Arara-azul: descubra os três grupos geneticamente distintos da ave símbolo do Brasil
Um belo exemplar de Arara-azul (Anodorhynchus hyacinthinus) pousada em uma árvore em Corumbá, no Mato Grosso do Sul.
A arara-azul (Anodorhynchus hyacinthinus) é uma ave nativa da região neotropical, sendo encontrada na América do Sul, basicamente concentrando-se ao sul do rio Amazonas, ou seja, em boa parte do Brasil. Dentro desse território, as araras-azuis vivem em uma variedade de habitats, incluindo florestas, o Cerrado e savanas de palmeiras, como o Pantanal. É o que explica a Animal Diversity Web (ADW), enciclopédia online mantida pelo Museu de Zoologia da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos.
O Pantanal – atualmente com sua vegetação bem comprometida por conta de diversas queimadas – é um habitat particularmente importante para as araras-azuis, proporcionando um oásis para as aves, diz a ADW. Porém, não é só nesse bioma onde se pode ver a arara-azul: em uma pesquisa do Instituto de Biociência da Universidade de São Paulo (USP) ficou comprovado que existem três grupos distintos de araras-azuis no país.
Conheça melhor essa bela ave, que segue marcada como uma espécie “vulnerável” para a extinção pela lista vermelha da União Internacional para Conservação da Natureza (Iucn) e descubra quais são os três diferentes grupos dessas aves símbolo do país.
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Na foto, uma arara-azul na mata do Pantanal (próxima da cidade de Corumbá, no Mato Grosso do Sul). O Pantanal é o principal bioma onde essa ave é encontrada no Brasil.
Quais são as principais características da arara-azul?
A arara-azul é a maior espécie de todos os papagaios (família Psittacidae), podendo medir até 1 metro (da ponta do bico a ponta da cauda), como explica a ADW. As aves adultas pesam até até 1,3 kg, no entanto, existe um momento em que os filhotes podem atingir até 1,7 kg quando chegam ao pico de seu peso.
As araras-azuis possuem plumagem na cor azul-cobalto, em tom degradê da cabeça para a cauda, sendo preta a parte inferior das penas das asas e da cauda, e um amarelo intenso ao redor dos olhos (o chamado anel perioftálmico).
O bico da arara-azul, por sua vez, é considerado grande, maciço, curvo e preto, formando quase um círculo com sua cabeça. A língua dessa ave é espessa e também preta, e chama atenção pela faixa amarela nas laterais, como detalha a enciclopédia animal.
Outra característica importante é que as araras-azuis são sociáveis e vivem em família, bandos ou grupos. É difícil encontrá-las sozinha em vida livre. Elas são aves que apresentam certa fidelidade aos locais de alimentação e reprodução, por conta disso também os biólogos da USP puderam mapear os três grupos distintos presentes no Brasil.
No Pantanal, é possível encontrar dois diferentes grupos de arara-azul, segundo estudo da USP: um no norte e outro no sul do bioma. Na foto, um belo exemplar da ave perto de Corumbá, cidade considerada a "capital do Pantanal", localizada no Mato Grosso do Sul.
Os três diferentes grupos de arara-azul do Brasil
Uma pesquisa realizada no Instituto de Biociências da USP mostra que existem pelo menos três populações geneticamente distintas de araras-azuis (Anodorhynchus hyacinthinus) em território brasileiro. Segundo o estudo, no Pantanal há dois grupos: um localizado ao norte do bioma e outro mais ao sul. Já o terceiro grupo fica na região que compreende o Norte do Brasil (no Pará) e o Nordeste (nos estados de Piauí, Maranhão, Tocantins e Bahia).
Esse estudo permite um manejo mais adequado de cada subespécie, além de ajudar no combate do tráfico ilegal de aves raras, já que segundo a pesquisa da USP, desta forma é possível saber melhor a origem de cada ave.
“Se uma ave for apreendida nas mãos de traficantes, será possível, com base no estudo, determinar qual a probabilidade da arara ter sido retirada de um desses locais e, com isso, fornecer elementos que ajudem a estabelecer a rota de tráfico”, aponta a bióloga Flávia Torres Presti, bióloga responsável pela pesquisa.
Conhecer cada grupo de araras-azuis ajuda a proteger essas aves
O mapeamento dos grupos contribui para a proteção das araras-azuis, já que apesar das diversas características semelhantes, por conta do diferente habitat elas desenvolveram hábitos alimentares bem distintos.
No Pantanal, por exemplo, a alimentação da arara-azul é baseada no fruto de duas palmeiras: a bocaiúva e o acuri. Já nos estados nordestinos, as aves se alimentam de frutos da piaçava e do catolé. No sul do Pará, por sua vez, as aves se alimentam de inajá, babaçu, tucum, gueroba, de alguns frutos de bacuri e de macaúba, mostra a investigação dos biólogos.
Flávia Torres Presti ainda afirmou, no site da USP, que há diferenças entre as araras-azuis do Pantanal, formando dois grupos, além do grupo do Norte/Nordeste: “Como são isoladas geograficamente, as aves de uma região não teriam como acasalar com as outras e, assim, cada grupo evoluiu de maneira distinta”, explica Flávia.
Segundo a bióloga, pensava-se também que as aves do Pantanal eram geneticamente idênticas. Porém, uma análise mitocondrial revelou a existência de três grupos distintos: Pantanal norte, Pantanal sul, Norte/Nordeste.