Garrafas plásticas podem se tornar perigosas quando expostas ao calor extremo

Quanto mais quente, mais as substâncias do plástico podem passar para o alimento ou água potável.

Por Sarah Gibbens
Publicado 29 de jul. de 2019, 07:45 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Beber água de uma única garrafa d’água exposta ao sol quente não vai fazer mal, mas ...
Beber água de uma única garrafa d’água exposta ao sol quente não vai fazer mal, mas especialistas afirmam que os consumidores devem evitar a exposição persistente a recipientes plásticos submetidos ao calor extremo.
Foto de Photo illustration by Mark Thiessen, National Geographic

Nos Estados Unidos, em 2019, o mês de junho foi o mais quente já registrado, de acordo com informações recentes da NOAA (Instituto meteorológico dos EUA), e o calor escaldante seguiu para o mês seguinte. Contudo, antes de pegar uma garrafa plástica de água para se hidratar, é melhor se perguntar se ela ficou exposta ao sol quente.

“Quanto mais quente, mais as substâncias do plástico podem se transferir para o alimento ou água potável”, afirma Rolf Halden, diretor do Centro para Engenharia da Saúde Ambiental no Instituto de Biodesign da Universidade Estadual do Arizona.

A maioria dos produtos de plástico libera uma pequena quantidade de substâncias químicas nas bebidas ou alimentos em seu interior. À medida que a temperatura e o tempo aumentam, as ligações químicas no plástico se decompõem progressivamente e há maior probabilidade de que as substâncias químicas se desprendam. 

De acordo com a FDA, as quantidades de substâncias químicas são ínfimas e não causam problemas de saúde, mas os cientistas que analisam os efeitos do plástico em nossas vidas a longo prazo afirmam que todas essas pequenas doses poderiam se acumular em grande escala.

Dia quente de verão

A maior parte das garrafas de água encontradas nos supermercados é feita de um plástico chamado politereftalato de etileno, ou PET, na sigla em inglês. É identificado com código de reciclagem um e aceito pela maioria dos programas de reciclagem.

Em 2008, um estudo realizado por cientistas da Universidade do Estado do Arizona analisou como o calor acelerou a liberação de antimônio em garrafas PET. Utiliza-se antimônio para fabricar o plástico e, de acordo com os relatos dos NIH (Institutos Nacionais da Saúde dos EUA), esse elemento químico pode ser tóxico em altas doses. Em uma temperatura amena, de 21° Celsius, os pesquisadores mediram os níveis seguros da substância química na água engarrafada. Porém, quanto mais quente estava o dia, menos tempo levava para que a água se contaminasse.

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No verão, um carro quente pode atingir temperaturas acima de 65° Celsius. Em experimentos, levou 38 dias para que as garrafas d’água aquecidas a essa temperatura em laboratório exibissem níveis de antimônio que ultrapassem as recomendações de segurança.

“Via de regra, o calor ajuda a quebrar as ligações químicas nos plásticos, como as garrafas plásticas, e essas substâncias químicas podem migrar para as bebidas contidas nas garrafas,” explicou por e-mail Julia Taylor, cientista especializada em plásticos na Universidade do Missouri.

Em 2014, cientistas identificaram altos traços de antimônio e um composto tóxico chamado BPA na água vendida em garrafas de água chinesas. Em 2016, cientistas identificaram altos níveis de antimônio na água engarrafada vendida no México. Ambos os estudos testaram a água em condições superiores a 65° Celsius, representando a pior das hipóteses.

De acordo com a Associação Internacional de Águas Engarrafadas, um grupo formado por indústrias, a água engarrafada deve ser mantida, pelos consumidores, nas mesmas condições de armazenamento que outros mantimentos.

“A água engarrafada tem um papel importante em situações de emergência. Em uma situação de risco de desidratação, não importa qual é a embalagem, mas para o consumidor comum, não há nenhum benefício em usar todas essas garrafas, afirma Halden.

E as garrafas reutilizáveis?

Garrafas d’água que podem ser usadas diversas vezes geralmente são feitas de polietileno de alta densidade (HDPE) ou policarbonato. O HDPE é altamente aceito nos programas de reciclagem (código de reciclagem número dois), mas o policarbonato é mais difícil de ser reciclado (código de reciclagem número sete).

Para deixar essas garrafas rígidas e brilhantes, com frequência os fabricantes utilizam bisfenol-A, ou BPA, um composto que vem sendo criticado por sua toxicidade. O BPA é um disruptor endócrino, ou seja, pode alterar funções hormonais normais e acarretar uma série de problemas de saúde perigosos. Alguns estudos associaram o composto ao câncer de mama.

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    A FDA proibiu o uso de BPA em mamadeiras e copos com bico para crianças, mas não encontrou evidências para sustentar restrições adicionais.

    Independentemente disso, muitos fabricantes responderam às preocupações dos consumidores e retiraram o BPA de seus produtos.

    “O fato de não conter BPA não é necessariamente sinônimo de ‘seguro’”, afirma Taylor. Ela observa que frequentemente se usa bisfenol-S como alternativa, muito embora seja “estruturalmente similar ao BPA e, em consequência, apresenta propriedades muito semelhantes.”

    Foram realizados menos estudos sobre o que acontece com a água quando expostas a altas temperaturas em recipientes reutilizáveis, mas uma pesquisa realizada vertendo-se água fervente em policarbonato indicou que ocorreu maior desprendimento de BPA.

    “A conclusão é que é melhor utilizar vidro do que plástico, sempre que possível,” afirma Taylor. “Se não for possível, a dica é manter a garrafa d’água dentro de uma bolsa ou coberta quando não estiver em uso (não deixar exposta ao sol por longos períodos) e não deixar garrafas de plástico dentro de um carro quente, já que as temperaturas sobem muito rápido em determinadas épocas do ano.”

    Qual é o panorama geral?

    Por fim, a quantidade de substâncias químicas que uma pessoa poderia consumir a partir de recipientes plásticos de alimentos e bebidas expostos ao calor não deteriorará sua saúde. No entanto, Halden afirma que deveríamos nos preocupar diariamente com a quantidade de plástico em nossas vidas.

    “Beber água de uma garrafa PET vai prejudicar sua saúde? Provavelmente não,” diz ele. “Mas o consumo de 20 garrafas por dia implica uma questão de segurança completamente diferente”.

    Ele observa que o efeito cumulativo de estarmos rodeados por plástico, nos produtos que compramos, ou por microplásticos, na água que bebemos, poderia ter um impacto maior em nossa saúde.

    Pessoalmente, Halden opta por uma garrafa d’água de metal em vez de uma de plástico reutilizável para se manter hidratado.

    “Se não quer isso no seu organismo, então não aumente o fluxo desse material na sociedade”, diz ele.

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