Por que um píton de estimação de 2,5 metros pode ter matado o dono

Esta espécie de cobra é capaz de matar qualquer um apenas pela contração de seu corpo

Por Sarah Gibbens
Publicado 30 de jan. de 2018, 12:13 BRST, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
píton-africana-joel-sartore
A píton-africana é a maior espécie de cobra da África.
Foto de Joël Sartore, National Geographic Photo Ark

Desde que morreu, sua foto está por toda internet.

Dan Brandon posa com sua enorme píton amarela de quase 2,5 metros chamada “Tiny” (pequenininha, em inglês) enrolada em seus ombros.

É a mesma serpente que seria encontrada no dia 25 de agosto, encolhida no canto do quarto do rapaz enquanto Brandon permanecia estirado morto no chão.

A mãe de Brandon, Babs, contou ao The Guardian que ela estava fazendo o jantar em sua casa em Hampshire, na Inglaterra, quando ouviu um estampido vindo do quarto do filho.

O relatório do legista

Brandon era um dono experiente de cobras que criava serpentes há anos. As autoridades suspeitaram quase imediatamente que Tiny era a culpada, mas foi apenas nesta semana que o legista confirmou a causa da morte.

Durante a autópsia, o patologista descobriu que os pulmões de Brandon estavam mais pesados do que o normal e que ele possuía pequenas hemorragias em um dos olhos. O médico afirmou que esses eram sinais de morte por asfixia.

Os ferimentos no pulmão e no olho poderiam ter sido causados por uma pressão aplicada ao peito ou pescoço, mas Brandon foi encontrado sem marcas em nenhuma das áreas.

Mesmo assim, o legista concluiu que a píton estava envolvida na morte do dono.

“Ele deixou claro que não acreditava em um ataque direto da serpente a Brandon, mas que o mais provável é o réptil ter se apertado em torno dele em uma forma de demonstrar carinho”, reportou o The Guardian.

Pítons-africanas

Tiny é uma píton-africana, uma espécie de cobra com uma reputação um tanto formidável. É a maior serpente da África e pode crescer até seis metros.

Em 2013, uma cobra da mesma espécie matou dois garotos no Canadá.

Pítons como essa pertencem a um tipo de serpente conhecida como constritora, que mata suas presas cortando a circulação de sangue. Diferente do que a maioria das pessoas acredita, não é comum que elas pratiquem a asfixia.

“É impossível? Não” diz Scott Boback, especialista em cobras e professor do Dickinson College, na Austrália. Ele acrescenta, porém, que “a evidência científica até agora indica que cobras não matam por asfixia. Na verdade, mostra que as serpentes matam suas presas por parada cardíaca. ”

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    Com quase 2,5 metros de músculo, constritoras podem impedir o fluxo de sangue para o cérebro em questão de minutos.

    “Seu cérebro precisa tanto de oxigênio que se ele for privado do gás, seu corpo irá simplesmente desligar”, explica ele.

    Exatamente quanto tempo leva para constritoras matarem não é conhecido, mas uma pessoa pode perder a consciência em segundos.

    “A interrupção do fluxo sanguíneo e do funcionamento do cérebro pode causar inconsciência e tornar-se letal muito mais rápido do que a asfixia sozinha”, diz Brad Moon, um explorador National Geographic que escreveu vários artigos sobre morte por constrição por cobras. Ele acrescenta que o aperto ao redor do torso pode colocar pressão em alguns órgãos internos e prejudicar veias de sangue que levam a hemorragias parecidas àquelas encontradas nos olhos de Brandon.

    “A compressão por constrição teria o asfixiado, em conjunto com os efeitos mais rápidos em consequência da interrupção do fluxo sanguíneo e, possivelmente, a disrupção do funcionamento neural”, diz Moon.

    O que Tiny estava fazendo?

    Enquanto o legista diz que Tiny poderia estar demonstrando alguma afeição pelo dono, Boback acredita que isso é provavelmente uma descaracterização.

    Aquilo que encaramos como afeição geralmente se refere ao contato físico com o objetivo de expressar algum tipo de laço emocional. Serpentes e outros répteis em geral não são conhecidos por apresentar esse tipo de comportamento.

    Boback tem outra teoria: “É possível”, diz ele, “que Tiny tenha sentido que iria cair.”

    “Elas tendem a se agarrar a coisas quando sentem que estão sem apoio”, diz ele. “Se elas estão em uma árvore e, de repente, um galho se move ou quebra, elas irão tentar segurar em qualquer lugar ao seu alcance.”

    Moon concorda que serpentes não demonstram afeição da mesma forma que gatos e cachorros.

    “Elas podem desenvolver uma familiaridade com seus donos e cuidadores, particularmente pelo cheiro, e acabam descansando sobre eles em busca de calor ou subindo em seus ombros quando estão sendo cuidadas por mera vontade de fazer algo”, diz ele.

    Ele afirma que há duas principais razões para que serpentes de estimação apertem seus donos a ponto de impedir o fluxo sanguíneo deles: elas podem fazer isso por medo ou porque sentiram o cheiro de presas, ativando seus instintos de predador.

    “Então, é possível que a cobra tenha se constringido em torno de Brandon porque se assustou ou mudou para o modo de caça”, diz ele.

    “Sabemos que grandes constritoras podem ser perigosas para as pessoas. Parece que de tempos em tempos alguém é morto por uma jiboia-constritora ou uma píton, geralmente uma cobra criada em cativeiro, mas, às vezes, também por serpentes selvagens”, explica Moon.

    Um página no site para doações JustGiving foi criada depois da morte de Brandon. A ideia é arrecadar dinheiro para ser enviado à organização WWF e para o grupo de preservação britânico Sociedade Real para a Proteção das Aves.

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