Predadores da noite: os segredos dos morcegos carnívoros

Um antigo templo maia no México esclarece os mistérios dos raros morcegos carnívoros.

Por Virginia Morell
Publicado 28 de jun. de 2018, 17:56 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Os segredos dos morcegos carnívoros do México
Na gaiola, um morcego-espectral fica de olho no rato que se move entre as folhas na mesa do laboratório. Uma vez que, em condições naturais, ainda não se viram tais morcegos carnívoros do México capturando presas, os cientistas agora filmam e gravam sons relacionados à perseguição.
Foto de Anand Varma

Leia a reportagem completa na edição de julho da revista National Geographic Brasil.

Eles ficam pendurados do frio teto de pedra de um antigo templo maia como um punhado de frutas cinzentas, nos fitando com olhos que reluzem dourados à luz rubra de nossas lanternas de cabeça. Famintos, dentuços, os morcegos exibem longas orelhas quase translúcidas e uma face enrugada e lupina, encimada por uma folha nasal pontuda – um apêndice útil para a ecolocalização.

Esses morcegos misteriosos na área da Reserva da Biosfera de Calakmul, na Península de Yucatán, não se congregam aos milhares como outras espécies, conta o mexicano Rodrigo Medellín, um dos principais especialistas em mamíferos voadores do seu país e professor da Universidade Nacional Autônoma, na Cidade do México. “Sempre estão reunidos em pequenos grupos. E são muito zelosos uns dos outros.”

Um morcego-espectral morde a luva de um pesquisador. Estes morcegos pesam cerca de 170 gramas e têm asas diáfanas com até 1 metro de envergadura. As garras afiadas e encurvadas nos polegares servem para imobilizar a presa.
Foto de Anand Varma

Com ajuda providencial da puçá, uma rede cônica, Medellín captura um dos seis morcegos. Depois, agarra o animal com a mão protegida por luva de couro, a fim de que pudéssemos examinar o pelo espesso e lanoso, que faz com que pareça doce e fofinho – ainda que o focinho proeminente e os dentes aguçados lhe confiram também uma aparência assustadora. O espécime é uma fêmea, que logo protesta, matraqueando com as mandíbulas. Medellín estica uma das asas e aponta para o polegar do morcego, que deixa visível uma garra pronunciada, em forma de sabre. “Isso é o que usam para imobilizar as presas”, diz o pesquisador. Pelas dimensões dessa arma, dá para notar que tais predadores noturnos não estão atrás apenas de mosquitos – e que também podem caçar pequenos roedores, passarinhos e até mesmo outros morcegos.

Da família Megadermatidae, esses carnívoros – conhecidos como falsos-vampiros, porque não sugam o sangue de animais, como os verdadeiros morcegos hematófagos – vivem nos trópicos, mas são raros: menos de 1% de todas as espécies de morcego alimenta-se de outros vertebrados.

Duas espécies são encontradas desde o sul do México até a Bolívia e o Brasil, com uma delas chegando um pouco mais ao sul, em regiões do Paraguai e da Argentina: o andirá-açu (Chrotopterus auritus), como os do templo maia, e o morcego-espectral (Vampyrum spectrum). Este último é o maior morcego do Novo Mundo, com envergadura das asas que se aproxima de 1 metro. As ameaças aos seus hábitats na mata tropical úmida vêm prejudicando os morcegos no México – e tornando urgentes os esforços para se conhecer mais sobre esses animais.

Em função do pouco que sabemos sobre os falsos-vampiros, Medellín decide capturar todos os seis e os levar para fora do templo, em sacos de algodão branco, a fim de registrar o peso e as medidas dos espécimes. São quatro machos e duas fêmeas, uma das quais grávida. Com o objetivo de entender o inter-relacionamento desses indivíduos, os pesquisadores extraem uma pequena amostra de pele da asa de cada morcego, que depois seria submetida a exames genéticos. Pequenos dispositivos de rastreamento por GPS são fixados no dorso de três dos animais (incluindo a fêmea grávida), visando a coleta de dados sobre os seus hábitos de caça.

Leia a reportagem completa na edição de julho da revista National Geographic Brasil.

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