Veja por que todos estão indo para Portugal neste momento

Cidades com variações de altitude, praias ensolaradas, moradores simpáticos ... sem falar do maravilhoso vinho do porto. Tudo é iluminado em Portugal.

Por Anne Farrar
Publicado 4 de ago. de 2019, 10:00 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Porto, com suas seis pontes sob o Rio Douro e infinitos barris de vinho do porto, é deslumbrante no pôr do sol.
Foto de stbaus7, Getty Images

BRILHA. BRILHA tanto que chega a doer.

Mal consigo enxergar sob a luz do sol enquanto dirijo rumo ao norte a partir de Lisboa, no fim da tarde. Quando saio da rodovia e atravesso um túnel, vejo o meu destino: Porto, cintilando sob o sol ibérico. Repleta de tons desbotados e azulejos, a segunda maior cidade de Portugal é um panorama de azul, amarelo, marrom e verde. As cores me acalmam; suavizam os meus olhos e me desaceleram. Estamos em outubro e a brisa é fresca.

Fora do carro, caminhando por um emaranhado de ruas e vielas, sigo uma melodia solta no ar e encontro um homem com seu velho realejo. Avisto com ele uma galinha inquieta ciscando sementes sobre uma mesa, quase como se estivesse dançando de acordo com a música. Atrás dele, o sol projeta a silhueta contornada em luz de um músico contra uma parede. Parece uma pintura da Escola de Haia. Jogo um euro na cesta do homem, tiro uma foto e continuo andando.

Mas não vou muito longe. Eu praticamente não consigo andar um quarteirão sem parar para admirar uma parede de estuque desaparecendo nas sombras, o brilho de um telhado coberto por telhas vermelhas, o forte reflexo do sol em um lençol branco pendurado para secar. Nos últimos dois anos mais ou menos, parecia que todas as pessoas que eu encontrava me contavam que tinham acabado de voltar ou estavam indo para Portugal. Elas diziam que Lisboa era adorável; o Alentejo, atemporal; Porto, uma cidade mágica. Quando eu perguntava por que, as pessoas pareciam não conseguir explicar. "Vá ver com seus próprios olhos", diziam elas.

Agora sou uma dessas pessoas, com câmera fotográfica em mãos, em busca de algo indefinido, um entendimento duradouro, uma forma de preservar os efêmeros momentos que desfrutamos quando viajamos. A luz é filtrada através das ruas como um riacho que flui em meio ao capim. Ela prega peças, alterando o lugar onde será vista, brincando, refletindo em ângulos lindos e facetados. Clique, azulejos azuis e brancos; clique, as iguarias de uma padaria refletidas na vitrine; clique, poeira levantada por trabalhadores que restauram prédios com séculos de idade. Mais cenas: o Mosteiro da Serra do Pilar, Patrimônio Mundial da Unesco, a Igreja Gótica de São Francisco, um homem com seu chapéu verde. As pessoas se reúnem na Ponte Dom Luís I para ver o pôr do sol. Em um café às margens do rio, uma família conversa e ri enquanto aprecia o famoso bacalhau do Porto. Clique.

AO FAROL: NAZARÉ Durante o voo, sentei ao lado de um viajante que compartilhou um segredo não tão bem guardado: Nazaré é uma das cidades litorâneas mais atraentes de Portugal, com algumas das maiores ondas do mundo. A temporada de ondas vai de outubro a maio e, em novembro de 2017, o surfista brasileiro Rodrigo Koxa fez história ao surfar uma onda de 24 metros, quebrando o recorde mundial da onda mais alta já surfada.

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    O sol se põe sobre um farol construído em um pequeno forte, no topo de um penhasco em Nazaré.
    Foto de Krasnevsky, Getty Images, iStock

    Esse grande feito dos mares tem um precedente. Do início do século 15 ao século 17, os marinheiros portugueses dominavam os mares, dando início a uma era de descobertas europeias. Dom Henrique o Navegador incentivou seus capitães a irem cada vez mais longe em busca de uma rota para a Índia, criando um enorme império comercial que ia da África e da Península Arábica até a América do Sul e o Caribe. Os marinheiros navegavam guiando-se pelas estrelas e contavam com os faróis na costa para se manterem longes das rochas.

    O Farol da Nazaré funciona desde 1903 e é a melhor atração pouco conhecida da área, um assento na primeira fileira para ver o espetáculo do surfe. A partir de um local do farol, em um antigo forte, consigo ver a larga faixa de areia clara que se estica para ambos os lados do promontório. Perto de mim, surfistas com suas cervejas na mão observam as águas, planejando suas próximas ondas. Há um frescor de outono no ar, mas consigo imaginar essas areias repletas de gente no verão.

    A CIDADE DO REFLEXO: LISBOA Essa cidade é concisa como uma camisa engomada. O cheiro de pão e o chão de paralelepípedo me atraem até as passagens e ruas estreitas da capital. Um espresso, um cumprimento alegre e um pastel de nata para começar o dia. Os clientes se debruçam sobre o balcão de vidro do café Leitaria Académica e são atendidos por um único e perfeitamente hábil barista, acostumado com essa coreografia matinal.

    A Praça Luís de Camões, que leva o nome do grande poeta português, é um famoso local de encontro em Lisboa, localizada entre os vibrantes bairros do Chiado e Bairro Alto.
    Foto de Francesco Lastrucci

    Conforme caminho pelas ruas, avisto o Castelo de São Jorge como um gigante, sua presença protegida pela história. Celtas, romanos, mouros — todos chamaram esse lugar de lar em algum momento, e cada um deixou um pedaço de sua civilização para ser descoberto pelos futuros residentes. O que mais me impressiona é a vitalidade da cidade — antiga e desbotada, mas vibrante. Absorvida pela imensidão, fico deixando os detalhes passarem despercebidos. Viajo entre o passado e o presente. Consigo sair do meu devaneio quando vejo uma igreja cativante, ou observo estudantes brincarem em um chafariz, ou paro para testemunhar a troca da guarda em frente ao Palácio de Belém. De repente, estou de volta ao presente, procurando a próxima rua a ser explorada, a próxima visão a ser admirada.

    RELÂMPAGO NO HORIZONTE: ALENTEJO Vou de montanha a montanha na região do Alentejo, uma paisagem suave para os olhos e os sentidos. A luz do sol é recortada pelos sobreiros, árvore da qual se extrai a cortiça. Um touro branco, descansando no pasto, lembra uma aparição fantasmagórica. Porcos devoram uma bolota (bellota) atrás da outra, aproveitando esse sabor de nozes que confere ao presunto ibérico toda a sua riqueza. Castelos e igrejas pontilham o topo das montanhas; são relíquias do passado, mas retêm um poder no presente. É baixa estação e as ruas estão vazias, exceto por alguns homens encorpados, com rostos e mãos castigados pelo tempo, indo para casa após saírem do bar.

    Turistas tomam sol em Cabo de São Vicente, em Sagres, o ponto mais ao sudoeste da Europa.
    Foto de Anne Farrar

    Oliveiras enquadram as estradas do hotel-fazenda São Lourenço do Barrocal, nos arredores de Monsaraz. Algumas delas, conforme me contaram os proprietários, têm mais de mil anos de idade. Toda retorcida, mas ainda produzindo azeitonas, uma árvore cresce a poucos metros de uma pedra do Período Neolítico, que vigia o local há quase 5 mil anos. Eu imagino as conversas que esses dois monumentos já tiveram ao longo dos séculos. Uma tempestade se aproxima e a cidade de Monsaraz ganha um ar espectral em contraste com o céu cor de lilás. Relâmpagos são vistos e os últimos raios de sol lutam para atravessar uma enorme nuvem de aspecto ameaçador.

    A HORA DOURADA: SAGRES Estou cansada, mas o concierge do hotel me aconselha a ir. Ele faz um X no mapa e me entrega o papel. Você não vai se arrepender, diz ele. Dirijo rapidamente pela cidade de Sagres e pego a saída à direita na rotatória. Logo o terreno passa a ficar plano e vejo carros estacionados à beira da estrada. Continuo dirigindo até conseguir estacionar também. As pessoas caminham, riem e conversam animadas, conforme o vento balança seus cabelos. A energia da multidão só aumenta com a expectativa. Algo espetacular está prestes a acontecer.

    Chego ao final da estrada, ao ponto mais a oeste de Portugal. As ondas do Atlântico se quebram contra os penhascos de Sagres, gaivotas sobrevoam, indo cada vez mais alto. Paro próximo a um grupo de cerca de cem pessoas, à medida que um brilho laranja atravessa as nuvens com intensidade. Em um primeiro momento, um silêncio nos invade, conforme vemos o dia acabar no fim do mundo.  Então, alguém levanta uma taça de vinho para brindar. O céu muda de laranja para roxo e tons claros de rosa e azul. Voltamos lentamente para os nossos carros antes que as sombras devorem os últimos resquícios de luz.

    Veja como planejar uma viagem a esse destino radiante.

    O Majestic Café no Porto serve glamour, café forte e pastéis de nata há quase cem anos. Experimente as rabanadas, versão do Majestic para a French toast, com uma taça de vinho do porto.
    Foto de Jens Schwarz, Laif, Redux

    Comes e Bebes

    A culinária de Portugal resiste há tempos aos modismos da gastronomia de fusão ou molecular. Animados, restaurantes familiares oferecem ótimas variações do bacalhau, frango piri-piri e bolos super doces. Mas veja algumas recentes tentativas de agitar o paladar português.

    Belcanto/Bairro do Avillez: As duas mecas gastronômicas do grande chef José Avillez no bairro do Chiado, em Lisboa, têm um amor especial por pratos portugueses reinventados. Belcanto possui duas estrelas Michelin e pratos requintados com nomes como "A horta da galinha dos ovos de ouro". Bairro do Avillez é um espaço amplo que possui uma taberna casual, um mercado e um cabaré.

    O Paparico Em um ambiente rústico e intimista, um chef executivo da Alsácia vai além do clássico e esperado bacalhau e brinca com cores e combinações, sem deixar se ser fiel à "Portugalidade", título de um menu degustação. Em uma das principais capitais da vinicultura do mundo, a adega parece ser infinita e vale a pena passar algumas horas no bar.

    Peixaria da Esquina: Outro gênio gastronômico de Portugal, Vítor Sobral abriu tascas casuais e de preços modestos em Lisboa e no Brasil, com mais proximidade a sabores tradicionais, mas com leveza e discernimento, como o atum açoriano com manga, pimentões e poejo. Na Peixaria da Esquina, com incontáveis opções de frutos do mar, experimente a lula salteada com cogumelos shitake, feijão-fava e coentro.

    Epur: Aberto há um ano, esse restaurante é um precursor do futuro da cozinha portuguesa. O chef é francês, o cardápio e a decoração, minimalistas. Os pratos honram o nome do restaurante no que diz respeito ao foco nos ingredientes locais essenciais. Do coelho, passando pelo atum, até o premiado "porco preto", esses pratos são extremamente suaves.  Localizado em frente à escola nacional de artes, o salão também possui uma das melhores vistas da cidade.

    Majestic Café: Se você está cansado de experimentar e busca a finalização perfeita para a sua refeição — ou se está faminto após passear a tarde toda — esse palácio da confeitaria é um clássico do gênero, assim como a Pastelaria Versailles, em Lisboa. Operando há quase cem anos, ambas representam muito bem o auge das belas artes. Faça como os moradores locais: peça um pastel de nata com uma bica forte (espresso).

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