Pantanal: como seca, mudanças climáticas e devastação da Amazônia ameaçam esse bioma brasileiro
O Pantanal é um dos biomas que mais sofre por conta da redução do volume de chuvas e das constantes queimadas, fatos que comprometem a sua biodiversidade.
No acumulado dos últimos 12 meses, o Pantanal já soma mais de 9 mil ocorrências de focos de fogo, quase sete vezes mais que os registrados no mesmo período em 2023 pelo Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), como foi publicado na Agência Brasil (órgão oficial de informação do governo brasileiro).
O Pantanal é um bioma de beleza única por conta de características muito próprias. Ocupa uma região de mais de 150 mil km² de extensão e ocupa o Centro-oeste brasileiro, nos estados do Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, além de partes do Paraguai e da Bolívia, onde é conhecido como “chaco”. Essa área da América do Sul é considerada uma das maiores planícies úmidas do planeta, como afirma o site do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima do governo federal do Brasil.
Acontece que as mudanças climáticas que vem ocorrendo em todo o planeta e as ações humana por conta do desmatamento constante _ na maioria das vezes para a agropecuária –, tem afetado cada vez mais o Pantanal, fazendo com que o bioma não seja mais tão alagadiço e sim, seco e inflamável – ameaçando diretamente a grande riqueza de sua biodiversidade de fauna e flora.
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Queimadas no Pantanal afetam diversos animais e corroem a vegetação. O estado brasileiro do Mato Grosso do Sul decreta situação de emergência devido ao alto número de incêndios deste ano.
Diminuição de chuvas e os inúmeros incêndios no Pantanal
Segundo o Serviço Geológico do Brasil (que pertence ao Ministério de Minas e Energia), o ano de 2024 poderá terminar como o mais seco da história do Pantanal, com um acumulado de chuvas bem abaixo do esperado. Tanto, que a região vem sofrendo esse ano com inúmeras secas e queimadas.
Em um novo estudo, publicado em 26 de junho de 2024, e chamado “MapBiomas Águas”, realizado pelo MapBiomas (rede multi-institucional que reúne universidades, instituições e empresas de tecnologia), foi constatado que a superfície de água em todo o Brasil ficou abaixo da média histórica em 2023. Segundo a entidade, os biomas brasileiros estão sofrendo com a perda da superfície de água desde o ano 2000.
Nesse contexto, o Pantanal é um dos que mais perde com a diminuição de chuvas e a consequente redução hídrica do solo. O recente levantamento afirma que a superfície de água no Pantanal, em 2023, chegou a 382 mil hectares, 61% abaixo da média histórica feita pela instituição, que faz análises desde 1985.
O ano de 2023 também foi 50% mais seco que o de 2018, o último em que o Pantanal teve uma grande cheia e o MapBiomas ressalta que em 2024 a situação segue crítica, pois não houve nenhum pico de cheia – ao contrário. O bioma enfrenta uma seca que deve se estender até o mês de setembro, no mínimo.
No acumulado dos últimos 12 meses, o Pantanal já soma mais de 9 mil ocorrências de focos de fogo, quase sete vezes mais que os registrados no mesmo período em 2023 pelo Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), como foi publicado na Agência Brasil (órgão oficial de informação do governo brasileiro).
Conforme outros estudos do Mapbiomas, quase 60% do Pantanal já foi atingido por incêndios florestais nos últimos 38 anos. E a situação das queimadas no bioma é agravada por conta da falta de chuvas que desde maio de 2024 está em situação crítica de escassez de recursos hídricos declarada pela Agência Nacional de Águas (ANA).
O número de focos de incêndio ativos no Pantanal está altíssimo desde o final de junho de 2024, tanto que o estado do Mato Grosso do Sul decretou “situação de emergência”, que está com grandes queimadas até próximas de cidades como Corumbá.
Na imagem, é possível ver o Pantanal com a abundância hídrica que é natural do bioma e que tem perdido a cada ano desde 2000.
Como a seca e a devastação da Amazônia impacta o Pantanal
Apesar do desmatamento na Amazônia ter tido uma queda de 21,8% no último ano (de 2022 a 2023), segundo uma análise do Projeto de Monitoramento do Desmatamento por Satélite (Prodes) divulgada em maio de 2024, as consequências da devastação sofrida há tempos na região amazônica seguem tendo grandes impactos na natureza – e consequências em todos os biomas brasileiros.
Isso porque o bioma amazônico representa mais da metade da superfície de água do Brasil, conforme explica o novo relatório do MapBiomas. E quando essa região está mais seca, influencia as demais. Em 2023, a Amazônia apresentou uma superfície de água de quase 12 milhões de hectares, ou seja, só 2,8% da sua superfície. Esse total representa redução de 3,3 milhões de hectares em relação a 2022.
A entidade ressalta que em 2023, a Amazônia sofreu seca severa: de julho a dezembro. A diminuição da cobertura florestal tem gerado uma redução hídrica cada vez maior na Amazônia, com grandes períodos de estiagem como aconteceu em 2023 (e com forte seca até em rios importantes, como a que ocorreu no Rio Negro, e outra que já ocorre no Rio Madeira em 2024).
O Pantanal, por sua vez, recebe diretamente as consequências desse quadro na Amazônia. Isso porque é o bioma amazônico que é o maior responsável por distribuir água pelo Brasil graças aos chamados “rios voadores”, como explicado no artigo da própria National Geographic Brasil intitulado “Como os rios voadores da Amazônia levam água para o resto do Brasil”.
Os rios voadores decorrem da transpiração das árvores da floresta amazônica, que garante um volume de chuvas e regula a umidade do Brasil e também de vários outros lugares da América do Sul.
Portanto, essa alteração no volume das florestas e na superfície hídrica da Amazônia afeta todo o país. Sendo o Pantanal um bioma alagadiço por origem, a seca é de fato extremamente perigosa, como se observa nos últimos anos também com o aumento crescente das queimadas na região.
“A Amazônia e o Pantanal enfrentam uma grave redução hídrica, levando a significativos impactos ecológicos, sociais e econômicos. Essas tendências agravadas pelas mudanças climáticas ressaltam a necessidade urgente de estratégias adaptativas de gestão hídrica”, destaca Juliano Schirmbeck, coordenador técnico do novo relatório MapBiomas Água.