Baleia supostamente protege mergulhadora de tubarão
Vídeo mostra o que uma bióloga acredita ser altruísmo, mas outros cientistas ainda estão céticos.
Por 28 anos, Nan Hauser pesquisa e mergulha junto com baleias. A bióloga é a presidente e diretora do Centro de Pesquisa e Conservação de Cetáceos, um grupo que já pesquisou de tudo, desde o status da população até os comportamentos de alimentação desses animais.
Mas durante uma viagem para observar as baleias nas ilhas Cook, no Oceano Pacífico Sul, em setembro passado, Hauser conta sobre um encontro diferente de qualquer outro.
Uma baleia-jubarte – mamífero marinho que pode pesar até 40 toneladas e medir até 18 metros de comprimento – se aproximou de Hauser. Durante dez minutos, ela a cutucou com a boca fechada, enfiou-a sob a barbatana peitoral e até a colocou para fora da água com seu dorso.
Hauser ficou assustada com o encontro, sem reação e sem saber o que a baleia pretendia.
"Eu estava preparada para a morte", disse ela. "Eu pensei que a baleia iria me bater e quebrar meus ossos".
Além de realizar pesquisas, Hauser estava nas ilhas Cook trabalhando em um filme sobre a natureza, por isso, no momento em que a baleia se aproximou, ela e um outro mergulhador já estavam com câmeras a postos. As imagens do ponto de vista de Hauser mostram a persistência da baleia ao tocá-la. Uma segunda baleia também pode ser vista à espreita, logo atrás da primeira.
Quando finalmente saiu d'água e subiu em seu barco, machucada e arranhada por causas dos cutucões, Hauser viu uma terceira cauda se movendo.
"Eu sabia que era um tubarão-tigre", diz ela.
Depois de ver as filmagens e refletir sobre toda a experiência, Hauser concluiu que a baleia que a cutucou provavelmente exibiu um extraordinário exemplo de altruísmo.
"Talvez o tubarão não me atacasse", diz ela, "mas [a baleia] estava tentando salvar minha vida".
HISTÓRICO DE INTERAÇÕES
A história de Hauser não foi a primeira a fazer cientistas se perguntarem se as jubartes podem mostrar sinais de altruísmo. Um estudo de 2016 na revista Marine Mammal Science analisou 115 casos nos últimos 62 anos em que baleias-jubartes interagiram com grupos de orcas.
Em conjunto, as jubartes foram vistas efetivamente protegendo seus filhotes. Mas também há exemplos de jubartes se comportando da mesma maneira para proteger outras espécies de baleias, focas e leões-marinhos.
O estudo concluiu que "o altruísmo inespecífico, mesmo que não seja intencional, não poderia ser descartado".
Os cientistas têm uma série de teorias sobre o porquê das baleias exibirem esse tipo de comportamento, observou um artigo da National Geographic de 2016 sobre o estudo.
As jubartes poderiam estar protegendo parentes em fases de vida mais frágeis; elas podem estar se lembrando de ataques pessoais passados; elas poderiam simplesmente estar respondendo a sinais de sofrimento auditivo de outras espécies, ou, talvez, fosse altruísmo.
MAS O COMPORTAMENTO É REALMENTE ALTRUISMO?
Martin Biuw, do Instituto de Pesquisa Marítima de Nowary, está cético em relação a afirmação de Hauser de que se trata de altruísmo no vídeo. Hauser especulou que a baleia era do sexo masculino, mas Biuw acredita que ela parece ser uma fêmea.
"Se for esse o caso, é possível que ela possa mostrar um comportamento protetor em relação a um ser humano (ou outro animal) se ela, por exemplo, recentemente perdeu seu filhote", disse ele.
Biuw explicou que as mudanças hormonais poderiam estimular a baleia a mostrar um comportamento protetor.
"De qualquer forma, mesmo que a situação sugerisse aos observadores no local que havia um comportamento altruísta acontecendo, não consigo ver nenhuma evidência disso neste vídeo", disse ele.
Jim Darling, pesquisador de baleias-jubarte da Fundo de Baleias Maui, não viu nenhum sinal óbvio de que a baleia estava protegendo Hauser do tubarão, mas não descartou o relato de Hauser. Ele observou que o contato amigável de baleias com mergulhadores ou barcos realmente acontece, mas que, sem mais informações, é impossível saber o que a baleia estava pensando ou se ela teria agido da mesma forma sem a presença do tubarão.
Em resposta aos céticos, Hauser diz: "Eu sou uma cientista, e se alguém me contasse esta história, eu não acreditaria nela". Mas, tendo vivido esse acontecimento, ela está convencida.