Trabalho essencial – a Salvador que não parou na pandemia
Pescadores, feirantes, encanadores, ambulantes, seguranças, motoristas – série de retratos homenageia os moradores da capital baiana que não tiveram escolha e seguiram ativos durante toda a crise sanitária.

Pascoal Estevão, 66 anos, tem um pequeno estande onde vende bananas na Feira de São Joaquim, o mais importante mercado popular de Salvador. "Por causa da pandemia, muitos vendedores fecharam suas lojas e estandes. Quem quer trabalhar nessas condições? Mas eu não tenho alternativa. Eu não posso ficar em casa. Trabalho aqui há 40 anos e só tenho este pequeno quiosque de frutas". A Feira de São Joaquim, principal mercado de abastecimento de Salvador, nunca fechou durante a pandemia. Pela alta e constante aglomeração, houve muitos casos de contaminação entre feirantes e fregueses. Confira a reportagem completa.
Crispiniano da Silva Natividade, 51 anos, é pescador e também pedreiro. “Trabalho com construção há muitos anos”, comenta, “mas agora está fraco, ninguém quer ter trabalhadores em casa, então eu só pesco. Peixe, ou vendo ou como".
Ivanildo Pereira, 47 anos, conhecido por Salu Blackie, é técnico de esgoto no Mercado de São Joaquim, o maior mercado de abastecimento da cidade. "As pessoas consideram meu trabalho uma coisa suja. Agora, espero que entendam como isso é importante. Eu uso máscara e protejo meus cabelos rasta com saco plástico, mas quem realmente me protege é Ogum.”
Alex Santos de Oliveira, 32 anos, vende coco na Estrada do Coco. "Fui pescador, garçom de restaurante, mecânico, motorista, pedreiro e eletricista. Sei fazer de tudo, sou um ‘sete ferramentas’, como se fala aqui. Antes da covid-19, trabalhava numa barraca na praia, praticamente nasci na praia."
Renato Araújo, 39 anos, é um artesão hippie que vive nas ruas de Salvador com seus dois galos, vendendo bijuterias e pinturas. "Trabalho como artesão há 20 anos, fazendo colares, braceletes e outras coisas. Eu amo meu modo de vida, mas agora está muito difícil. Às vezes, passo o dia na rua sem falar com ninguém."
Adroaldo Souza, 26, é catador informal de lixo em Brotas, bairro da região central de Salvador. “Meu ganho caiu pela metade nessa pandemia. Antes, eu chegava a ganhar uns 25 reais por dia, hoje apenas 10 reais. Está tendo menos gente na rua, então é menos lixo."
“Este trabalho trouxe minha vida de volta. Estava desocupada e deprimida antes de trabalhar aqui”, conta Rosilene de Sousa Oliveira, 55, funcionária da cooperativa Camapet, que há 20 anos processa material reciclável. “Não tem muitas opções de trabalho para as mulheres da minha idade.” Dos 21 funcionários da Camapet, 11 são mulheres. “Nem todos os homens gostam de levantar pesos”, brinca ela. Com a pandemia, o fluxo de material reciclável diminuiu bastante, e a Camapet tenta não demitir funcionários.
Wilson dos Santos, 45 anos, trabalha na construção e manutenção de rodovias e estradas para uma empresa terceirizada pelo município de Salvador. "Com a chegada do corona, o trabalho para nós aumentou. As ruas e estradas ficaram mais vazias, há menos carros e ‘buzus’ [ônibus, na gíria baiana], então aproveitamos, especialmente durante o lockdown, para fazer nosso trabalho mais rápido."
Vivaldo Santos, 49 anos, é funcionário de uma empresa de segurança na Pituba, um bairro de classe média de Salvador. "As ruas estão vazias, especialmente à noite, e eu tenho que ter mais cuidado ainda."
Ana Paula Cruz, 41 anos, trabalha no Acarajé da Cira, localizado em Itapuã, região turística famosa pelas praias. Cira, que faleceu em dezembro do ano passado, foi uma das mais famosas baianas de acarajé do Brasil. No último ano, o Acarajé da Cira fechou várias vezes por causa dos lockdowns, mas reabriu recentemente.
Maria do Socorro Andrade, 54 anos, é motorista de ônibus. "Estou nessa profissão há 18 anos. Meu marido estava com problemas financeiros na época e descobri que uma empresa de ônibus estava contratando motoristas. Então eu fui, fiz o teste e eles me contrataram. Tenho muito orgulho de ser motorista”, comenta ela. “Todos os dias acordo entre quatro e cinco da manhã e fico no trânsito por seis horas. Percebo que com a covid-19 as pessoas estão mais gentis, sempre vejo alguém dando uma máscara para aqueles que não têm e compartilhando álcool gel.”
Mário Ribeiro, 47 anos, trabalha vendendo carregadores de telefone e outros objetos nas redondezas do Terminal Rodoviário de Salvador. "Eu trabalho neste semáforo há 20 anos, mas agora está complicado."
Aguinaldo de Souza (à esquerda), 31 anos, Aidil Lopes (no centro), 33, e Jaqueline Sousa, 30, são funcionários da Limpurb, empresa de limpeza urbana de Salvador. Todos os três trabalham nos arredores da orla de Salvador, próximo ao bairro de Itapuã. Jaqueline conta que o ofício é difícil. “Nessa época de coronavírus, ainda mais”, diz ela. “Todos os dias acordamos ao amanhecer e nesta época do ano temos muita chuva. Mas pelo menos estamos trabalhando perto do mar e isso ajuda um pouco, certo?"
Augusto Santos, 35 anos, vende galos e outros animais para rituais de candomblé na Feira de São Joaquim. "Trabalho como sempre. O fluxo não diminuiu. Em tempos de crise, as religiões atraem mais pessoas ainda. Elas precisam.”
Tiago Dantas, 34 anos, entrega comida por aplicativos. Todos os dias, percorre entre 30 e 40 km de bicicleta. Na orla da cidade, pedalando, tento abordá-lo, mas ele está apressado. “Desculpe, não posso parar. Tenho muitos pedidos e a chuva está atrasando as entregas."
Vanda Maria Lacerda, 71 anos, tem um pequeno estande de frutas na Feira de São Joaquim. "Trabalho aqui desde os 20 anos, ou seja, há 50 anos. Nunca tinha visto um mercado tão vazio antes, mas vamos conseguir sobreviver ao coronavírus.”
Edson Manuel de Jesus, 54 anos, é pescador nas praias de Itapuã, zona norte de Salvador. "Sou pescador há mais de 35 anos. Gosto de pescar siri por que é mais divertido do que pescar peixe. Não fico parado e me movimento o tempo todo. Sou também operador de máquina, mas com a covid-19 não há muito trabalho. Então estou pescando para comer.”
Lelis do Rapé, 73 anos, tem uma banca onde vende ervas e plantas curativas. "Eu trabalho com plantas e ervas desde que era adolescente. Aqui em Salvador, temos uma antiga tradição de plantas curativas que vem das culturas indígena e africana."
Lázaro dos Santos, 54 anos, tem uma banca de peixes. "Normalmente, há muita gente aqui, comprando peixe. Há muitos vendedores de peixe e todos nós trabalhamos bem, mas agora as pessoas têm medo de que as bancas fiquem lotadas e, veja, é por volta do meio-dia e ainda tenho muito peixe não vendido."
A mulher trans J. L., 27, é trabalhadora do sexo na orla da cidade. "Antes da pandemia, eu tinha cerca de dez clientes por noite, agora só quatro ou cinco. Felizmente, tenho clientes fiéis que continuam vindo. A maioria das minhas colegas não está trabalhando, algumas voltaram, mas a maioria está em casa agora. Eu não.”
Reinaldo Cardoso, 60 anos, vende frutas e verduras na rua. "É um grande caos, meu amigo. Nas favelas, muitas pessoas não têm nada para comer. Pelo menos eu tenho algo para sobreviver."
Tarssio Gomes, 28 anos, é vendedor de panos no trânsito, perto de um shopping. "Estava desempregado e com o começo da pandemia comecei a vender panos na rua. Vi que dava certo e estou aqui todo dia desde cedo. Estou orgulhoso do meu trabalho e da minha cor."
Josenilson Santos de Oliveira, 45 anos, é segurança privado na Pituba, um dos bairros de classe média de Salvador. "Não há muita diferença do que era antes da covid-19. Há menos gente na rua, mas nada mudou."
Carlos Roberto de Jesus, 60 anos, vende flores na mesma sinaleira há 23 anos, próximo à Universidade Federal da Bahia. "As vendas diminuíram bastante. Felizmente tenho uns clientes fiéis que sempre compram flores e me ajudam."
