Este bicho simpático é o menor tamanduá do mundo

Novas pesquisas no nordeste brasileiro buscam compreender melhor a espécie e proteger esse animal misterioso.

Por Karina Molina
fotos de Gustavo Fonseca, Rastro
Publicado 2 de mar. de 2018, 19:12 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Com menos de meio quilo, o tamanduaí é a menor espécie de tamanduá do mundo
Populações diferentes da espécie vivem na Amazônia e nos mangues e restingas do nordeste brasileiro.

Quase dois anos foi o tempo necessário para a equipe do Instituto de Pesquisa e Conservação de Tamanduás no Brasil (IPCTB) capturar o seu primeiro indivíduo de tamanduaí, o menor tamanduá do mundo. Esse mamífero de apenas 35 cm tem hábito noturno, é solitário e difícil de ser encontrado, sendo a espécie de tamanduá menos estudada. A razão está nos habitats naturais do Cyclopes didactylus: a copa das árvores e a vegetação fechada onde vivem são locais de difícil acesso.

No entanto, a equipe do IPCTB, também conhecido como Projeto Tamanduá, tem se aproximado cada vez mais do animal. Desde 2005, os pesquisadores buscam conhecer melhor os tamanduás brasileiros, trabalhando para ampliar a conscientização e a preservação dessas espécies.

Coordenado pela médica veterinária Flavia Miranda, o IPCTB iniciou as pesquisas com o tamanduaí nos estados de Pernambuco e Maranhão em 2006, e logo depois expandiu para toda a região Amazônica. A procura pelo primeiro indivíduo na Reserva Biológica do Rio Trombetas, no Pará, demorou mais de um ano para ter sucesso, mesmo com a ajuda das populações ribeirinhas locais.

O tamanduaí é um animal com fama de fantasma em alguns locais de sua ocorrência. Por ser tão pequeno e pelas pessoas não conhecerem suas características, ele é geralmente confundido com filhote de tamanduá-mirim (Tamandua tetradactyla). O desconhecimento sobre o animal sempre foi tão grande que a pesquisa de Miranda publicada em dezembro de 2017 descobriu a existência de seis novas espécies para o gênero. O estudo levou quase dez anos para ser finalizado – a equipe do IPCTB ajudou na descrição das espécies.

Nos mangues do Delta

O fotógrafo Gustavo Fonseca acompanhou a equipe de pesquisadores na busca pelo animal em uma área de ocorrência recém-descoberta no Nordeste brasileiro: a região do Delta do Parnaíba. A busca pelo animal na região de manguezais e restinga foi motivada pela falta de informações sobre a população nesses ecossistemas. O trabalho foi difícil, afinal, os manguezais do Delta do Parnaíba são ainda mais complicados de acessar que a floresta amazônica – o terreno é pantanoso e as árvores altíssimas.

Durante os trabalhos de campo, as capturas de indivíduos ocorrem para análises de saúde, coleta de material biológico e biometria completa. Também são realizadas observações e análises comportamentais do animal para entender melhor a sua interação com o habitat, sua área de vida e o uso do espaço.

Estudar a população nordestina do tamanduaí é de suma importância porque há uma lacuna entre essa e a população amazônica. Hoje, os tamanduaís amazônicos são classificados como Não Ameaçado pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês), enquanto os que habitam o nordeste brasileiro são categorizados como Dados Deficientes, devido ao baixo conhecimento sobre a espécie. A IUCN e o governo brasileiro planejam realizar uma nova avaliação do seu status de conservação.

Ecossistema ameaçado

O manguezal é considerado um dos ecossistemas mais ameaçados do país. Expansão imobiliária, instalação de grandes empreendimentos – como rede hoteleira e portos –, agricultura, criação de animais domésticos e tráfico de madeira são alguns dos problemas que afetam diretamente esses ambientes. Cada dado obtido durante a pesquisa também ajuda na preservação dos mangues brasileiros, habitat de milhares outras espécies de fauna e flora.

Apesar do desafio constante em levantar informações acerca da biologia e ecologia do tamanduaí, os pesquisadores do IPCTB seguem trabalhando. O objetivo é reunir a maior quantidade de informação sobre a misteriosa espécie e assim obter mais ferramentas para distanciar o tamanduaí do risco de extinção.

*contribuiu Júlio Viana sob supervisão de Miguel Vilela

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