Coronavírus está acabando com a indústria de pele de vison na Holanda
Os Países Baixos, principal exportador de peles de vison, realizaram o abate de mais de 500 mil desses animais este mês para impedir a propagação da doença.
Em abril, o coronavírus foi detectado em visons-americanos, como o retratado nesta imagem, em 17 fazendas de peles nos Países Baixos, levando ao abate de mais de 500 mil deles.
Um dos principais países produtores de pele de vison do mundo está encerrando as atividades devido à covid-19. Duas constatações — taxas crescentes de infecção entre visons em fazendas de peles holandesas e a descoberta de que os animais podem ter transmitido o vírus a dois funcionários da fazenda — forçaram os Países Baixos a acelerar o plano vigente de encerrar sua indústria de pele de vison previsto para 2024. O parlamento votou por banir a criação de visons o mais rápido possível e indenizar os proprietários das fazendas de pele.
Ainda não há uma nova previsão de fechamento, tampouco foi estipulada a indenização devida aos proprietários, mas grupos ativistas que trabalham em prol do bem-estar animal esperam que o encerramento ocorra até o fim do ano. O abate já foi iniciado. Desde 5 de junho, quase 600 mil dos 800 mil visons dos Países Baixos foram abatidos — mediante uso de gás monóxido de carbono — para ajudar a controlar a propagação do vírus, de acordo com a Fur Europe, grupo do setor com sede em Bruxelas que representa criadores e fabricantes de peles.
Os Países Baixos são o quarto maior produtor de peles de vison, atrás da China, Dinamarca e Polônia, de acordo com a Humane Society International. Em 2013, em resposta a preocupações com o bem-estar dos animais, o governo aprovou o fechamento de mais de cem fazendas que abasteciam a indústria de peles de vison do país, avaliada em US$ 100 milhões, mas os proprietários de fazendas de pele tinham até 1 de janeiro de 2024 para encerrar suas atividades.
Os animais criados em fazendas de peles normalmente ficam em pequenas gaiolas de arame e, em geral, milhares deles são abrigados juntos. Há muito tempo, grupos ambientalistas e de bem-estar animal criticam a indústria, considerando-a cruel. Muitos outros se opõem à produção de peles com base em princípios morais e éticos, argumentando que se trata de um luxo, não uma necessidade, para a maioria das pessoas.
Desde 2000, pelo menos oito países europeus proibiram a criação de animais para o uso de peles. Agora, preocupações com a saúde pública deram aos críticos um novo motivo para se opor a essa indústria.
“É um grande avanço. A matança de animais para uso de peles nos Países Baixos está finalmente chegando ao fim”, disse a parlamentar holandesa Esther Ouwehand em comunicado sobre a votação do parlamento. “Além de moralmente questionável, a criação de visons agora é simplesmente insustentável porque representa uma ameaça à saúde pública.”
Coronavírus em fazendas de peles
O coronavírus foi detectado pela primeira vez em duas fazendas de vison nos Países Baixos, em abril. Testes realizados pelo governo posteriormente revelaram que o vírus estava presente em pelo menos outras 15 fazendas de peles holandesas. Pesquisas adicionais lideradas pelo governo sugeriram que as fazendas de vison foram o primeiro local conhecido de uma provável transmissão do coronavírus de animais para humanos.
Na semana passada, a Dinamarca — onde foram detectadas infecções por coronavírus em duas fazendas de vison — anunciou planos para abater 11 mil animais em uma fazenda afetada e realizar amostragens em mais de uma centena de outras. O país tem cerca de 19 milhões de visons em 1,5 mil fazendas de peles. Ao contrário dos Países Baixos, a Dinamarca não aprovou uma legislação destinada a fechar sua enorme indústria de produção de peles de vison, mas começou a eliminar gradualmente seu mercado de peles de raposa em 2009 (com planos de encerrá-lo por completo até 2023).
Nenhum outro país produtor de peles de vison anunciou planos para abater os animais ou reduzir sua criação. Mick Madsen, chefe de comunicações da Fur Europe, diz que não está preocupado com o futuro da indústria de peles de vison e minimiza o papel desses animais na transmissão do coronavírus. “É possível ver as medidas de biossegurança [em outros países] funcionando”, diz ele. “As fazendas de vison não são responsáveis pela disseminação do coronavírus. São as pessoas que estão transmitindo o vírus.”
Eliminação gradual das peles
De acordo com a constituição holandesa, para se tornar lei, um projeto de lei aprovado pelo parlamento deve ser promulgado pelo rei e pelo ministro ou secretário de estado relevante. Se a decisão parlamentar for aprovada, o que a Humane Society International afirma ser provável, as autoridades tratarão dos detalhes específicos, como a previsão de encerramento e a indenização devida aos proprietários das fazendas.
“Não acreditamos que possa se tornar lei sem que os proprietários das fazendas de peles concordem”, e isso dependerá do valor oferecido na indenização, diz Madsen.
Fornecer auxílio aos proprietários de fazendas de peles afetados pela pandemia tornou-se uma questão politicamente controversa porque os Países Baixos já planejavam eliminar a indústria até 2024 — sem qualquer indenização. Destinar o dinheiro da população a um setor que alguns parlamentares dizem ser antiético alimentou um acalorado debate no parlamento.
Muitos países europeus encerraram suas indústrias de peles nos últimos anos, muitas vezes em resposta a preocupações com o bem-estar animal. Áustria, Bélgica, Luxemburgo, Eslovênia, Croácia, República Tcheca, Eslováquia e Reino Unido proibiram a criação de animais para o uso de peles e a Irlanda está no processo de proibir a produção de peles. Recentemente, foram feitas propostas legislativas para banir a criação de animais para uso de peles na Bulgária e Lituânia.
A Alemanha, apesar de não ter promulgado uma proibição desse tipo, exige o cumprimento de exigências rigorosas em relação ao bem-estar animal, o que torna a indústria economicamente inviável, diz PJ Smith, diretor de política de moda da Humane Society International. Todas as fazendas de peles restantes no país foram efetivamente forçadas a fechar no ano passado.
A oposição à criação de animais para uso de peles não se limita à União Europeia, diz Smith. “Próximo às fronteiras da União Europeia, a Noruega, Sérvia, República da Macedônia e Bósnia e Herzegovina também proibiram a produção de peles.” E com o fechamento da indústria de criação de visons nos Países Baixos, quatro milhões de peles a menos estarão no mercado.