Bloco gigante de gelo está prestes a se desprender da Antártida
Duas rachaduras na Plataforma de Gelo Brunt estão se aproximando. Quando se encontrarem, um iceberg com o dobro do tamanho de Manhattan ficará solto no oceano.
um BLOCO de gelo com o dobro do tamanho de Manhattan em Nova York pode se desprender da Plataforma de Gelo Brunt na Antártida praticamente a qualquer momento.
Duas grandes rachaduras na plataforma vêm avançando paulatinamente nos últimos anos. Quando finalmente se encontrarem, um iceberg com largura aproximada de 1,7 mil km² e espessura aproximada de 150 metros ficará solto no oceano — onde acabará derretendo e, como os anteriores, acrescentará mais água aos oceanos e elevará os níveis marítimos globais um pouco mais.
Não surpreende um iceberg gigante acabar se rompendo: a Plataforma de Gelo Brunt é uma das línguas de gelo mais atentamente monitoradas do mundo porque está localizada na unidade da Estação de Pesquisa Halley, um grande centro de atividades de pesquisa da British Antarctic Survey (Base da Grã-Bretanha na Antártida). Contudo ninguém sabe exatamente quando o iceberg se desprenderá.
Tampouco o iceberg é o maior a se romper dos mantos de gelo da Antártida nos últimos anos. Esse título vai para um bloco do tamanho de Delaware (aproximadamente 5,8 mil km²) que se soltou do manto de gelo Larsen-C em 2017. Mas não se deve menosprezar esse pedaço de gelo.
“A Plataforma de Gelo Brunt está situada relativamente bem ao sul em comparação com as plataformas de gelo que se partiram dramaticamente na Península Antártida”, afirma Oliver Marsh, glaciólogo da British Antarctic Survey em Cambridge, na Inglaterra, e as temperaturas atmosféricas extraordinariamente quentes que sufocaram a região ainda nem provocaram um efeito tão drástico em Brunt. “Esse fenômeno de desprendimento apenas faz parte do ciclo natural”.
A primeira linha de falha na Plataforma de Gelo Brunt, chamada de Abismo 1, existe há mais de 35 anos (os glaciólogos chamam de “abismos” as rupturas no manto de gelo que se estendem da superfície até o oceano abaixo do manto, ao passo que falhas mais rasas são chamadas de “rachaduras” ou “fendas”). Ela permaneceu relativamente estável até 2012, quando topógrafos notaram que estava começando a aumentar novamente, avançando através de uma ampla língua de gelo que se projetava sobre o oceano. Agora, está se estendendo para fora intermitentemente, aumentando algumas centenas de metros a cada semana, em média.
Entretanto, ao contrário dos dramáticos rompimentos de gelo observados nos últimos anos na Península Antártida, esse fenômeno de desprendimento provavelmente não é provocado pelo aquecimento atmosférico ou do mar.
O segundo ponto de ruptura, próximo à parte superior da imagem e observado pela primeira vez em 2016, é conhecido como a fenda Halloween. A fenda fica antes de uma série de vincos, visíveis nas fotografias de satélite, chamados McDonald Ice Rumples (Dobras de Gelo McDonald, em tradução livre). As dobras se formam quando o fundo da plataforma de gelo, que escoa bem lentamente na forma pastosa para baixo em direção ao oceano, corre sobre uma reentrância subaquática. Essa reentrância imobiliza o gelo no lugar e desacelera o fluxo, forçando o gelo que chega a se amontoar, dobrar, enrugar e, às vezes, rachar.
A extremidade final do Abismo 1 atualmente está a uma distância aproximada de 4 quilômetros das dobras de gelos. Mais cedo ou mais tarde, as duas rachaduras provavelmente devem se encontrar. Quando isso acontecer, um iceberg monstruoso começará a se afastar vagarosamente do continente. Outra opção, conta Marsh, seriam as tensões na plataforma de gelo forçarem o Abismo 1 a virar em direção ao oceano. O resultado total acabaria sendo o mesmo: o rompimento do iceberg, mas mudaria o tempo restante para o rompimento.