Sentindo-se cansado? Essas fontes termais relaxantes vão revigorá-lo

Conheça fontes com propriedades medicinais nos Estados Unidos, desde piscinas naturais no oeste até um histórico balneário no Arkansas.

Por Jennifer Barger
Publicado 3 de abr. de 2021, 08:00 BRT
conundrum hot springs, Colorado

A trilha até Conundrum Hot Springs, no Colorado, demora até oito horas, mas a recompensa é um mergulho em meio a vistas cênicas das montanhas.

Foto de Kris Wiktor, Alamy Stock Photo

A cerca de 90 metros de distância de Jerry Johnson Hot Springs, no estado de Idaho, é possível avistar o vapor emanando, uma névoa cinza etérea que poderia envolver um dragão ou um mago em um filme de fantasia. Os praticantes de caminhada e visitantes dirigem-se a essa parte das Florestas Nacionais de Nez Perce-Clearwater em busca de uma certa magia natural: um mergulho em fontes termais borbulhantes nas rochas, cercadas por cedros, montanhas escarpadas e, durante o verão do Hemisfério Norte, campos de flores silvestres.

Os humanos mergulham em águas naturalmente aquecidas há milênios. Os antigos romanos criaram um balneário em torno de fontes termais localizadas na região atual da cidade de Bath, na Inglaterra; os nativos norte-americanos mergulhavam nas fontes para fins medicinais e cerimoniais.

“Existem muitas lendas e relatos sobre como mergulhar em fontes termais pode curar seus males ou mudar sua vida”, afirma Jeff Birkby, especialista em energia geotérmica de Montana. “Mas, para falar verdade, simplesmente se sentar sob as estrelas dentro da água quente traz seus próprios benefícios.”

Nos Estados Unidos, é possível encontrar fontes termais na natureza em poços de imersão “naturais” ou “rústicos”, em estâncias minerais simples e em balneários que desviam ou aproveitam as águas para banheiras sofisticadas individuais ou piscinas enormes. Esses últimos geralmente estão concentrados em cidades históricas criadas em torno dos tradicionais banhos terapêuticos. Descubra a seguir por que e onde as fontes termais dos Estados Unidos borbulham e como conhecê-las.

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    Riacho Warm Springs, no leste de Idaho, alimenta as populares piscinas de imersão em Jerry Johnson Hot Springs.

    Foto de Leon Werdinger, Alamy Stock Photo

    Qual é a origem das fontes termais?

    Em todo o mundo, as fontes termais surgem quando fissuras ou rachaduras no solo permitem que a água da chuva ou neve derretida escoe até o magma terrestre. Lá, essa água é aquecida e acaba aflorando de volta à superfície em temperaturas de morna a fervente. Algumas dessas fontes termais são originadas pela atividade vulcânica; outras surgem ao longo de linhas de fissuras ou outras rupturas no solo. Gêiseres, como os do Parque Nacional de Yellowstone, são decorrentes de um fenômeno semelhante, mas periódico, enquanto as fontes escoam continuamente.

    Existem mais de 1,6 mil fontes termais conhecidas nos Estados Unidos, a maioria delas na parte ocidental do país, em estados como Idaho, NevadaNovo México Califórnia. “A crosta terrestre é geralmente mais fina no oeste do país, onde há simplesmente mais atividade sísmica e vulcânica, o que cria rachaduras ou fissuras profundas e oferece fontes locais de calor intenso”, afirma Duncan Foley, geólogo do estado de Washington e autor do livro Yellowstone Geysers: The Story Behind the Scenery (“Gêiseres de Yellowstone: os bastidores”, em tradução livre). No leste dos Estados Unidos, as fontes estão localizadas principalmente nos Montes Apalaches, onde as rochas “dobradas” pela atividade sísmica permitem a entrada e saída de água.

    Nos Estados Unidos, é fácil encontrar fontes termais “naturais” (também conhecidas como rústicas) e fontes comerciais transformadas em estâncias hidrominerais: há um mapa interativo de todas elas no site da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica do país, resultado de um projeto de catalogação feito para a antiga Administração de Progresso de Obras durante a década de 1930.

    Essa possibilidade de identificar a localização de quase todas as fontes termais do país tem sido uma dádiva a banhistas e um convite ao uso excessivo dos locais naturais. “Na época atual da internet e redes sociais, não existem mais fontes termais secretas no oeste dos Estados Unidos”, conta Birkby. “Todo mundo tem um GPS e um guia.”

    Mergulhos rústicos na natureza (e ao natural)

    Quer estejam localizadas em terras privadas ou públicas (parques nacionais ou estaduais, espaços do Serviço Florestal dos Estados Unidos), as fontes termais naturais podem sofrer com o mesmo tipo de turismo excessivo de locais de recreação como trilhas ou acampamentos. Os banhistas pisoteiam a vegetação circundante, contaminam a água com a bactéria E. coli ao defecar muito perto dela e deixam lixo dentro ou ao redor das piscinas (garrafas de cerveja quebradas são um grande problema).

    “Não é possível fazer uma festa na banheira na mata”, afirma Janet Abbott, presidente do conselho da Associação de Balneologia da América do Norte (Bana, na sigla em inglês), grupo de pesquisas e conscientização sobre águas termais. “Os banhistas precisam deixar o menor impacto possível ao chegar e sair”.

    Há sinais de que um bom manejo vem ajudando muitas fontes a permanecerem intactas. Na região de Maroon Bells-Snowmass Wilderness, no Colorado, o acampamento em torno das populares fontes Conundrum Hot Springs é limitado por um sistema rígido de licenças desde 2017. Os campistas e praticantes de caminhada também precisam enterrar seus resíduos sólidos a 60 metros de distância da água ou, de preferência, embalá-los usando um W.A.G. bag, um saco apropriado mais tecnológico e maior do que o utilizado para descartar fezes de cães.

    Em Jerry Johnson Hot Springs, o Serviço Florestal dos Estados Unidos respondeu ao aumento de visitantes instalando um sanitário sem uso de água, onde os resíduos são coletados em um recipiente e posteriormente recolhidos, no início da trilha, tornando as fontes uso exclusivo diurno (o que desestimula festas e o acúmulo de lixo) e desviando as trilhas de passeios a cavalo para longe das águas. “Houve uma redução no impacto e as mudas começaram a rebrotar”, conta Brandon Knapton, guarda florestal que supervisiona a área. “É um equilíbrio entre proteger os recursos naturais e proporcionar às pessoas uma experiência social.”

    Além de planejar não deixar rastros, um mergulho em uma fonte termal natural requer pouco mais do que um traje de banho ou até mesmo nenhum traje, já que muitas piscinas nem sequer exigem o uso de roupas. “Pesquise a área de destino: a temperatura da água, as políticas”, observa Abbott. “É preciso saber se são terras públicas ou privadas e respeitar os outros.” Traga um pouco de água potável também, pois o banho pode deixá-lo desidratado.

    Por que mergulhar?

    As temperaturas da água mineral proveniente das fontes termais variam de morna a fervente, como as belas piscinas minerais em Yellowstone que literalmente cozinham qualquer pessoa ou animal que pular nelas. A faixa de temperatura mais segura e confortável para humanos é entre 40 e 41 graus Celsius.

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      Mulher relaxa em Umpqua Hot Springs, nas montanhas ao sul do Oregon.

      Foto de Scott Sady, Alamy Stock Photo

      Tanto o calor quanto o teor mineral das fontes atraem banhistas há centenas de anos. Ao voltar à superfície, a água aquecida entra em contato com substâncias como cálcio, lítio e até arsênico, conferindo às piscinas de imersão um elevado teor mineral e, às vezes, um cheiro característico de ovo podre devido ao enxofre. O escoamento rápido das fontes garante a segurança dos banhistas em águas geralmente sem cloro, embora estâncias comerciais modernas normalmente sejam obrigadas a utilizá-lo.

      Os benefícios de saúde comprovados (alívio da dor nas costas) e fantasiosos (tratamento de gota, rejuvenescimento) obtidos com a imersão nessas águas minerais são alguns dos atrativos. “Existem elementos de superstição e reverência em torno dos banhos e da cura pelas águas”, afirma Marcus Coplin, médico naturopata de Oregon e membro do conselho da Bana. “Na Europa, os balneários de fontes termais tradicionais possuem médicos na equipe e consideram o processo um tratamento de saúde.”

      Explosão de estâncias hidrominerais

      Entre o fim do século 18 e por volta da Segunda Guerra Mundial, os benefícios de saúde percebidos e os prazeres da “cura” pelas águas estimularam a criação das cidades-balneários em todos os Estados Unidos. Elas variavam de simples paraísos de imersão de “caubóis” como Thermopolis, em Wyoming, a cidades pretensiosas com resorts que sobreviviam em função das fontes, como Calistoga, na Califórnia, ainda famosa por seus banhos de lama vulcânica quente.

      “As pessoas viajavam de trem ou carruagem a essas cidades com fontes termais, e esses destinos criaram hotéis, cassinos e outras atividades recreativas para atender as multidões”, conta Abbott.

      Desde essa época, empresários constroem piscinas simples de cimento ou de rocha ao ar livre e desviam as águas a essas piscinas (por exemplo, as pequenas estâncias ao ar livre à beira do rio em Truth or Consequences, no Novo México) ou a piscinas aquecidas gigantescas (Evans Plunge, em Hot Springs, Dakota do Sul). As estâncias e resorts mais sofisticados criaram banheiras individuais com água mineral.

      Banheira de azulejos do início do século 20 em exposição em Fordyce Bathhouse, que funciona como centro de visitantes no Parque Nacional de Hot Springs.

      Foto de KC Shields, Alamy Stock Photo

      Ao longo de Bathhouse Row em Hot Springs, construções históricas abrigam estâncias hidrominerais e outros estabelecimentos comerciais. Lamar Bathhouse, criada em 1923 (mostrada na imagem), atualmente abriga uma loja que vende equipamentos do Serviço Nacional de Parques dos Estados Unidos e produtos de banho nostálgicos.

      Foto de Sandra Foyt, Alamy Stock Photo

      “A ideia era que diferentes fontes ou minerais fossem recomendadas para diferentes partes do corpo, como mergulhar em uma piscina específica para tratamentos de doenças nos pés ou em outra piscina para aliviar as dores nas costas”, conta Tom Hill, curador do museu do Parque Nacional de Hot Springs, localizado na cidade de mesmo nome em Arkansas. “Havia milhares de visitantes que permaneciam por algumas semanas ou meses para se banhar e até mesmo beber a água.”

      O parque, que comemora seu centenário com o Serviço de Parques Nacionais em 2021, abrange matas repletas de riachos e o grandioso conjunto Bathhouse Row, onde permanecem oito estâncias hidrominerais construídas entre 1892 e 1923.

      Essas misturas arquitetônicas — em estilos como o Renascimento italiano e a arquitetura neocolonial hispano-americana — são um tributo ao florescimento da indústria de bem-estar no passado dos Estados Unidos. A Fordyce Bathhouse, criada em 1915, funciona como museu de história e centro de visitantes do parque, enquanto a Quapaw Baths and Spa e a Buckstaff Bathhouse ainda atuam como balneários.

      “Há  banhistas que nunca deixaram de mergulhar nas fontes, até mesmo com a medicina moderna ou a pandemia de covid-19”, afirma Hill. “As pessoas fazem o que sempre fizeram: vêm para a cidade, tomam banho nas águas, bebem-nas e relaxam no ar puro. Ainda que não curem nada, voltam para casa se sentindo melhor.”

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