50 anos depois, chimpanzés estudados por Jane Goodall ainda revelam descobertas
Cientistas abordam quantitativamente o famoso trabalho da primatóloga sobre o temperamento do chimpanzé.
Os chimpanzés do Parque Nacional Gombe Stream, na Tanzânia, são o centro da pesquisa revolucionária de Jane Goodall. Agora, cientistas comportamentais retomaram algumas das observações originais de Goodall sobre as personalidades dos animais.
O novo estudo oferece uma nova compreensão, sugerindo que, assim como os humanos, as personalidades dos chimpanzés permanecem estáveis ao longo do tempo – uma descoberta que poderia ajudar os cientistas a testarem ideias de como nosso próprio temperamento evoluiu.
“É o grupo de chimpanzés mais famoso do mundo, e eu achei que era uma oportunidade incrível,” diz o líder do estudo, Alexander Weiss, um psicólogo da Universidade de Edinburgh.
“Estudar personalidades nos zoológicos tem suas vantagens, mas se você quiser questionar [se] a personalidade está relacionada ao sucesso reprodutivo, você não pode abordar essas perguntas em amostras de cativeiro. Você precisa ir até a selva.” (Veja o documentário revolucionário, Jane: A Mãe dos Chimpanzés, a história não contada da vida e trabalho de Jane Goodall.)
As classificações de personalidade para 128 chimpanzés – muitos dos quais Goodall estudou nos anos 60 e 70 – foram publicadas na revista científica Scientific Data (em inglês) em 24 de outubro do ano passado.
Chimpanzé canibal
As observações de campo de Goodall sobre os chimpanzés, apoiadas pela National Geographic Society, mostraram que os chimpanzés não só comem carne, como também usam e fazem ferramentas, e demonstram personalidades únicas.
Em 1973, o pesquisador Peter Buirski visitou Gombe com a permissão de Goodall para continuar o estudo de personalidade. Com base nas pesquisas da equipe de Gombe, o grupo traçou o perfil de 24 personalidades dos chimpanzés junto a dez traços comportamentais diferentes, como agressividade e alegria.
A pesquisa bem-sucedida mostrou que chimpanzés machos e fêmeas tendem a ter personalidades diferentes; por exemplo, as fêmeas confiam mais e são mais tímidas que os machos.
O grupo escolheu não incluir um caso fora da curva: uma fêmea chamada Passion, que os funcionários de Gombe disseram ser “um indivíduo perturbado, isolado, agressivo", escreveram mais tarde Buirski e um colega. Em 1975, Passion começou uma matança canibal, sequestrando e comendo pelo menos três filhotes de chimpanzés.
“A carcaça foi consumida do mesmo modo que uma presa normal é consumida, devagar e com gosto, cada bocada de carne mastigada com folhas verdes,” Goodall observou em seu livro Through a Window (Por uma Janela, em tradução livre), em 1990.
Em boa companhia
A pesquisa de 1973 estava provavelmente à frente de seu tempo; o interesse científico na personalidade animal ganhou força apenas no final dos anos 90 e começo dos anos 2000.
No meio da agitação da nova pesquisa, os cientistas que estudavam os chimpanzés em cativeiro criaram um novo questionário comportamental que inspirou Weiss e seus colegas a fazer uma nova pesquisa com os assistentes de campo de Gombe.
Em outubro de 2010, Weiss viajou pela primeira vez ao noroeste da Tanzânia e se encontrou com 18 assistentes de campo de Gombe, pedindo que classificassem as personalidades de 128 chimpanzés. Depois de oito semanas, Weiss e seus colegas coletaram mais de 11 mil respostas dos assistentes, alguns que observaram os chimpanzés do parque por 35 anos.
“Foi muito impressionante – eu sabia sobre esses assistentes de campo, tendo lido o trabalho de Jane Goodall antes,” diz Weiss. “Foi um grande privilégio que eles tiraram um tempo para nos ajudar.”
Quando Weiss e seus colegas compararam as novas pesquisas com os resultados de 1973, eles encontraram consistências nas personalidades dos chimpanzés.
Por exemplo, muitos dos macacos classificados como “sociáveis” nos anos 70 foram considerados “extrovertidos” na nova classificação. Poucos chimpanzés anteriormente classificados como “deprimidos” foram vistos agora como “agradáveis”.
Apenas o começo
Já que ambos os conjuntos de dados de Gombe são amplamente parecidos, o grupo debate que as personalidades dos chimpanzés não mudaram muito com o tempo.
Tal estabilidade, mencionada em outros estudos, poderia ajudar os cientistas a testarem como personalidades diferentes afetam o sucesso reprodutivo e outras consequências na vida das pessoas.
Essas questões são apenas um pequeno exemplo do que o conjunto de dados pode ajudar a responder – é por isso que Weiss e sua equipe lançaram seu trabalho por completo.
“Não tenho tempo suficiente para fazer tudo que pode ser feito com esses dados. Então, por que não deixar outras pessoas explorá-los?” reflete Weiss.
“Vai ser algo legal de se ver.”