Ecoturismo: qual é a pegada de carbono das suas viagens?
A cidade de Segóvia, na Espanha, tem mais de vinte igrejas românicas dos séculos 12 e 13. Trata-se da cidade espanhola com mais edifícios deste estilo, atrás apenas de Zamora.
Apesar de ser um conceito ao qual as pessoas dão cada vez mais atenção, muitas ainda não entendem totalmente o que é a pegada de carbono e quais atitudes individuais podemos tomar para evitá-la ou compensá-la a fim de conter as mudanças climáticas.
Simplificando, a pegada de carbono consiste no impacto que geramos no planeta, ou seja, na quantidade de emissões de gases de efeito estufa produzida pelo ser humano ao realizar suas atividades diárias.
Tudo ao nosso redor tem um valor ambiental: desde ações cotidianas, como comprar comida ou tomar banho, até pegadas maiores, como aquelas deixadas por transportes ou viagens. Em todos os setores, o mundo parece caminhar lentamente para um modelo sustentável baseado na economia circular que, além de proteger o planeta, promove a geração de recursos em seu rastro.
“O ecoturismo é a única forma de viajar que não destrói o ambiente e nos permite conhecer os espaços naturais de maneira responsável, respeitando seu equilíbrio e minimizando nosso impacto ambiental”, afirma Amanda Guzmán, gerente da Associação de Ecoturismo da Espanha.
Descobrir o modo de vida e as tradições das pequenas populações locais e desfrutar do ar livre e da natureza protegendo o meio ambiente não é apenas possível, mas é uma das tendências crescentes entre os amantes de viagens. “Quando priorizamos o ecoturismo, não só conhecemos e aproveitamos os lugares que visitamos, mas também protegemos seus valores naturais e culturais, favorecendo o desenvolvimento socioeconômico da sua população local”, afirma a organização.
Vantagens de viajar de forma ecológica
De Lanzarote às marinas de Corunha, passando por Menorca, Delta do Ebro ou Serra Nevada, atualmente existem dezenas de opções para explorar a geografia da Espanha de forma sustentável, a fim de desfrutar de diversos espaços protegidos por meio da cultura, da gastronomia, de caminhadas ou do agroturismo, entre outras atividades.
“Na Espanha, somos privilegiados em razão da posição biogeográfica do país: estamos no sul da Europa, a meio caminho entre África e Europa, e isso favorece nossa região, refletindo também o cuidado que tem sido dado a áreas montanhosas naturais, assim como a atenção conferida às paisagens culturais, que na Espanha são fundamentais”, disse Joana Barber, diretora do Parque Natural de Montseny, em Barcelona, durante a apresentação do relatório Europarc 2020.
“Nos últimos anos, houve uma maior demanda pelo turismo rural. E isso é algo que temos que aproveitar, já que é uma oportunidade para estimular o turismo na Espanha esvaziada e promover esse setor”, diz Guzmán. “Entre os grandes desafios, temos a manutenção dos valores do país, que é o que o torna atrativo. Os espaços naturais não são compatíveis com as aglomerações e o turismo de massa a que nos habituamos nos últimos anos.”
Mercados voluntários de carbono
Hoje em dia, qualquer viajante pode calcular a pegada de carbono para descobrir a quantidade de CO2 emitida como consequência das suas viagens. O ritmo e a maneira como vivemos atualmente impossibilitam evitar um impacto ambiental em praticamente todas as nossas ações, por menores que sejam. No entanto, é possível compensá-las.
Uma das maneiras de compensação é o chamado mercado voluntário de carbono, por meio do qual cada pessoa pode comprar uma quantidade de créditos de carbono proporcional às toneladas emitidas para destinar a projetos de reflorestamento ou eficiência energética.
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Dessa forma, durante a transição para o uso de energias limpas e biocombustíveis, essas compensações são uma forma de atenuar a pressão ambiental exercida pelo setor de turismo, que, segundo um recente artigo publicado pela revista científica Nature, soma 8% do CO2 global que os seres humanos emitem a cada ano na atmosfera.
Entre as ferramentas que nos disponibilizam esses dados estão: CeroCO2, Carbon Footprint, Carbonocero, flight2fart.com e myclimate. A partir delas, é possível calcular, reduzir e compensar nossa pegada. Nestes sites, uma calculadora converte nossas noites de estadia em hotel ou os quilômetros percorridos em toneladas de CO2, independente se viajamos de avião, carro ou trem.
Mais conhecimento, mais consciência
Uma das grandes diferenças está no meio de transporte que usamos quando nos deslocamos. O avião é, de longe, o meio de transporte mais poluente, principalmente em viagens curtas, já que a maior emissão de CO2 ocorre na decolagem e na aterrissagem.
Em 2019, um movimento ambientalista chamado flygskam, que em sueco significa “vergonha de voar”, pedia para que as pessoas evitassem viagens de avião, algo que tem incentivado cada vez mais as empresas a oferecer opções menos impactantes ao meio ambiente, motivo pelo qual é frequente conter avisos em portais de buscas de voos que alertam para quais viagens causarão um menor percentual de emissão. Enquanto isso, o trem lidera a lista dos meios mais sustentáveis.
Quanto aos carros, tudo, desde o tipo de veículo até o estilo de dirigir, pode aumentar ou diminuir nossa pegada. Dirigir um veículo elétrico ou híbrido e andar com calma e sem grandes mudanças de velocidade faz uma grande diferença. Para mensurar isso, a Comissão Europeia desenvolveu a Green Driving Tool para tornar o transporte mais eficiente.
O ecoturismo pode ser um elemento chave na mudança da sociedade, segundo Guzmán, ao valorizar um sistema que enriquece o meio ambiente com base em nossa atividade, algo que até agora sempre teve um efeito contrário. No entanto, não só o setor de turismo conseguiu gerar uma maior conscientização entre os viajantes: é comum encontrar etiquetas nas roupas que informam sobre sua fabricação sustentável ou avisos nas embalagens dos produtos que nos alertam sobre um percentual menor de emissão envolvido em sua produção.
A opinião pública nesse sentido está crescendo e demandando opções que levem a escolha de ações mais sustentáveis ao alcance de todos. Os setores de hotelaria, energia e produção também estão questionando cada vez mais sobre o custo ambiental dos serviços oferecidos, e as empresas, aos poucos, estão implementando ações para a redução e a compensação das suas emissões.