Sete vitórias que trouxeram esperança à causa ambiental em 2020

De compromissos para produzir mais veículos elétricos a novas proteções marítimas, essas tendências podem ser um sinal do que está por vir.

Por Sarah Gibbens
Publicado 13 de dez. de 2020, 08:00 BRT
O anoitecer cai sobre as atrações naturais do Vale de Yosemite, incluindo Half Dome (no centro ...

O anoitecer cai sobre as atrações naturais do Vale de Yosemite, incluindo Half Dome (no centro à esquerda) e Nevada Fall (embaixo à direita) conforme as estrelas começam a surgir no Parque Nacional de Yosemite em 07 de julho de 2020. Depois que a covid-19 obrigou o parque a fechar por dois meses e meio, a fauna selvagem começou a explorar as áreas antes usadas pelos visitantes. O parque atualmente está aberto com serviços e instalações restritos àqueles que fazem reservas.

Foto de Apu Gomes, AFP, Getty

Em 2020, incêndios florestais assolaram a Austrália e o oeste dos Estados Unidos, furacões atingiram a América Central e a Costa do Golfo, nuvens escuras de gafanhotos pousaram sobre o Chifre da África e uma nova doença mortal se deslocou de seu hospedeiro animal aos humanos, transformando a vida que conhecíamos.

Diante das incessantes manchetes apocalípticas, não é preciso se culpar pela sensação de que o mundo natural está um pouco mais hostil — ainda que os cientistas continuem a alertar que a humanidade é o verdadeiro perigo a esse mundo. A biodiversidade ainda está em queda livre, o desmatamento na Amazônia está em ascensão e um novo relatório adverte que os planos para reduzir as emissões de carbono não estão nem perto do necessário para atingir as modestas metas do Acordo Climático de Paris — o qual, aliás, os Estados Unidos abandonaram oficialmente em 4 de novembro.

No entanto, apesar do ano difícil, houve boas notícias. Embora o governo Trump ainda insista em prosseguir com arrendamentos de petróleo no Refúgio Nacional de Vida Selvagem do Ártico, uma área em estado selvagem na encosta norte do Alasca, ao menos foi negada uma licença para a Mina Pebble no sul do Alasca, pondo um fim, na prática, a esse projeto polêmico.

Contudo algumas tendências atualmente em andamento são muito mais promissoras do que meras esperanças proporcionadas por notícias isoladas. A opinião pública sobre as mudanças climáticas continua a acompanhar a ciência, até mesmo nos Estados Unidos, e vozes antes marginalizadas e de jovens estão finalmente sendo ouvidas. O setor privado está lucrando com investimentos inteligentes que levam em consideração a questão climática. E alguns governos estão enxergando uma oportunidade única de investir grandes quantias para a recuperação de uma das piores recessões econômicas desde o século passado e o combate simultâneo às mudanças climáticas. Ambientalistas esperam que as mudanças climáticas estejam no centro das políticas do próximo governo Biden-Harris.

Nessas horas mais sombrias da pandemia, permanece um inegável senso de possibilidades. Conheça sete desenvolvimentos e tendências de 2020 que nos enchem de esperança para 2021 e o futuro.

1. As áreas verdes tiveram uma grande vitória.

Este ano, enquanto passamos grande parte do tempo isolados em casa, a natureza ganhou um novo significado como local de refúgio e entretenimento. A aprovação da Lei de Áreas Verdes dos Estados Unidos em julho foi um lembrete de que proteger os parques nacionais dos Estados Unidos é um consenso. O Congresso não havia mais destinado tantas verbas públicas a parques nacionais desde a década de 1950, muitos dos quais têm longos e caros atrasos de manutenção. A lei também prevê recursos a florestas, refúgios e futuras compras de terras. Ao todo, a lei determina um aporte de cerca de US$ 10 bilhões a terras públicas.

2. Veículos elétricos em expansão.

Na última década, carros movidos a eletricidade se popularizaram em detrimento dos movidos a gasolina devido aos avanços tecnológicos, preços mais baixos e subsídios públicos. Em 2010, havia apenas 17 mil carros elétricos nas estradas mundiais. Em 2019, havia cerca de 7,2 milhões, metade deles na China. Novos compromissos governamentais assumidos este ano podem ajudar o resto do mundo a fazer parte dessa cifra. O Reino Unido anunciou a proibição da venda de novos carros a gasolina ou diesel em 2030 e a Califórnia declarou que implantará a mesma medida até 2035 (a Noruega ainda permanece com a meta mais ambiciosa do mundo: 2025 — embora seja um mercado muito menor).

No fim de outubro deste ano, os novos carros elétricos da Volkswagen ficaram em exposição durante um evento para a imprensa. A montadora alemã gastará bilhões de dólares na produção de veículos mais ecológicos nos próximos cinco anos.

Foto de Peter Steffen, picture alliance/Getty Images

A indústria está reagindo. A maior montadora do mundo, a alemã Volkswagen, assumiu o que talvez seja o maior compromisso financeiro de 2020, declarando que gastará US$ 86 bilhões na produção de carros mais ecológicos nos próximos cinco anos. A General Motors também dedicará bilhões à produção de veículos elétricos. A Amazon se comprometeu a introduzir 100 mil veículos elétricos para fazer suas entregas até 2030 e o correio dos Estados Unidos pode incorporar veículos elétricos a sua próxima frota de caminhões de entrega.

3. Há uma luz solar no fim do túnel de combustíveis fósseis.

No início de março, disputas entre a Rússia e o enorme cartel de petróleo da Opep provocaram um excedente de petróleo no mercado mundial. Em abril, quando a pandemia interrompeu as viagens globais em um piscar de olhos, os preços do petróleo no Texas atingiram mínimas históricas a ponto de faltarem locais de armazenamento aos produtores de derivados de petróleo. Essa queda agravou as forças de mercado existentes, levando 36 empresas petrolíferas a entrar com pedidos de falência, a maior quantidade desde 2016. Grandes projetos de oleodutos, como o projeto Keystone XL, permaneceram paralisados neste ano.

Embora os preços do gás natural também tenham caído a mínimas históricas, o consumo aumentou e substituiu o carvão, que teve um declínio de 30% em sua produção nos Estados Unidos (previsões alertam que o consumo de carvão pode se recuperar em 2021).

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    Turbinas eólicas e painéis solares coletam energia renovável em Desert Hot Springs, na Califórnia. Um número recorde de parques eólicos e solares foi instalado este ano.

    Foto de Ben Horton, Nat Geo Image Collection

    As energias renováveis estão em franco crescimento em todo o mundo. No primeiro semestre de 2020, a geração de eletricidade por energia eólica e solar aumentou 14% e, pela primeira vez, representou quase 10% de toda a eletricidade. Também nos Estados Unidos, a geração de energia renovável cresceu em 2020, um aumento aproximado de 5% em relação a 2019. Os Estados Unidos instalaram um número recorde de parques eólicos e solares e um dos motivos foi a proximidade do vencimento de créditos fiscais.

    Para cumprir as metas climáticas, especialistas afirmam que é necessário um crescimento das energias renováveis a um ritmo ainda mais acelerado. O presidente eleito Joe Biden prometeu incentivos a essas energias.

    4. Wall Street pressionada.

    Antes mesmo da covid-19, Larry Fink, presidente da BlackRock (a maior gestora de investimentos do mundo) alertou que os investidores teriam que passar a considerar as mudanças climáticas em breve. Um relatório publicado em fevereiro mostrou que a maioria dos mais de 400 investidores entrevistados estava avaliando os riscos climáticos em suas decisões de investimentos.

    Nos últimos meses, todos os seis maiores bancos dos Estados Unidos — como o JPMorgan Chase, o Bank of America e o Wells Fargo, entre outros — declararam que não financiariam a exploração de petróleo no Refúgio Nacional de Vida Selvagem do Ártico, apesar das fracassadas tentativas do governo Trump, que está de saída, de acelerar os arrendamentos de petróleo na região. Depois de emprestar trilhões de dólares à indústria de combustíveis fósseis por anos, o JPMorgan Chase anunciou em outubro que passará a investir em alternativas para ajudar o mundo a cumprir as metas estabelecidas pelo Acordo Climático de Paris. Segundo o relatório da Bloomberg publicado no mês passado, investimentos climáticos estão em voga entre a elite.

    Enquanto Joe Biden se prepara para tomar posse, os grandes bancos esperam mais escrutínio às repercussões de seus atos sobre as mudanças climáticas. O presidente eleito afirmou que emitirá um decreto executivo exigindo que as empresas de capital aberto divulguem suas emissões e como podem afetar as mudanças climáticas. No mês passado, o Reino Unido anunciou exigências de transparência semelhantes.

    5. As baleias, que há tanto tempo precisam de ajuda, mostraram sinais de recuperação.

    Nas águas perto da Geórgia do Sul, ao norte da Antártica, os cientistas avistaram mais baleias-azuis do que antes do fim da caça comercial de baleias no início do século 20. Cinquenta e cinco foram avistadas este ano, após 50 anos de raros avistamentos nas mesmas águas.

    As baleias-azuis são os maiores animais da Terra e, segundo a Comissão Internacional de Baleias, foram caçadas praticamente até a extinção. Eles estimam que quase 300 mil foram mortas na primeira metade do século 20, aproximadamente a mesma população estimada antes do início da caça. Atualmente, há uma estimativa de 2,3 mil indivíduos no Hemisfério Sul.

    Nas mesmas águas, houve uma recuperação muito mais drástica de baleias-jubarte, praticamente reconstituindo as populações anteriores à caça. Os cientistas também notaram sinais de esperança para as baleias-francas-austrais (porém as baleias-francas-do-atlântico-norte tiveram um destino mais triste).

    A maioria dos países respeita a proibição da caça às baleias imposta pela Comissão Internacional de Baleias, porém, no início deste ano, o Japão, a Noruega e a Islândia ainda insistiam nessa prática. Contudo, no início de maio, a Islândia indicou que suas poucas empresas baleeiras podem fechar em breve, enchendo os ativistas contrários à caça de esperanças de que o mundo possa em breve caçar sua última baleia.

    6. Mais atenção aos oceanos.

    Na semana passada, 14 nações anunciaram que adotariam um manejo sustentável de 100% de suas águas costeiras até 2025, protegendo uma área de oceano equivalente ao tamanho da África. Cada um desses países prometeu combater a pesca predatória, investir na redução da poluição e reservar 30% de suas águas territoriais a reservas marinhas de proteção até 2030. Os países participantes são Canadá, México, Japão, Austrália, Quênia, Gana, Noruega e Portugal. Juntos, abrangem 40% das áreas costeiras do mundo.

    O território britânico ultramarino de Tristão da Cunha é considerado uma das ilhas habitadas mais remotas do mundo. Este ano, o governo do Reino Unido se comprometeu a proteger mais de 670 mil quilômetros quadrados das águas circundantes da ilha.

    Foto de Page Chichester, Image Professionals GmbH/Alamy Stock Photo

    Embora não integre esse acordo, o Reino Unido anunciou, no início de novembro, que o país está protegendo quase sete milhões de quilômetros quadrados de oceano em todo o mundo. Sua última zona de proteção marinha é formada por 670 mil quilômetros quadrados de águas preservadas em torno do remoto território britânico de Tristão da Cunha, arquipélago no sul do Oceano Atlântico.

    7. O mundo vislumbra um mundo mais limpo.

    Pode chamar de “antropausa” — apelido dado pelos cientistas à paralisação global na atividade humana quando a covid-19 começou sua marcha em todo o mundo e nos obrigou a interrompermos tudo. Em março, as viagens aéreas despencaram para 50% de seu movimento em março de 2019, o maior declínio na história recente, de acordo com a Associação Internacional de Transporte Aéreo. Houve uma redução drástica no tráfego de automóveis nos Estados Unidos e em diversos outros países. Regiões da Índia normalmente cobertas pela poluição atmosférica puderam enxergar a Cordilheira do Himalaia pela primeira vez.

    1º de abril de 2020 no centro de Los Angeles. Enquanto as autoridades municipais imploravam aos residentes que ficassem em casa para conter a transmissão de covid-19, o infame e congestionado tráfego urbano parecia ter desaparecido. As atividades humanas em todo o mundo foram tão reduzidas no segundo trimestre de 2020 que até menos atividade sísmica foi detectada pelos cientistas.

    Foto de David McNew, Getty Images

    “A natureza está se recuperando!”, exclamou o mundo (embora a frase logo tenha se transformado em uma piada da internet).

    Embora uma pandemia que adoeceu milhões e destruiu meios de subsistência certamente não seja a melhor maneira de tornar o planeta mais saudável, ela nos mostrou o que estava ao alcance com uma ação ambiciosa e decisiva.

    A pandemia também ofereceu aos cientistas uma oportunidade sem precedentes: a chance de estudar ecossistemas na ausência de pessoas, um controle que permitiu avaliar o impacto humano com mais precisão. Até mesmo os oceanos ficaram em silêncio, um alívio à fauna marinha para os ruídos gerados pela humanidade.

    Para mais fontes de inspiração, veja 10 descobertas científicas e 10 vitórias para a fauna que podem ter passado despercebidas neste ano.

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