Por que orcas avós vivem tanto tempo? A resposta está nos netos

Orcas fêmeas atingem a menopausa, vivendo até os 90 anos — um mistério de longa data. Agora, novo estudo sugere que há uma razão para isso.

Por Carrie Arnold
Publicado 17 de dez. de 2019, 07:15 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Uma família de orcas emerge no noroeste do Pacífico. Os grandes golfinhos trabalham juntos durante a ...
Uma família de orcas emerge no noroeste do Pacífico. Os grandes golfinhos trabalham juntos durante a caça.
Foto de Kenneth Balcomb, Center For Whale Research

Sabe-se que a orca é um dos poucos mamíferos que atinge a menopausa. O motivo sempre foi incerto, mas, agora, novas pesquisas podem explicar por quê: as avós aumentam as chances de sobrevivência de seus netos.

Cientistas que analisaram populações de orcas por décadas no noroeste do Pacífico descobriram que orcas jovens que tinham avós eram mais propensas a continuarem vivas do que aquelas que não as tinham. Além disso, o risco de morte de um filhote aumentou drasticamente durante os dois anos seguintes após a morte de sua avó. Devido ao fato de as sociedades de orcas (também conhecidas como baleias-assassinas) serem matriarcais, é provável que as fêmeas mais velhas carreguem consigo conhecimento crucial sobre recursos alimentares, o que pode significar a vida ou a morte para seus parentes.

“O grande conhecimento e a liderança [de uma orca avó], especialmente em tempos difíceis, ajudam os filhotes”, diz Dan Franks, autor principal do estudo e ecologista evolucionário da Universidade de York, no Reino Unido.

Das regiões polares até o Equador, as orcas vivem em grupos familiares unidos de até 40 indivíduos. Os predadores trabalham juntos para caçar uma variedade de presas, de peixes a baleias, dependendo de onde vivem. Geralmente, orcas machos e fêmeas permanecem em seu grupo de origem durante toda a vida, embora ambos os sexos procurem por parceiros de outros grupos para evitar a consanguinidade. As fêmeas param de se reproduzir por volta dos 40 anos e podem viver até os 90, ao passo que os machos tendem a viver cerca de 50 anos.

Embora as orcas sejam listadas como animais que não possuem dados suficientes pela União Internacional para a Conservação da Natureza, as populações estão em declínio — incluindo as do noroeste do Pacífico, que são as orcas mais estudadas no mundo. Exposição a substâncias químicas tóxicas conhecidas como PCBs, queda na população de sua principal presa, o salmão-rei, e poluição sonora dos navios oceânicos são fatores que contribuem para o seu desaparecimento.

É por isso que esse estudo, publicado em 9 de dezembro na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences, é uma poderosa evidência para que os conservacionistas protejam as orcas de tais ameaças, diz Franks.

“A morte de uma avó que já atingiu a menopausa tem um impacto enorme no grupo familiar”, diz ele, “o que a torna um importante recurso de conservação”.

“É um trabalho realmente importante”, acrescenta Janet Mann, comportamentalista animal da Universidade de Georgetown, em Washington, D.C., que não participou do estudo. “Sabemos muito pouco sobre o papel dessas avós.”

Explicando a menopausa

Os cientistas sempre tentaram compreender os mecanismos da menopausa nas mulheres. A expectativa de vida de uma mulher ao nascer é geralmente mais longa que a de um homem. As mulheres vivem por décadas após pararem de ter filhos, ao passo que os homens podem se tornar pais inclusive no fim da vida.

“Os homens não têm menopausa. Eles ainda possuem alguns espermatozoides, mesmo em idade avançada”, diz Mann.

Do ponto de vista evolutivo, isso faz sentido — mas, uma mulher viver mais 40 anos após parar de ter filhos, nem tanto, afirma Mann.

A seleção natural aparentemente prioriza a capacidade de uma fêmea de ter o maior número possível de filhotes sobreviventes e parar de se reproduzir muito antes do fim da vida interferiria nesse processo.

Os biólogos evolucionistas desenvolveram várias hipóteses que podem explicar esse dilema. Por um lado, a menopausa pode ajudar a impedir que avós e mães concorram por recursos escassos para alimentar seus próprios filhotes. Dar à luz em idades mais avançadas também pode ser arriscado, colocando não apenas mãe e bebê em perigo, mas também os filhos que a mãe já possui.

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    Ainda, há a hipótese das avós, popularizada pela antropóloga norte-americana Kristen Hawkes e seu trabalho com os Hadza, uma etnia moderna de caçadores-coletores na Tanzânia, que argumenta que as avós contribuem para a sobrevivência de seus netos, fornecendo alimentos e cuidados com as crianças.

    A ideia é apoiada por diversos estudos, incluindo uma análise de 2004 de finlandeses e canadenses do período pré-industrial, que demonstrou que crianças que tinham avós tinham muito mais chances de atingir a idade adulta.

    As avós são importantes

    Intrigados com essa pesquisa realizada em humanos, Franks e colegas queriam ver se o efeito também se aplicava às orcas. Os cientistas analisaram mais de 40 anos de conjuntos de dados detalhando nascimentos, mortes e vários eventos na vida de duas populações de orcas que vivem perto da costa do estado de Washington e da Colúmbia Britânica.

    No total, a equipe analisou a taxa de sobrevivência de 378 “netos” e descobriu que o risco de morte de um filhote era maior quando a avó havia parado de se reproduzir e quando o filho era macho. Franks afirma que as orcas pós-menopáusicas provavelmente conseguem dedicar mais recursos a seus netos, o que tornou a morte da avó um evento especialmente devastador; o fator masculino é mais um mistério.

    O risco também foi maior quando as populações de salmão eram baixas ou moderadas, sugerindo que as avós são mais úteis em tempos de escassez.

    “Sabemos que elas lideram seus grupos familiares em áreas de busca por alimentos, especialmente em momentos de necessidade, e sabemos que elas compartilham com seus parentes mais jovens os salmões capturados”, diz Franks. “Mas suspeitamos que há mais” para ser descoberto em relação às avós e como elas asseguram a existência de suas famílias.

    E à medida que as populações de orcas do noroeste do Pacífico diminuem, “é possível que nunca cheguemos a descobrir”, observa Mann.

    “Estamos perdendo a oportunidade de entender como a menopausa evolui”, diz ela, “devido às nossas próprias ações”.

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