Transporte-se para Dubai, a cidade mais extravagante do Oriente Médio

A indomada diversidade de Dubai faz dela uma das cidades mais cosmopolitas do mundo.

Por Jim Krane
fotos de Nick Hannes
Publicado 4 de dez. de 2018, 07:30 BRST, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
O Global Village, em Dubai, é um parque multicultural bom para compras e entretenimento.
O Global Village, em Dubai, é um parque multicultural bom para compras e entretenimento.
Foto de Nick Hannes

O que acontecerá com o Oriente Médio quando a demanda por petróleo secar? A região poderá ficar parecida com Dubai.

Conhecemos Dubai como a capital financeira ultra globalizada dos Emirados Árabes Unidos, uma cidade-estado extravagante com arranha-céus e ilhas artificiais. Mas Dubai costumava ser uma cidade petroleira.

Em 1975, o petróleo era responsável por dois terços do PIB de Dubai. Desde então, a contribuição do petróleo para a economia diminuiu. Hoje em dia, é quase nula.

E o emirado não sofreu com isso. Dubai se reinventou como um centro comercial, de turismo, financeiro e imobiliário. Durante o processo, a cidade se tornou a primeira economia de sucesso pós-petróleo do Oriente Médio.

Jovens árabes consideram Dubai um modelo para a região: uma sociedade islâmica tolerante, diplomaticamente neutra, desenfreadamente capitalista e gritantemente autocrática.

O governo não ortodoxo de Dubai não é para aqueles de coração fraco. Os experimentos de desenvolvimento da cidade trouxeram riquezas e transformaram o emirado em um nódulo global de comércio e lazer. Mas esse processo transformou Dubai em uma cidade de transição e, simultaneamente, em um mosaico de culturas.

Isso se deve à maioria de seus três milhões de moradores serem imigrantes econômicos de curto prazo.

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    Passageiros a bordo do cruzeiro MSC Musica pegam sol no convés. O cruzeiro leva os viajantes pelo Golfo Pérsico e Golfo de Omã.
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    Números governamentais mostram que apenas 8% dos residentes da cidade são cidadãos dos Emirados Árabes. Os esmagadores 92% restantes são estrangeiros, provenientes da maioria dos países do mundo. Os expatriados de Dubai literalmente construíram a cidade e administram suas operações cotidianas. Mas leis rígidas de residência significam que, para eles, Dubai é um lugar para se morar, mas não é seu lar.

    Essa diversidade indomada de Dubai faz dela uma das cidades mais cosmopolitas do mundo. A população está sempre em constante atualização. É melhor pensar nela em termos de fluxo, e não de linhagem. Ondas de indianos e libaneses emigrantes são substituídas por marés de birmaneses, nepaleses e norte-coreanos. É um novo paradigma.

    “A cidade deixou de ser um local. Ela se tornou uma condição”, escreveu o arquiteto da Universidade Americana de Sharjah, George Katodrytis.

    Um jardineiro rega as palmeiras já murchas em um estacionamento.
    Foto de Nick Hannes

    O desequilíbrio demográfico de Dubai estende-se também ao gênero. A cidade é uma das metrópoles mais masculinas do mundo, com cerca de 70% de população masculina, de acordo com a contagem oficial. Em bairros de baixa renda, como o distrito operário de Sonapur, as mulheres são quase inexistentes.

    A combinação de domínio masculino e tolerância social criou um enorme mercado para a prostituição. Ilegal, mas implicitamente tolerada pelas autoridades. Os bordeis de Dubai são estratificados, assim como o restante de sua força de trabalho, com prostitutas árabes e europeias controlando os cachês mais altos.

    Mas é claro que muitos imigrantes abrem negócios legítimos. A chegada dos norte-coreanos levou um tipo de estabelecimento bastante bizarro, chamado Pyongyang Okryugwan, onde garçonetes servem ensopados escaldantes em tigelas de pedra e apresentam aos seus clientes, incluindo os residentes sul-coreanos, um jantar ao estilo norte-coreano, com danças folclóricas e karaokê.

    Trabalhadores descansam sob sombras estreitas no Water Canal, em Dubai.
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    Tudo isso é possível devido ao fato de Dubai ser uma cidade aberta que se orgulha de manter relações amigáveis com os países vizinhos e de receber quase todo mundo. Comerciantes e turistas entram sem vistos, e alguns agilizam sua passagem pelo aeroporto identificados por suas íris em portões automáticos.

    Mas Dubai também é um estado policial, onde a vigilância eletrônica não tem restrições, e onde as cadeias confinam criminosos e devedores ao lado de ativistas políticos que descordam publicamente do regime monárquico. Não se pode falar de política.

    No entanto, a liberdade social e religiosa é abundante. Dubai é tão diferente da conservadora Riyadh quanto Amsterdam é de Oklahoma City.

    A cidade é conhecida por esbanjar excessos ocidentais em um cenário islâmico. Brunches extravagantes oferecendo champanhe ilimitado coincidem com os sermões das sextas-feiras. Frequentadores de boates grotescamente intoxicados tropeçam para dentro de seus táxis enquanto ouvem a chamada para as primeiras preces da manhã. Um quinto da economia de Dubai é proveniente do turismo de praia, atividade tolerada por poucos de seus vizinhos mais conservadores.

    Garotos emiradenses jogam sinuca no Hub Zero, um centro de jogos totalmente interativo localizado no shopping City Walk.
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    Dubai também é aberta em termos de fé. A Grande Mesquita sunita em Bur Dubai divide a mesma rua com a mesquita de azulejos verdes de Ali Ibn Abi Talib Shia. Logo atrás, há um templo dedicado às deusas hindus Shiva e Krishna. A algumas quadras de distância, católicos se dirigem à missa na Igreja de Santa Maria.

    Mas críticos se perguntam se o modelo de Dubai é sustentável.

    O centro comercial pode não contar mais com seu próprio petróleo, mas ainda consome uma quantidade colossal de combustível fóssil. Já que a energia é muito barata no Golfo, pontos de ônibus oferecem ar-condicionado e piscinas são arrefecidas. Com 50 dólares no Emirates Mall, você poderá esquiar por duas horas, mesmo quando o termômetro marca 43 graus lá fora.

    Neste ponto, Dubai também foi longe demais. A cidade e seus vizinhos encontram-se na linha de frente das mudanças climáticas. Temperaturas crescentes no verão ameaçam tornar o Golfo inabitável, talvez ainda neste século. 

    Longe de tocar o alarme, Dubai continua colocando lenha na fogueira. Está em construção a enorme usina de Hassyan, a primeira do Golfo a queimar carvão. O futuro salto em emissões de carbono servirá para garantir que os moradores de Dubai permaneçam entre os emissores mais perdulários do mundo.

    Afinal, Dubai gosta de estar em primeiro lugar.

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