Escorpiões tomam conta do Brasil: veja como acontece o aumento de picadas nas zonas urbanas

O aumento da presença de escorpiões em áreas urbanas é notável, especialmente no Brasil. Entenda esse impressionante fenômeno.

Por Redação National Geographic Brasil
Publicado 21 de mai. de 2025, 14:00 BRT
Um escorpião da espécie Tytus serrulatus (conhecido como "escorpião-amarelo") - que é a mais comum em ...

Um escorpião da espécie Tytus serrulatus (conhecido como "escorpião-amarelo") - que é a mais comum em grande parte do Brasil - tem aumentado cada vez mais a sua presença e a incidência de notificações de picadas pelo país.

Foto de José Roberto Peruca CC BY 2.0

Os escorpiões estão “tomando conta” das grandes cidades brasileiras, advertiram os pesquisadores em um artigo científico publicado recentemente na revista “Frontiers in Public Health”. Ele informa que mais de 1,1 milhão de picadas foram registradas entre 2014 e 2023, de acordo com dados do Ministério da Saúde do Brasil, o que significa um aumento de 155% nos relatos de picadas de 2014 a 2023.

De acordo com o texto da “Frontiers in Public Health”a rápida urbanização e as mudanças climáticas estão provocando um aumento no número de aparecimento de escorpiões em grandes centros urbanos em geral e, consequentemente, o perigo de picadas desse aracnídeo muitas vezes venenoso. 

“O envenenamento por picada de escorpião (escorpionismo) é um problema global atual, afetando várias regiões do mundo, incluindo a África, o Oriente Médio, o sul da Índia e América Latina. Nas Américas, o Brasil, o Paraguai, a Bolívia, o México, as Guianas e a Venezuela testemunharam um aumento alarmante do escorpionismo nas últimas décadas, evoluindo para uma crise de saúde pública significativa”, diz o artigo.

Diante deste cenário, a National Geographic Brasil conversou com o biólogo Fabiano Soares, graduado pela Faculdade Federal de Pelotas, no Rio Grande do Sul, e um especialista em controle de pragas urbanas, para saber melhor sobre esse fenômeno os perigos que os escorpiões trazem aos seres humanos

Acima, um exemplar da espécie Tityus stigmurus, também presente no Brasil só que mais encontrada no ...

Acima, um exemplar da espécie Tityus stigmurus, também presente no Brasil só que mais encontrada no Norte e Nordeste do país, tanto que é conhecida popularmente como "escorpião-amarelo-do-nordeste".

Foto de Célio Moura Neto CC BY-NC 4.0

Quais os motivos para o aumento da presença (e das picadas) de escorpiões nas grandes cidades?


“Os escorpiões do gênero Tityus são os que mais ocorrem na América do Sul em geral e, por isso mesmo, são os maiores responsáveis pelos acidentes com picadas. Esse é um gênero de espécies peçonhentas de escorpião, e com alta toxicidade”, explica o biólogo Fabiano Soares. 

No Brasil, as espécies Tityus serrulatus – também conhecido como escorpião-amarelo (encontrados no Sudeste e Centro-Oeste do país) – e Tityus stigmurus (vista mais no Norte e Nordeste), são as mais comuns. 

na Argentinaoutra espécie é a mais presente no país: o Tytus trivitattus – sendo que todas elas são extremamente venenosas. No México e em outros países da América Central, o gênero de escorpião mais comum é o Centruroides, que também possui espécies bastante perigosas por possuir um veneno extremamente tóxico, revela Soares. 

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    Os escorpiões do gênero Centruroides são mais comuns na América Central e do Norte, porém são também perigosos por conta do veneno altamente tóxico e aparecem também em zonas urbanas. Acima, um Centruroides vittatus.

    Foto de Meghan Cassidy CC BY-SA 4.0

    Todas essas espécies têm aumentado a sua incidência nos grandes centros urbanos da América Latina e, consequentemente, crescem os números de picadas. Segundo Soares, a ocorrência descontrolada de escorpiões, principalmente em zonas urbanas, é motivado por condições ambientais favoráveis a eles por conta de uma urbanização desordenada, que invade zonas verdes somadas ao acúmulo de lixo, aos esgotos sem tratamentos adequados e à grande presença de baratas – animais que são um dos principais alimentos dos escorpiões

    “É um ‘clássico’ do ambiente urbano que foi alterado durante anos pelos seres humanos e esses animais peçonhentos acabam encontrando, com o tempo, uma brecha de proliferação graças ao nosso próprio comportamento”, explica o biólogo. 

    Além disso, as mudanças climáticas são um outro fator que contribui para a disseminação de pragas urbanas, como a dos escorpiões. “A alteração do clima influi na dispersão dos escorpiões para outros ambientes, porque mudam o regime de chuvas e de temperatura média, o que obriga esses artrópodes aracnídeos a buscarem novos habitats – e eles acabam chegando nos centros urbanos. Esse cenário implica também na reprodução desses animais, que com o calor aumenta”, explica o biólogo.

    As picadas de escorpião em números pelo Brasil e no mundo


    Várias regiões do planeta estão vivendo um momento de descontrole populacional dos escorpiões. Somente no Brasil, por exemplo, as projeções dos especialistas indicam que, até 2033, o número de picadas de escorpiões notificadas pode ultrapassar em 2 milhões. Em 2023 foram registrados mais de 200 mil acidentes com escorpiões no país, representando um aumento de 15% em relação a 2022, como explica o artigo da “Frontiers”.

    “Várias regiões do planeta estão vivendo um momento de descontrole populacional dos escorpiões.”

    Uma curiosidade em relação à espécie Tityus serrulatus (que tem assustado a população de grandes cidades, como São Paulo, pelo grande aumento de indivíduos e de picadas, até em apartamentos) é que ela consegue se reproduzir por partenogênese, ou seja, a fêmea se reproduz sem a presença de um macho, ou seja, ela não precisa de uma cópula do gameta masculino. “Ela produz um tipo de clone dela mesma, o que aumenta muito o sucesso reprodutivo e adaptativo desse animal rapidamente”, explica Soares.

    Uma questão em relação ao tratamento das picadas no Brasil é que há a presença de diferentes gêneros e espécies bem tóxicas por conta das dimensões do país. No entanto, o soro usado atualmente é feito somente com base no Tytius serrulatus, o que não é o ideal para o tratamento das picadas das diferentes peçonhas, segundo relatado em um artigo do “Jornal da USP” (Universidade de São Paulo).

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