Conheça o porco ameaçado de extinção e seu moicano digno de uma estrela do rock’n’roll
Quase extinto devido ao desmatamento, o porco da espécie Sus cebifrons está se recuperando aos poucos, graças aos esforços de conservação.
SE TUDO correr bem, a espécie extremamente rara Sus cebifrons, porco que exibe um moicano digno de uma estrela do rock’n’roll, voltará para a vida selvagem.
Existem apenas 300 porcos Sus cebifrons — conhecidos pelos moicanos característicos dos machos — que estão atualmente em cativeiro. Sua população selvagem é desconhecida. Antigamente encontrado em toda a extensão das deslumbrantes florestas tropicais das seis ilhas da Visayas Ocidental nas Filipinas, o suíno gravemente ameaçado de extinção agora habita pequenas áreas de somente duas das ilhas: Panay e Negros.
O desmatamento quase total ocasionado pelo corte da valiosa madeira de lei durante as décadas de 1970 e 1980 assolou a Visayas Ocidental, reduzindo o habitat da espécie para menos de 4% de seu tamanho original na Ilha de Negros e menos de 8% na Ilha Panay. Um dos porcos mais raros do mundo, o Sus cebifrons, está logo atrás do Sus verrucosus e do porco-pigmeu (Porcula salvania), cujos números também figuram em poucas centenas.
A boa notícia é que o Sus cebifrons se desenvolve bem em cativeiro. Zoológicos e outros centros de conservação em todo o mundo estão criando a espécie com o objetivo de reintroduzi-los na natureza.
Na verdade, alguns animais já podem ser soltos em locais cuidadosamente selecionados nas Filipinas ainda este ano, conta Fernando “Dino” Gutierrez, presidente do instituto de conservação filipino, Talarak Foundation, Inc., que não tem fins lucrativos e abriga 60 porcos Sus cebifrons — incluindo a subespécie (Sus cebifrons negrinus) — em seus dois centros de criação.
“Os porcos estão se desenvolvendo até melhor do que 20 anos atrás,” ele conta. Se forem soltos, “certamente irão se recuperar”.
Os animais são cruciais para o meio ambiente onde habitam, servindo como alimento para os predadores e como regeneradores de suas florestas nativas. Os Sus cebifrons oxigenam o solo por meio de enraizamento, além de comerem as frutas caídas que são muito grandes para as aves e, posteriormente, espalham as sementes em toda a floresta por meio de seus dejetos, conta Gutierrez
Popularização do porco
Na preparação para a reinserção na natureza, Gutierrez e seus colegas estão realizando pesquisas em três parques nacionais em Panay e Negros, onde a cobertura da floresta secundária aumentou nos últimos anos.
Além de identificar o habitat adequado para a reintrodução e determinar se as populações com poucos indivíduos precisam de reforços, os pesquisadores também estão em busca dos desajeitados onívoros de um pouco mais de meio metro de altura que normalmente andam em grupos compostos por um pequeno número de fêmeas e vários filhotes. (Outras espécies de javali são mais territorialistas, preferindo caminhar sozinhas.)
“O objetivo é reintroduzi-los nos mesmos locais onde foram extintos devido à caça ilegal, ou complementar as populações [existentes],” observa Johanna Rode-Margono, coordenadora do programa para o Sudeste Asiático do Zoológico de Chester, no Reino Unido. O zoológico, que abriga uma família de Sus cebifrons, apoia os centros de criação da Talara Foundation.
“A criação em cativeiro é como se fosse uma população garantida, no caso de surto de alguma doença nas áreas remanescentes,” ela acrescenta.
Para que a reinserção na natureza dê certo, os conservacionistas precisam divulgar a realidade dos Sus cebifrons.
Para isso, Gutierrez visita regularmente comunidades locais e conversa com as crianças. Para ele, é algo pessoal: ele cresceu em Negros e presenciou seus pais e avós caçando os porcos. “Ter vivenciado isso e depois vê-los desaparecer me fez querer conservar o que temos aqui na ilha”, ele conta.
Embora recentemente a espécie tenha recebido mais atenção nas ilhas, Gutierrez conta que até hoje os agricultores matam os porcos que são pegos atacando as plantações, e os animais ainda são considerados uma iguaria de carne de caça, apesar da punição rígida imposta sobre a caça ilegal.
“Também pode ocorrer cruzamento com o porco doméstico, gerando crias híbridas, o que por fim poderia levar à extinção da espécie,” acrescenta Gutierrez.
‘Sessão de fotos encerrada’
O fotógrafo da National Geographic Joel Sartore, que recentemente fotografou os Sus cebifrons em diversos locais para seu Projeto Arca Fotográfica, também deu mais visibilidade à espécie.
Em 2018, no Parque Florestal de Negros, um dos centros de criação da fundação Talarak, Sartore fotografou uma fêmea da espécie Sus cebifrons aconchegando seus filhotes.
“Fotografar a maioria dos suínos (incluindo os Sus cebifrons) é uma experiência parecida; contanto que eles não se sintam ameaçados. Eles são legais, principalmente se não houver nenhum tipo de perigo contra eles,” conta Sartore por e-mail.
“O segredo é não fazer movimentos repentinos e bruscos ou emitir sons altos, e, claro, ter bastante comida para oferecer a eles. A sessão de fotos acaba quando acaba a comida.”
No Zoo Boise em Idaho, em 2017, Sartore teve a sorte de fotografar um macho com seu penteado característico, que aparece somente na época de procriação para atrair as fêmeas. Já as verrugas dos machos servem como proteção do rosto do porco durante lutas contra machos rivais.
‘É apenas um porco’
Para a tristeza dos especialistas em porcos, as 17 espécies conhecidas de porcos selvagens são consideradas feias ou simplesmente um pedaço de bacon servido em uma refeição, conta Rode-Margono, co-presidente do Grupo Especializado em Porcos Selvagens da União Internacional para Conservação da Natureza.
“Nós achamos muito triste que as pessoas pensem: ‘É apenas um porco’”, ela conta. Pois “eles merecem tanta atenção quanto os porcos maiores e mais atraentes”.
“Toda espécie tem o direito de viver e manter o seu espaço na natureza”, diz Gutierrez.
Principalmente aquelas que exibem uma cabeleira tão moderna.