia de amostragem das florestas com dois dos pesquisadores mais experientes presentes—Paul Hennon, patologista florestal, e Ashley Steel, estatística, ambos do Serviço Florestal dos Estados Unidos.
A espécie é a Callitropsis nootkatensis. Ela é conhecida por algumas pessoas como o cedro do Alasca. Outros a chamam de cipreste amarelo ou cipreste Nootka, em homenagem a Nootka Sound na Ilha de Vancouver, local onde foi documentado nos registros botânicos pela primeira vez. Os nativos do Alasca utilizam o nome cedro amarelo. O que estava em jogo para mim era o fato de essas árvores serem antigas e, apesar de serem cobiçadas por sua valiosa madeira e culturalmente reverenciadas por suas formas majestosas e misteriosas, estavam morrendo em um mundo onde as temperaturas não param de subir.
"Prepare-se para absorver tudo", disse Ashley conforme o hidroavião saía da água. Ela balançou os joelhos em sinal de ansiedade. O avião voava em direção ao oeste e pude observar a geleira azul nos arredores de Juneau diminuir na paisagem distante.
"Pense em amostragem aleatória estratificada", disse Ashley, me trazendo de volta ao mundo dos protocolos científicos.
Há dois anos na pós-graduação, já estava acostumada a traduzir a ciência. Agrupamentos, pensei, simplificando as coisas. Estamos procurando por grandes agrupamentos de árvores mortas.
Aguardei pacientemente e observei o litoral em busca dos ciprestes. Apesar de toda a preparação prévia, eu não tinha a mínima ideia de onde estava me metendo—do ponto de vista científico, físico e emocional.
Nos mapas que segurava, eu havia circulado as árvores mortas com base em diversos conjuntos de dados. O plano era sobrevoá-las. Eu poderia confirmar a real existência delas (não apenas na tela de computadores), mortas conforme sugeriam os sinais—folhagem marrom e galhos sem folhas, membros fadados à deterioração. Em algum momento, eu chegaria a um conjunto delas de caiaque e depois a pé, em companhia da minha equipe, para medir as que já haviam morrido, as que estavam morrendo e as que ainda sobreviviam.
Ainda faltavam cerca de trinta minutos para o avião chegar à Ilha de Chichagof—local onde realmente precisava dedicar toda a minha atenção. Testando minhas habilidades, analisei a rota do avião na tela do piloto, tentando relacionar a nossa localização com os mapas que estavam no meu colo e confirmar tudo com o que avistava lá embaixo. Não demorou muito para perceber que eu estava totalmente perdida, incapaz de me orientar pela tela, pelos mapas ou pela paisagem e, ainda por cima, me sentindo enjoada.
Eu abri a pequena abertura ao lado da janela, direcionando o ar para o meu rosto. Ashley estava pálida.
"Como você está se sentindo aí atrás?", Perguntou Avery pelo rádio.
"Com vontade de vomitar", relatou Ashley. "E ainda não estou avistando nenhum agrupamento".
Fechei os olhos e respirei fundo para tentar amenizar o enjoo. Quando voltei a abri-los, não precisei olhar para os mapas ou para a tela para saber onde estávamos.
"Uauuuu", exclamei pelo rádio. Estávamos sobrevoando uma longa e estreita artéria de água salgada que corre em direção à floresta. "Esse é o Estreito de Peril", eu disse.
"Estamos bem no meio dele", afirma Paul. Pelo tom da sua voz, era possível dizer que ele estava quase orgulhoso.
À esquerda, o litoral verdejante foi dividido em enseadas e canais.
À minha direita, conseguia ver as íngremes encostas cobertas com esqueletos brancos de árvores mortas—em pé como postes, ciprestes que mais se pareciam fantasmas sem folhas. Pedras enormes nas praias pareciam pequenas manchas comparado às grandes áreas compostas por árvores mortas, com suas copas de cor marrom-acinzentada.
Vistos de cima, os troncos gigantes mais se pareciam com milhares de palitos de dente enterrados na terra. Se as árvores fossem pessoas, o cenário seria de tragédia—uma epidemia que brutalmente assolou a comunidade na floresta temperada úmida do litoral, a maior ainda existente. Senti os pelos do meu braço se arrepiarem.
"Vamos obter um panorama maior", disse Paul. Avery fez o avião ganhar um pouco mais de altitude, nos permitindo enxergar mais longe.
O plano de escolher agrupamentos aleatórios a partir do cruzamento de latitudes e longitudes nos mapas—uma estratégia que pareceu viável e lógica quando eu estava no escritório—nunca iria funcionar. Mesmo que eu conseguisse atracar o meu caiaque na praia mais próxima, eu levaria dias para chegar a algumas dessas florestas—que estão longe de estradas ou até mesmo trilhas. Eu simplesmente não tinha todo esse tempo disponível. A ideia de classificar agrupamentos de árvores mortas em árvores sob estresse, árvores mortas recentemente ou árvores mortas há muito tempo também era ridícula. Impossível conseguir esse nível de detalhamento a partir de nossa visão aérea.
Criar um novo plano de amostragem assim, de uma hora para a outra, foi um grande contratempo, o que deveria ter me deixado bem mais preocupada naquele momento. Em vez disso, um nó no meu estômago me fazia pensar em outra coisa. Era aquele sentimento terrível que a gente tem quando passa em frente a um acidente de carro na estrada e percebe que provavelmente ninguém sobreviveu. Você imagina quem morreu, quem se foi para sempre, pensa nas vidas que foram destruídas. E você continua dirigindo, porque não há nada que possa fazer.
A não ser por mim e por tudo isso, não havia como seguir em frente e deixar esses cemitérios de árvores para trás, não tinha como ir para casa e não tinha como esquecer. Na época, eu não sabia, mas aquelas árvores mudariam a minha vida. Naquele momento, enquanto sobrevoávamos as árvores, elas me fizerem sentir vulnerável em relação ao nosso planeta em aquecimento de uma forma que nunca tinha sentido antes.
Há um limite para as mudanças que somos capazes de tolerar, pensei. Há um limiar e um ponto decisivo para cada espécie—incluindo a humana.
Olhei para a tela para confirmar que a enseada à nossa frente era aquela onde eu passaria o verão: Slocum Arm.
Avery desceu um pouco. Até mesmo do avião, a paisagem desoladora nos dava uma sensação estranha, como se as árvores mortas fossem placas gigantes nos advertindo sobre uma tragédia ainda pior.
Muita coisa já havia dado errado antes mesmo de eu conseguir pisar nas florestas de Slocum Arm. Porém, ao olhar para os cemitérios, eu pensei, Eu não vou desistir disso.
"Há um jeito", disse Paul. "Apenas não da forma como havíamos imaginado".
Concordei com ele—nós encontraríamos outra forma de estratificar as florestas lá embaixo. Eu já ajudei clientes a atravessarem rios turbulentos, abri trilhas nas Montanhas Rochosas e viajei sozinha durante invernos com muita neve. Eu não tinha (muito) medo da chuva ou dos ursos, e sabia que poderia superar com a minha equipe qualquer desafio científico. Como eu iria estratificar as florestas era apenas o primeiro de muitos problemas que teríamos que solucionar nos próximos anos. Eu conseguiria vencer os obstáculos e compreender os impactos dessas árvores nas comunidades adjacentes de plantas e pessoas, para descobrir se essa espécie era o canário na mina de carvão—nos alertando sobre o nosso próprio fim.
O que eu não sabia na época era que essas árvores mortas, na verdade, me dariam mais do que apenas esperança. Elas me convenceram da nossa capacidade de enfrentar as mudanças climáticas. Elas me motivaram a fazer a minha parte. Elas também me tiraram do pessimismo em relação ao futuro do nosso planeta para me deixar otimista em relação a tudo que ainda podemos fazer.
Conforme nos aproximávamos de Slocum Arm, parei de me concentrar nas árvores mortas e comecei a olhar ao redor delas. Pude ver folhas verdes nascerem de troncos quase sem vida. Questionei se aquilo era uma nova floresta se formando e quais pessoas sobreviveriam às mudanças que estão acontecendo.