Nascem primeiras onças-pintadas no pantanal argentino em décadas

Um par de filhotes nasceu no Parque Nacional Iberá e cientistas estão tentando interferir em suas vidas o mínimo possível.

Por Elaina Zachos
Publicado 13 de jun. de 2018, 17:54 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Nascem primeiras onças-pintadas no pantanal argentino em décadas

O destino da população cada vez menor de onças-pintadas da Argentina pode estar nas mãos de dois filhotes com uma semana de vida.

Na quarta-feira, duas onças-pintadas nasceram no nordeste do Parque Nacional Iberá, um dos maiores sistemas de pantanal de água doce nas Américas. Os filhotes até o momento não têm nome e não se sabe o sexo, mas pesquisadores estão animados quanto ao tipo de implicações que esses nascimentos podem ter na conservação de espécies ameaçadas.

“Eles passaram pelos dias mais críticos e parecem estar saudáveis e mamando muito na mãe”, conta Ignácio Jiménez Pérez, beneficiário da National Geographic e coordenador de conservação na Conservation Land Trust Argentina.

Jovens esperançosos

Onças-pintadas são os maiores felinos da América do Sul. Sociedades primitivas mesoamericanas as idolatravam como deuses e elas vagavam da Patagônia até o sul dos Estados Unidos.

Mas, hoje, o número de onças-pintadas está em cerca de 40% das estimativas históricas, e elas agora ocupam uma fração de sua distribuição original. O desflorestamento mata suas presas e deixa os felinos mais vulneráveis a caçadores, que os valorizam por sua pele, dentes e crânios. Onças-pintadas são ocasionalmente mortas por esporte e fazendeiros vão atrás delas em retaliação por matarem seus gados.

Para lutar contra essa diminuição, a Tompkins Conservation, com base na América do Sul, lançou o Programa de Reintrodução de Onças no Parque Nacional Iberá em 2011. O parque é uma área de 138.140 hectares de terras biodiversas protegidas na porção norte da Argentina. Pérez diz que essa área é o melhor lugar para reintroduzir onças-pintadas na América do Sul.

Fundos da National Geographic Society ajudaram a construir uma instalação de procriação e iniciar o programa. A organização também apoia um segundo projeto de recuperação em Iberá, para reestabelecer espécies extintas localmente, como a anta, veado-campeiro, caititu e a arara vermelha, animais tradicionalmente conhecidos por seus papeis ecológicos como pastadores, navegadores e dispersores de sementes. (Relacionado: "Por dentro do mundo secreto das onças-pintadas")

Os filhotes de onça-pintada são os primeiros nascidos nesse programa de conservação e os primeiros nascidos em décadas no Parque Nacional Iberá. Eles são filhotes de onças-pintadas emprestadas ao programa por instituições parceiras: o pai, Chiqui, nasceu na selva, mas cresceu em um centro de resgate depois que um caçador o deixou órfão. E a mãe, Tania, nasceu e foi criada em um zoológico. Pérez dia que Tania está indo bem para uma mãe sem experiência e os filhotes parecem estar saudáveis.

Apesar de terem filmado os filhotes, os cientistas não tiveram acesso a eles, porque querem ser minimamente invasivos. Eles vão esperar por mais alguns dias antes de mover a mãe para outro local para que possam ter acesso aos filhotes, disse Pérez.

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    Pelas próximas semanas, os filhotes serão desmamados de Tania, que vai começar a trazer carne para eles, conforme se adaptam à sua área de 1,6 hectare. Meses depois disso, os filhotes começarão a caçar por conta própria, praticando com capivaras e outras presas vivas.

    “Caso eles não consigam caçar sozinhos, construímos um sistema que vai lhes entregar carne sem que eles vejam humanos”, Pérez escreveu. “O fator-chave durante os primeiros meses de suas vidas é que eles aprendam a caçar sozinhos e que não tenham estímulos positivos ou negativos de humanos.”

    Dos 10 aos 12 meses de vida, Pérez diz que os filhotes serão movidos para uma área de 32 hectares para aprimorarem suas habilidades de caça. A partir daí eles podem ser soltos diretamente no Parque Nacional Iberá.

    “O maior desafio agora é ver se Tania consegue criar direito seus filhotes”, escreveu Pérez. O programa de conservação também tem uma jovem onça-pintada do Brasil que pode acasalar com outro macho para ter filhotes que não sejam parentes desses. “Esses filhotes deverão seguir os mesmos passos, provavelmente adaptados a partir do que aprendemos com os filhotes de Tania”.

    Atacando de volta

    Conhecidos como predadores de emboscada capazes de matar uma presa com uma forte mordida, onças-pintadas não evitam a água e são boas nadadoras. Elas caçam peixes, tartarugas e jacarés em rios, assim como mamíferos grandes na terra, como veados, javalis, capivaras e antas.

    Onças-pintadas são animais solitários que definem seus territórios marcando-os com restos ou arranhando as árvores. Fêmeas têm ninhadas de um a quatro filhotes, que nascem cegos e inofensivos. Filhotes aprendem a caçar com suas mães. (Veja: "Onça-pintada é registrada pela primeira vez em 57 anos no Parque Nacional de Brasília")

    Há aproximadamente 200 indivíduos na natureza argentina hoje – aproximadamente 15 mil na natureza no mundo. Elas vivem em locais isolados da mata Atlântica, no nordeste, e nas florestas montanhosas subtropicais, no noroeste do país. Outras 20 onças-pintadas vivem em uma área de vários milhões de hectares nas florestas de Gran Chaco, mas Pérez diz que esses números são tão baixos que os animais são considerados “fantasmas ecológicos” por lá.

    Pérez diz que o maior objetivo do programa é restaurar uma população estável de 100 onças-pintadas no Parque Nacional Iberá.

    “Se tivermos sucesso nisso, implicará o estabelecimento de uma terceira população de onças-pintadas na Argentina”, ele escreve. “Também implicará na expansão de distribuição atual da espécie para o sul e no aumento da população de onças-pintadas na Argentina em cerca de 50%”.

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