Salmão corre risco de extinção no Canadá. Como os turistas podem ajudar?

A província da Colúmbia Britânica, no Canadá, está recorrendo à piscicultura e a cardápios alternativos de frutos do mar para tentar salvar os salmões-reis e os salmões-vermelhos.

Por Johanna Read
Publicado 29 de ago. de 2021, 08:00 BRT
Fishing Bear

Um urso-de-kermode abocanha um salmão na floresta tropical de Great Bear, na província de Colúmbia Britânica, no Canadá. Ursos, baleias e povos indígenas dependem do salmão do Oceano Pacífico, mas a espécie está ameaçada. Com isso, alguns restaurantes pararam de servir pratos feitos com salmão e os cientistas estão estudando maneiras para proteger a espécie.

Foto de Cristina Mittermeier, Nat Geo Image Collection

Na Colúmbia Britânica, o salmão tem presença garantida nos cardápios da maioria dos restaurantes e nas lojas de souvenirs. Mas, agora, chefs e conservacionistas afirmam que, para salvar os peixes da região, que estão ameaçados de extinção, o consumo de salmão precisará ser interrompido.

“Cerca de metade das populações de salmão do Pacífico estão em declínio”, afirma Michael Meneer, da Fundação de Salmões do Pacífico (PSF, na sigla em inglês), uma organização sem fins lucrativos dedicada à preservação dos peixes. Algumas espécies de salmão estão classificadas como ameaçadas de extinção. A pesca de salmão do Oceano Pacífico em 2020 teve a média mais baixa em todo o mundo desde 1982.

Manter a população de salmão do Oceano Pacífico saudável e prolífera beneficia outros animais selvagens, como ursos e baleias, além de favorecer as plantas. Veja medidas que restaurantes canadenses e grupos conservacionistas estão tomando e como os turistas podem ajudar.

Salmão ameaçado

É possível encontrar cinco espécies diferentes de salmão nadando nas águas da Colúmbia Britânica, a província no extremo oeste do Canadá. As espécies de salmão presentes variam desde os pequenos e mais abundantes salmões-rosados até os grandes salmões-rei, espécie mais ameaçada. Os salmões nascem em riachos e rios de água doce — muitas vezes nas profundezas do interior montanhoso da província — e nadam para o Oceano Pacífico, onde ganham 99% de seu peso adulto. Depois eles retornam aos riachos onde foram incubados para desovar e morrer, dando início ao ciclo novamente. Mas está ficando cada vez mais difícil para o salmão completar esse ciclo.

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    Salmões-rosados, uma das cinco espécies de salmão da Colúmbia Britânica, fotografados migrando para o local de desova na floresta tropical de Great Bear.

    Foto de Ian McAllister, Nat Geo Image Collection

     

     As ameaças ao salmão e seus habitats são incontáveis e estão se intensificando — mudanças climáticas, poluição, patógenos provenientes de fazendas com produção de peixes em tanques-rede, pesca excessiva, além da interferência de construções humanas em locais de desova. As populações de salmão do Oceano Pacífico estão em declínio e os processos migratórios dos salmões estão prestes a colapsar. “Precisamos fazer tudo o que pudermos em favor do salmão selvagem”, diz Jason Hwang, da PSF. Isso significa lutar contra as mudanças climáticas, restaurar habitats e administrar cuidadosamente as frágeis populações de salmão.

    A escassez de salmão afeta as culturas indígenas e todos os humanos, plantas e animais que dependem direta ou indiretamente desses peixes. O salmão também é uma espécie-chave, que sustenta “mais de 130 espécies diferentes de flora e fauna na Colúmbia Britânica”, afirma Meneer.

    A ecologista Megan Adams pesquisa a relação simbiótica do salmão com plantas e animais. Ela explica que os ursos precisam dos nutrientes do salmão para serem saudáveis e se reproduzirem. As florestas, por sua vez, acabam absorvendo os nutrientes dos restos que os ursos não comem. “O salmão é incrivelmente generoso”, diz Adams. Depois de viajar milhares de quilômetros em mar aberto, “eles voltam para casa, em ambientes de água doce, para desovar, trazendo com eles todos os nutrientes marinhos que acumularam ao longo de seu ciclo de vida”.

     As orcas, que estão ameaçadas de extinção, também dependem da dieta de salmão. Existem apenas 74 orcas que habitam a região sul e cerca de 300 orcas no norte, nas águas que margeiam a província da Colúmbia Britânica, o Alasca e o estado de Washington. Favoritas dos observadores de baleias, cada orca ingere cerca de 25 quilos de salmão-rei por dia. Mas a escassez de salmões-rei está levando as orcas a passarem mais tempo caçando. Por esse motivo, cientistas e observadores de baleias têm presenciado raras aparições de orcas. Agora é mais fácil avistar alguma das 400 orcas que também vivem na costa do Oceano Pacífico, mas se alimentam de mamíferos como focas, que por sua vez também se alimentam de salmão e outros peixes.

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        Indígena iúpique aparece secando salmão em Tuluksak, no Alasca. Muitos povos indígenas dependem dos peixes para alimentação e também os usam em cerimônias.

        Foto de Design Pics Inc., Nat Geo Image Collection

        O salmão sempre foi essencial para os povos indígenas da costa do Pacífico, onde hoje são territórios dos Estados Unidos e do Canadá. O salmão é usado para fins alimentares, sociais e cerimoniais. Os peixes simbolizam não pegar mais do que o necessário, e os métodos tradicionais de pesca indígena ancestral são inerentemente sustentáveis. Para alguns povos indígenas, as cerimônias de devolução dos ossos de salmão à água são uma importante conexão espiritual com suas histórias e culturas. As Primeiras Nações do Canadá ainda reivindicam os direitos de pesca que perderam quando os europeus colonizaram sua terra séculos atrás.  

        Devemos comer salmão?

        Embora consumir salmão de cativeiro em vez de salmão selvagem pareça uma solução para o meio ambiente, não é exatamente assim. “A criação de salmões em tanques-rede representam um risco real para o salmão selvagem do Oceano Pacífico”, afirma Andrew Bateman, da PSF. Parasitas e vírus oriundos de criações em tanques-rede podem infectar os peixes selvagens. Isso limita o crescimento do salmão na natureza e a capacidade de escapar de predadores, sobreviver, se reproduzir e, por fim, de alimentar a floresta. O Canadá está desativando as fazendas de peixes oceânicos, mais recentemente nas ilhas Discovery, que é um importante habitat das orcas, perto de Vancouver.

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          Salmões-vermelhos mantidos no gelo em um mercado de peixes em Steveston, na Colúmbia Britânica.

          Foto de Design Pics Inc., Nat Geo Image Collection

          Há um movimento crescente de conscientização sobre os aspectos negativos da piscicultura em tanques-rede. O Canadá fechou 60% de sua pesca comercial de salmão do Oceano Pacífico no meio deste ano e está revogando as licenças de psicultura para diminuir permanentemente a quantidade de pesca selvagem permitida.

          Mais restaurantes estão cozinhando outros tipos de peixes mais sustentáveis, como o bacalhau da espécie Ophiodon elongatus ou o peixe-carvão-do-pacífico. Em cidades turísticas populares, como Vancouver, Victoria, Tofino e a região de Okanagan, centenas de chefs ostentam o selo da Ocean Wise em seus menus de frutos do mar.

          Embora a Ocean Wise não ofereça um certificado de conservação, o programa recomenda frutos do mar que são mais resistentes às pressões da pesca e criados de forma a limitar os danos ao habitat e pescas acidentais. A lista de 275 páginas de frutos do mar  leva em consideração não apenas espécies específicas de peixes, mas também onde, quando e como são capturados. 

          O resort Nimmo Bay Wilderness, na floresta tropical de Great Bear, na Colúmbia Britânica, parou de servir salmão em seu restaurante para ajudar a salvar os peixes.

          Foto de All Canada Photos, Alamy Stock Photo

          Alguns chefs e hotéis foram mais radicais e retiraram totalmente o salmão de seus cardápios. Na remota floresta tropical de Great Bear na Colúmbia Britânica, o resort Nimmo Bay Wilderness parou de servir salmão em 2020. Agora, a chef Linnéa LeTourneau prepara pratos com frutos do mar locais e sustentáveis, como atum-branco e camarões locais. Até agora, ela diz que a reação dos visitantes — e de moradores das Primeiras Nações — é positiva: “a atitude é vista como um bom começo para ajudar a educar as pessoas sobre a revitalização dos sistemas fluviais”, afirma LeTourneau.

          Peixes para o futuro

          As fazendas de piscicultura em sistema de recirculação também podem ajudar. A primeira operação de salmão desse tipo na Colúmbia Britânica, em Kuterra, no nordeste da Ilha de Vancouver, cria peixes em tanques alimentados por água de poço em circulação contínua que é desinfetada por meio de luz ultravioleta. O salmão produzido em Kuterra está no cardápio de alguns restaurantes sofisticados da Colúmbia Britânica.

          No entanto, a lucratividade das fazendas de peixes não é garantida. O biólogo e ambientalista Brett Favaro alerta que esse tipo de piscicultura “consome mais energia e usa muita água, então é necessário precaução”.  

          “A pesca pode ser terrivelmente prejudicial”, diz Favaro, mas “também pode ser um empreendimento bastante sustentável”. Isso significa que ainda não há problema em ir ao Canadá e pescar seu jantar por conta própria. Você pode ajudar a proteger os salmões contratando um guia local, evitando comer o salmão-rei e adquirindo o Selo de Conservação de Salmão da PSF para sua licença de pesca, que custa C$6. Esse selo permite consumir os peixes pescados, e todo o dinheiro arrecadado é direcionado a projetos de conservação de salmão indígena e de organizações ambientalistas de base. Os melhores guias de turismo sabem tudo sobre a saúde dos padrões migratórios dos peixes e conhecem todos os regulamentos de sustentabilidade que devem ser seguidos

          Ao tomar as decisões certas, é possível ajudar a garantir que o salmão continue a alimentar os ursos e baleias da região e, com o tempo, volte aos cardápios dos restaurantes. “O salmão provou várias vezes que pode se recuperar se as condições oferecidas forem adequadas”, observa Favaro. “Se cuidarmos dos salmões, eles vão cuidar de nós.”

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