Milhares de pessoas vivem nessas antigas cavernas na Espanha

As cavernas de Sacromonte e Guadix, em Granada, são ocupadas há séculos. Veja como é a vida lá nos dias de hoje.

Por Alexandra Genova
fotos de Tamara Merino
Publicado 3 de set. de 2018, 16:12 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Judith, menina de 12 anos que mora em Guadix, caminha na parte de cima de uma habitação nas cavernas. A região é lar de residentes subterrâneos há centenas de anos.
Foto de Tamara Merino

Durante muito tempo, as cavernas serviram como abrigo para pessoas do mundo inteiro. No sul da Espanha, as formações rochosas foram primeiramente usadas como refúgio contra as fortes tempestades e contra os predadores. Depois, ofereciam proteção contra a perseguição religiosa e racial. Agora, as estruturas são o lar de comunidades singulares, donas de um comedido orgulho, que trocaram a vida moderna pela solidão serena das montanhas.

Para a fotógrafa chilena Tamara Merino, que fotografa moradores de cavernas do mundo todo, é a história e a relação pura que existe entre a paisagem e seus habitantes que mais lhe interessam. "Sempre tive fascínio pela forma como os humanos se relacionam com a terra e com o meio ambiente e a forma como isso afeta a vida deles", diz Merino.

Na segunda parte de seu atual projeto — a primeira parte levou a fotógrafa até Coober Pedy, cidade australiana produtora de opalas —Merino passou duas semanas na região de Andaluzia, na Espanha, para documentar as histórias de quem vive nessa área interiorana repleta de cavernas. “A coisa mais importante foi não ter nenhum preconceito”, conta ela. “Gosto de sentar com as pessoas, ouvir as histórias delas. Divido as minhas histórias com elas também”.

O céu escurece sobre a entrada de uma casa-caverna em Benalúa, vila das montanhas do sul da Espanha.
Foto de Tamara Merino

Na província de Guadix, lar de aproximadamente 2 mil casas subterrâneas, ela conheceu moradores que continuam a vida agrícola da mesma forma de 500 anos atrás. "Eles ainda moram com os animais dentro das cavernas", afirma Merino.

Mais para frente no vale, as cavernas do Sacromonte, ou Monte Sagrado, ficam acima da vasta cidade de Granada, onde existe um caldeirão de culturas e etnias. O território mais isolado da região alta da montanha é ocupado principalmente por invasores ilegais, muitos deles também são imigrantes sem documentação. Já a parte baixa é o lar de moradores legalizados que se refugiaram para a vida nas cavernas por motivos ambientais e culturais, segundo Merino.

A porta de entrada de uma caverna levemente projetada para fora de uma parede rochosa no Sacromonte. Muitas dessas cavernas existem onde há um vácuo jurídico, permitindo uma ocupação fácil e, às vezes, ilegal.
Foto de Tamara Merino

Sacromonte é a terra natal do flamenco espanhol, dança criada pela comunidade dos gitanos, ou romani, da Espanha. Muitos dos membros da comunidade, como Henrique Amaya, continuam a viver nas cavernas como uma forma de honrar a cultura.

"Nasci dentro de uma caverna com animais e predadores", diz Amaya, cuja família mora nas cavernas de Sacromonte já há seis gerações. Seus ancestrais foram os criadores do flamenco zambra, apresentado pela primeira vez naquelas cavernas há mais de 500 anos.

Amaya começou a dançar quando tinha apenas três anos de idade. Para ele, dançar flamenco e recitar a poesia gitana num local com tanta história pessoal cria uma poderosa ligação com seus antepassados. “É uma sensação de pureza e frescor”, ele diz. “É como ir até uma cachoeira às 4 horas da manhã e colocar a cabeça dentro d'água”.

Mbacke sentado na cama em sua casa no Sacromonte, onde vive há cerca de dois anos.
Foto de Tamara Merino

Tocuato Lopez também é morador das cavernas desde que nasceu; sua família está nas cavernas de Guadix há quatro gerações. As cavernas oferecem abrigo do insuportável calor do verão e, mais importante que isso, dão um senso de comunidade enraizada. Apesar de ter crescido na pobreza — a irmã e ele costumavam caminhar mais de 4 quilômetros até a cidade vizinha para pedir comida — ele tem grande afeição pela casa dele.

"Tenho muito orgulho de ser da caverna e de ainda morar nela", diz o pai de quatro filhos. “Morrerei na caverna".

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