Não é que o escalador Alex Honnold seja destemido – ele apenas aceita a morte

“Eu tenho as mesmas esperanças de sobrevivência de todo mundo. Só aceito mais fácil que vou morrer em algum momento.”

Por Simon Worrall
fotos de Jimmy Chin, National Geographic
Pessoas dizem que Alex Honnold, fotografado pendurado de um penhasco, não tem medo da morte. Ele diz que apenas tem uma grande aceitação de sua própria mortalidade.
Foto de Jimmy Chin, National Geographic
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Toda vez que faz uma escalada de parar o coração, Alex Honnold (em inglês) desafia a gravidade e a morte. Como o Homem-Aranha, ele pode escalar superfícies quase verticais, usando apenas suas mãos e seus pés. Amplamente reconhecido como o melhor alpinista Free Solo do mundo, ele tem inúmeros recordes de velocidade, especialmente no El Capitan (em inglês), em Yosemite. Recentemente, Honnold perdeu amigos próximos em acidentes fatais. Mas insiste em dizer que não é um viciado em adrenalina. Contudo, conforme explica no novo livro, Alone On The Wall: Alex Honnold And The Ultimate Limits Of Adventure (em inglês), está determinado a continuar promovendo o desenvolvimento do esporte que ama, apesar dos seus perigos.

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    Cortesía de W.W. Norton & Company

    Em uma conversa da casa de sua mãe em Sacramento, Califórnia, ele explica por que é conhecido como Alex "No Big Deal" Hannold; o que é um "dirtbag"; como enfrenta o medo da morte e o motivo de querer que a Honnold Foundation (em inglês) ajude países do Terceiro Mundo, onde ele frequentemente escala.

    Um de seus companheiros disse que você é um alpinista muito destemido, porque não tem medo da morte. Isso é verdade?

    Muita gente diz que eu não sinto medo ou que não temo a morte, mas isso não é verdade! Eu tenho a mesma esperança saudável de sobrevivência que todos têm. Eu não quero morrer. Pelo menos, ainda não. [Risos] Acho que eu apenas aceito mais fácil que vou morrer em algum momento. Eu compreendo isso, mas não quero me infantilizar no caminho. Eu quero viver de uma forma que me obrigue a enfrentar um maior nível de risco, e isso é aceitável para mim.  (Leia sobre em Honnold's closest call (em inglês).

    Seu apelido no Parque Nacional de Yosemite é Alex "No Big Deal" Honnold. De onde vem isso?

    [Risos] Meus amigos me criticam por menosprezar as dificuldades de coisas que eu já fiz. Eu digo que sou propenso a avaliações realistas. [Risos] Porque certas coisas sempre vieram fácil para mim. Na anotação sobre o Free Solo que fiz no Half Dome, coloquei apenas uma carinha triste e adicionei algumas pequenas notas sobre o que eu poderia ter feito melhor e, então, sublinhei isso. Essa é uma das minhas maiores conquistas como alpinista. Mas no momento, foi tipo: Ah, não foi tão bom assim, eu deveria ter feito melhor. 

    Existe uma gravação da sua mãe dizendo que você era "uma criança terrível de se criar." Fale sobre sua infância e como se envolveu com a escalada livre.

    Essa citação da minha mãe é muito exagerada! [Risos] O resto da minha família diz que eu era um anjo. Mas eu me lembro de uma história de quando eu era criança. Minha mãe disse para mim e para a minha irmã que não podíamos subir no telhado, mas um dia nós subimos e então saltamos de lá. Nós contamos para nossa mãe e ela disse: Bem, se vocês subiram no telhado, vão lá e limpem as calhas. [Risos] Desde então, eu sempre limpo as calhas quando estou em casa. Na verdade, estou limpando as calhas enquanto conversamos. [Risos]

    Eu sempre gostei de escalar e, quando tinha uns 10 anos, uma academia de escalada foi inaugurada na minha cidade. Então, eu comecei a escalar lá quase o tempo todo. Quando era adolescente, fiz pequenas viagens ao ar livre, mas elas eram muito limitadas porque eu não tinha um carro. Então, eu abandonei a universidade aos 19 anos e, basicamente, comecei a escalar ao ar livre o tempo inteiro.

    O que o atrai neste esporte insano que é o Free Solo?

    [Risos] Por que eu não me sentiria atraído? Eu vou aos lugares mais bonitos da Terra e desfruto de uma rigorosa atividade física que considero muito divertida.  Como não gostar disso?

    Segundo Honnold, a Fitzroy Traverse, na Patagônia, foi sua escalada mais desafiadora, porque exige todo tipo de técnica e equipamento.
    Foto de Colin Monteath, Minden Pictures, National Geographic

    Para muita gente, eu devo ser um viciado em adrenalina, mas, na verdade, escalar é uma atividade de baixa adrenalina, porque é muito lenta. É o oposto dos esportes de gravidade, como o surfe ou o snowboard. Esses são esportes de adrenalina, porque tudo acontece quando você sai do limite. Com a escalada, você deve se mover cuidadosamente, centímetro a centímetro, numa enorme muralha.

    Frequentemente, você é chamado de "dirtbag" (em inglês). Não é um insulto, né?

    [Risos] Dirtbag é apenas um termo que nós usamos, como gnarly dude no surfe. Dentro da cultura de escalada, isso significa ser alguém comprometido, que adotou uma ética minimalista para escalar montanhas.  Significa basicamente que você, por opção, não tem um lar. Na maior parte do tempo, vivo na minha van. Eu não tenho mais um relacionamento sério. Acho que estou tentando levar uma vida menos agressiva, minimizando o meu impacto no mundo. Chega a ser ridículo quanto eu viajo e contribuo com a produção de gás carbônico e tudo isso. Mas tento levar todos os outros aspectos da minha vida da melhor forma possível. Tenho poucas coisas. Não gasto dinheiro em nada além de comida e gasolina. Sou vegetariano. Não bebo, fumo ou faço qualquer coisa desse tipo. Mas isso é porque eu realmente não gosto.

    "El Cap", em Yosemite, é o desafio favorito de alpinistas free solo, como Honnold. Uma vez, ele escalou a sua face de pedra quase vertical em menos de duas horas e meia.
    Foto de Sean Gallup, National Geographic

    Seu livro conta a história de sete subidas. Qual foi a mais desafiadora e por quê?

    Fitzroy Traverse (em inglês), na Patagônia, foi a mais complicada, porque ela exige todos os tipos de técnica e equipamento. Levamos um dia só para caminhar até as montanhas e cinco para escalar. É o extremo oposto do Free Solo, que você sobe simplesmente com seus shorts, uma camiseta, uma sacola de giz e escala, usando apenas suas mãos e pés para se mover. Para a Fitzroy Traverse, você precisa de machados, crampons e todas aquelas outras coisas para gelo. Meu parceiro Tommy Caldwell e eu escalamos sua maior parte, mas o que deixa tudo tão complicado é saber quando escalar livre e quando escalar com ajuda - o que significa usar equipamentos ou cordas para trapacear em algumas seções. Também tivemos de dormir lá em cima. Quando escurecia, procurávamos uma saliência e cavávamos uma pequena plataforma de neve. 

    Recentemente, você fez uma subida recordista no El Capitan, em Yosemite, com um parceiro de escalada.  Nos fale sobre isso.

    Eu tenho entre 10 e 12 recordes em diferentes rotas do El Cap. Basicamente, você apenas escala a montanha mais rápido que qualquer um. Não há nada de particularmente difícil nisso. Muitos dos recordes de velocidade vêm por causa do jeito como eu escalo, não tanto por escalar mais rápido. Você apenas se move e transita de forma mais eficiente. A maioria dos El Cappers requer muita escalada em árvore e escalada com equipamento. A chave é saber quando e como você passa de uma para outra.

    No momento, o recorde mais importante é o “The Nose (em inglês)” de velocidade que, na verdade, eu fiz com um cara diferente, chamado Hans Warring. The Nose é a linha central do El Cap, que parece um pouco com um rosto humano. Mesmo quem não escala pode ver aquilo e ficar tipo, uau. É um paredão incrível!  Você sobe quase que completamente por um lado e troca para o outro com uma manobra chamada King Swing (em inglês).  É como um grande pêndulo, que você se balança de um lado do para o outro do The Nose.

    Dean Potter, captado em Yosemite, era outro jovem escalador que se tornou manchete. Potter morreu em maio de 2015, praticando BASE jumping em Taft Point, no Vale de Yosemite.
    Foto de Jimmy Chin, National Geographic

    Quando tempo você demorou para escalá-lo?

    Nós demoramos 2 horas e 23 minutos. Basicamente 6 metros por minuto.

    Nos últimos 2 anos, você perdeu dois amigos, Sean Leary e Dean Potter. Como essas mortes afetaram você, tanto pessoalmente quanto na sua vontade de continuar escalando no limite?

    As duas mortes me fizeram parar um pouco. Em alguns dias, você avalia sua vida e pensa sobre todas as grandes decisões da vida. Mas eu já lidei com essas questões pessoalmente. O fato de alguém sofrer um acidente não muda as decisões fundamentais que eu tomei. Mas é bom revisitar essas decisões de tempos em tempos, pensar sobre tudo isso e ver onde você está.

    Como você lida com o medo, Alex?

    Isso é interessante. Na maior parte das vezes, se alguma coisa parece realmente assustadora, eu simplesmente não o faço. Não tenho nenhuma obrigação. Eu faço isso estritamente para a minha própria satisfação. Se estou com medo, demoro mais tempo para me preparar ou simplesmente não faço. Já fiz rotas em que escalei 60 metros e me perguntei: o que estou fazendo? Então, apenas desci e fui para casa. Discrição é a melhor parte da coragem. Algumas vezes, esse simplesmente não é o seu dia. Esse é o grande lance com o Free Solo: saber quando parar.

     

    Alex Honnold, acima, tornou-se uma sensação midiática com suas escaladas que desafiam a morte. Um terço dos seu lucro vai para a Honnold Foundation, que apoia projetos ambientais em regiões desfavorecidas.
    Foto de Jimmy Chin

    Você fundou recentemente a Honnold Foundation (em inglês). Qual é a missão dela?

    A fundação surgiu porque a minha irmã é a pessoa mais socialmente consciente do mundo. Ela sempre foi uma inspiração no que diz respeito a viver com propósito e fazer boas escolhas. Ela mora em Portland, Oregon, onde faz todo tipo de trabalho comunitário. Um exemplo é um clube de bicicleta infantil, no qual crianças desprivilegiadas constroem bicicletas, aprendem a pedalar e levam o meio de transporte para casa. Mas ela não ganha nenhum dinheiro, o que parece ser comum nesse tipo de trabalho.

    À medida em que ganhei reconhecimento, tive a oportunidade de fazer comerciais. Recentemente, fiz o comercial de um carro no qual eu ganhei, em 2 dias, mais do que minha irmã ganharia em 5 anos.  Então, eu pensei: mas isso é um absurdo! Simplesmente não está certo. Aí, a ideia da fundação começou com a tentativa de corrigir essa desproporção dos esportes e entretenimento em relação a trabalhos sociais que fossem realmente úteis. Eu viajo para diversos lugares rurais, principalmente no Terceiro Mundo, então queria fazer algo que fosse bom para o ambiente e para as pessoas de lá. Isso me levou a projetos de energia caseira, como os de energia solar alternativa.

    Na África, as pessoas gastam cerca de 25% dos seus ganhos para comprar querosene para iluminar suas casas, que é cancerígeno e terrível para a saúde. Ser capaz de comprar uma lanterna solar ou um aparelho de baterias supersimples pode mudar suas vidas drasticamente. Então, tenho buscado projetos ambientais desse tipo, que podem aumentar a qualidade de vida das pessoas, mas também ajudam o meio ambiente.

    Recentemente, estive em Angola e trabalhei em um projeto de energia alternativa que excedeu nossas expectativas. Então, quero muito continuar.  Eu ainda não fiz captação de recursos. Apenas doei um terço dos meus ganhos. Mas eu devo começar a fazer uso das relações com marcas para levantar mais dinheiro no futuro.

    Outros alpinistas o chamam de "No Big Deal Honnold" (algo como "Nada Demais Honnold"), por ele diminuir suas conquistas, como esta escalada free solo no Half Dome, em Yosemite.
    Foto de Jimmy Chin, National Geographic

    Frequentemente, filósofos encontraram Deus em lugares altos. Você também passou por essa experiência?

    Definitivamente não. [Risos] Eu sou bem ateu. Mas, provavelmente, experimentei algumas das emoções que as pessoas associam à espiritualidade: a sensação de unidade com o mundo, de espanto e admiração e perceber como nós somos pequenos. Pessoas religiosas comparam isso com algum tipo de poder maior ou de Deus. Eu atribuo isso apenas à beleza da natureza e ao meu amor pelo ar livre.

    Siga Simon Worrall no Twitter ou em simonworrallauthor.com.

    Publicado originalmente em 3 de janeiro de 2016.

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