Como oceanos quentes potencializam furacões fatais

É desafiador conectar qualquer tempestade às mudanças climáticas, mas as tendências de aquecimento deixam cientistas preocupados.

Por Sarah Gibbens
Publicado 9 de set. de 2019, 20:30 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Olho do Furacão Dorian visto da Estação Espacial Internacional.
Olho do Furacão Dorian visto da Estação Espacial Internacional.
Foto de NASA

As mesmas águas aquecidas que atraem turistas para as Bahamas também ajudaram a sustentar uma das tempestades mais destrutivas já vistas na região.

Por mais de um dia, o Furacão Dorian ficou parado nas Bahamas, onde ele descarregou rajadas de ventos de 295 quilômetros por hora em sua velocidade máxima, despejou chuvas intensas, e inundou casas com a maré da tempestade.

O que era uma tempestade de Categoria 3 rapidamente se intensificou para uma de Categoria 5 em um intervalo de dois dias. Conforme ele passava pelas Bahamas, o mesmo sistema atmosférico conduzindo a tempestade em direção à Flórida foi interrompido, essencialmente deixando a tempestade sem ventos para impulsioná-la para frente.

O crescimento rápido foi abastecido pelo que a Nasa descreveu como “águas abastecedoras de tempestade” ao redor do sul da Flórida e das Bahamas.

Foi basicamente “muito azar”, diz Philip Klotzbach, meteorologista na Universidade do Estado de Colorado. “Aconteceu de ter um padrão incomum de direção ao mesmo tempo que era um furacão enorme.”

Conexão com as mudanças climáticas

Tempestades desastrosas e que batem recordes geralmente geram debates sobre o quanto a mudança climática pode ter influenciado o ocorrido.

Tanto Klotzbach quanto o meteorologista Brian McNoldy da Universidade de Miami dizem que conectar qualquer tempestade a enormes mudanças globais é desafiador, assim como é conectar o Furacão Dorian às mudanças climáticas.

Ao invés disso, cientistas procuram padrões para avaliar como as tempestades têm mudado com o passar do tempo.

A quarta Avaliação Nacional do Clima previu que os furacões podem se tornar mais intensos e destrutivos à medida que o clima esquenta. Os mesmos estudos sugerem que uma atmosfera quente poderia gerar ventos mais lentos, e pesquisas têm mostrado cada vez mais que condições mais quentes deixam os furacões mais lentos e mais úmidos.

Para entender o porquê, é importante perceber a conexão entre condições de água quente e furacões.

Mais quente e mais forte

Quando uma tempestade para sobre a terra, como o Furacão Harvey em Houston em 2017 e o Furacão Florence nas Carolinas em 2018, ela tipicamente enfraquece porque não tem mais a água quente para abastecê-la.

“Aquela área das Bahamas simplesmente cozinha nessa época do ano”, McNoldy diz. “Furacões amam isso.”

Ele explica que tanto a temperatura na superfície do oceano quanto a profundidade da água quente contribuem para o quão forte um furacão se torna.

“A força que um furacão pode ter depende do quanto está quente”, diz McNoldy.

Um furacão começa como um conjunto de tempestades sobre o oceano. Muitos começam na costa oeste da África quando um fluxo de jato que vai sentido o oeste chamado de Jato Africano do Leste sopra pelo Atlântico leste. As mudanças de temperatura sazonais alteram a latitude do fluxo de jato, o que leva a ventos de baixa pressão que se movem pelo ar como ondas.

Os ventos açoitam os oceanos, forçando a água a evaporar e subir para a atmosfera onde esfria, condensa, e forma nuvens de tempestade. Estima-se que 85 por cento dos maiores furacões do Atlântico nascem na costa africana.

Quando essas tempestades são expostas à água quente e ventos ocidentais suficientes, elas podem formar o que é chamado de depressão tropical, na qual uma área de ar mais seco e frio se apressa para preencher o vazio deixado pelo ar quente que sobe rapidamente.

No Hemisfério Norte, as tempestades giram no sentido anti-horário por causa do efeito Coriolis, um termo que se refere à forma em que os objetos se movem pela nossa Terra em rotação.

Sobre a água quente, a abastecedora depressão tropical irá sugar mais calor, vapor úmido de água como se fosse um canudo, tornando o sistema mais forte e condensando a baixa pressão seca para o centro. É aí que a tempestade tropical se forma. Conforme a tempestade continua a sugar o vapor da água, isso empurra mais vento para as extremidades do sistema da tempestade, fazendo com que o vento sugue mais umidade e crie um ciclo de retorno. Se mantido, o centro de baixa pressão em uma tempestade tropical formará o olho do furacão.

De acordo com a Nasa, a temperatura da superfície do oceano deve estar em torno de 26 graus Celsius para formar um furacão, e uma depressão tropical só se torna um furacão quando ela chega a ventos de 120 quilômetros por hora.

Como nós vimos com o Dorian nas Bahamas, calor irá influenciar na força que o furacão em si gira, mas os ventos atmosféricos que decidem a velocidade que um furacão será empurrado pelo oceano. Tempestades mais quentes também são capazes de despejar mais chuva porque temperaturas quentes carregam mais vapor da água.

Algumas das tempestades mais fortes que atingem a costa leste se originam da costa oeste da África e viajam pelo Atlântico. Se a tempestade encontrar um trecho de água oceânica fria, a formação natural do furacão pode desacelerar e fraquejar até a tempestade se dissipar.

É o mesmo que adicionar mais combustível a um fogo. A água quente (seja aquecida por temperaturas normais de verão ou gases de efeito estufa) deixa furacões mais fortes.

Cruz Vermelha estima que cerca de 13.000 casas das Bahamas foram destruídas ou danificadas de alguma forma pelo Dorian, e marés de tempestades que variam entre 5 e 8 metros inundaram poços de água potável, o que significa que os moradores terão dificuldades para ter acesso à água potável agora que a tempestade foi para o norte.

Meteorologistas estão observando para ver como a água oceânica quente e condições do vento irão abastecer o Dorian à medida que o furacão sai das Bahamas e sobe para a costa leste dos EUA.

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