
É verdade que os rinocerontes realmente estão em perigo de extinção?
Um casal de rinocerontes brancos no Rancho Borana, Laikipia, Quênia. Atualmente, esta espécie está distribuída em 11 países africanos. A subespécie do rinoceronte branco do norte (Ceratotherium simum cottoni) é considerada “funcionalmente extinta”, pois restam apenas duas fêmeas vivas.
Conhecido por possuir um chifre na parte central da cabeça, o rinoceronte é um dos três maiores animais terrestres do mundo (ao lado dos hipopótamos e dos elefantes), como informa um artigo de National Geographic Espanha dedicado ao animal. O rinoceronte mede, em geral, cerca de 1,70 metro de altura e pode pesar entre 800 e 1400 quilos, continua a fonte.
Este animal herbívoro é encontrado apenas em algumas áreas da África e Ásia, onde enfrenta grande risco de extinção.
De acordo com a International Rhino Foundation (da sigla em inglês IRF), uma organização fundada na década de 1990 em resposta à intensa caça furtiva de rinocerontes negros no Zimbábue, havia cerca de 500 mil rinocerontes no mundo no início do século 20.
Em 1970 este número caiu para 70 mil sendo que, atualmente, a população estimada é de cerca de 28 mil indivíduos e algumas subespécies foram extintas.
O Dia Mundial do Rinoceronte, comemorado em 22 de setembro, tem o objetivo de conscientizar sobre as cinco espécies de rinocerontes que ainda resistem, reforçando o trabalho que está sendo feito para salvá-las.
Por ocasião desta data, a National Geographic traz dados atualizados sobre a conservação deste herbívoro e seu estado de extinção.
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Rinoceronte indiano no Parque Nacional de Chitwan, no Nepal. De acordo com a IRF, a proteção rigorosa das autoridades governamentais da Índia e do Nepal está dando resultados e a recuperação deste animal “é um sucesso da conservação”.
A situação dos rinocerontes diante da extinção
Por meio do relatório chamado “Estado dos rinocerontes”, a International Rhino Foundation documenta as estimativas e tendências da população de rinocerontes, bem como os desafios que enfrentam e os avanços em matéria de conservação. Na edição de 2024, a entidade oferece dados concretos e atualizados sobre a situação do animal.
Conforme indicado por essa fonte, quatro das cinco espécies de rinocerontes estão em perigo de extinção – e três delas classificadas como “em perigo crítico” na Lista Vermelha de espécies ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza. São elas o rinoceronte de Sumatra (Dicerorhinus sumatrensis), o rinoceronte de Java (Rhinoceros sondaicus) e o rinoceronte negro (Diceros bicornis).
Por sua vez, o rinoceronte indiano (Rhinoceros unicornis) está classificado como “vulnerável” na Lista Vermelha e apenas o rinoceronte branco (Ceratotherium simum) é considerado “quase ameaçado” pela UICN. Isso significa que ele ainda não cumpre os requisitos para ser classificado como “em perigo crítico", “em perigo” ou mesmo como “vulnerável” atualmente.
Ainda assim, a queda no número de exemplares da espécie faz com que seja provável que ela alcance este status “num futuro próximo”, indica a UICN.
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Um rinoceronte-negro no Sera Rhino Sanctuary, Biliqo Bulesa Conservancy, Quênia.
Quantos rinocerontes restam no mundo?
De acordo com o relatório 2024 da IRF, se somarmos os indivíduos das cinco espécies, restam apenas cerca de 28 mil rinocerontes no mundo.
A espécie com mais indivíduos é o rinoceronte branco, com aproximadamente 17.464 exemplares distribuídos em 11 países da África. No entanto, é preciso esclarecer que neste grupo existem duas subespécies: o rinoceronte branco do sul (Ceratotherium simum simum) e o rinoceronte branco do norte (Ceratotherium simum cottoni). Esta última subespécie é considerada “funcionalmente extinta”, pois restam apenas dois exemplares no mundo, ambos fêmeas.
“O motivo para avaliar esta espécie como ‘quase ameaçada’ e não como ‘preocupação menor’ continua sendo a ameaça contínua promovida pela caça furtiva e pela demanda ilegal por chifres vinda do Sudeste Asiático (especialmente Vietnã e China)”, alerta a IUCN.
No caso do rinoceronte negro é justamente a caça ilegal para obter os chifres que se torna sua principal ameaça. O total estimado de rinocerontes negros é de cerca de 6.421 indivíduos distribuídos por 12 países africanos, a segunda espécie com mais exemplares na lista.
“A população de rinocerontes negros é composta por três subespécies: aproximadamente 2.583 indivíduos são classificados como Diceros bicornis bicornis, e vivem principalmente no sudoeste de Angola e no norte da Namíbia", informa a IUCN
A fonte continua indicando que 2.450 indivíduos são catalogados como de Diceros bicornis minor (popularmente chamado de rinoceronte-negro-centro-sul), encontrado partes da África do Sul, Quênia, Ruanda e Tanzânia, segundo a IRF.
Por fim, ainda dentro da espécie de rinocerontes negros está o Diceros bicornis michaelie (Rinoceronte-negro-oriental) com apenas 1.388 animais identificados; além da quarta subespécie, a Diceros bicornis longipes (o rinoceronte-negro-ocidental), declarada extinta em 2011.
A última evidência de existência do o rinoceronte-negro-ocidental foi registrada em Camarões, na África equatorial, em 2006, detalha a IRF. Também neste caso, é a caça ilegal por causa do chifre a maior ameaça a este animais, principalmente porque seu chifre ainda é usado na medicina chinesa e para uso ornamental.
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Na foto, Ratu, uma rinoceronte-de-sumatra, ao lado do recém-nascido Andatu em 2012. Andatu tornou-se o primeiro rinoceronte nascido em cativeiro na Indonésia.
Esta é a situação das outras espécies de rinocerontes do planeta
Este é o estado das outras espécies de um dos maiores animais terrestres ainda vivos.
- Rinoceronte indiano (Rhinocerus unicornis)
É o próximo na lista da IUCN em quantidade de indivíduos que ainda existem. Habita principalmente a Índia e o Nepal, embora exista uma população que ocasionalmente cruza para o Butão. Segundo a IRF, existem cerca de 4.014 indivíduos e sua população tem crescido constantemente na última década.
Apesar disso, a caça furtiva continua sendo uma ameaça significativa, e ele foi expulso de muitas das áreas onde costumava ser comum. Outra ameaça significativa é a prevalência de espécies invasoras.
- Rinoceronte-de-java (Rhinoceros sondaicus)
Esta espécie não possui o número total de sua população conhecido com precisão, mas a IRF estima que existam apenas cerca de 50 indivíduos no total. Ele também é conhecido como rinoceronte-de-chifre-menor, informa a plataforma de dados da biodiversidade Animal Diversity Web (ADW), comandada pelo Museu de Zoologia da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos.
A ausência confirmada de dados se deve ao fato de que, entre 2019 e 2023, foi descoberta uma importante operação de caça ilegal no Parque Nacional Ujung Kulon, na Indonésia, onde foram relatados 26 casos morte ilegal de rinocerontes. Se esse número for exato, a população estimada de 76 animais relatada pela IUCN teria sido reduzida em mais de 30%.
Desde a morte do último rinoceronte-de-java no Vietnã, em 2011, o parque indonésio de Ujung Kulon é o único lar de todos os exemplares de Rhinoceros sondaicus do mundo.
- Rinoceronte-de-sumatra (Dicerorhinus sumatrensis)
Este animal está à beira da extinção segundo estimativas oficiais citadas pela IRF. Restam muito poucos indivíduos, todos eles na Indonésia, e seu rastreamento é complexo, já que os avistamentos diretos se tornaram raros e os “sinais indiretos como pegadas", são cada vez mais difíceis de encontrar, afirma a fonte.
“O Grupo de Especialistas em Rinocerontes Asiáticos (ASRSG na sigla em inglês) da Comissão de Sobrevivência de Espécies da IUCN informa que restam até quatro populações isoladas e até dez subpopulações de rinocerontes-de-sumatra na Indonésia”, refere a IRF.
“Desde 2015, a maioria das populações deste animal está restrita a parques nacionais em Sumatra e Malásia, embora existam alguns grupos encontrados na natureza perto da fronteira da Tailândia e da Malásia”, diz a ADW.
“O governo da Indonésia informa que não há mais do que 80 rinocerontes-de-sumatra no total, enquanto a AsRSG especifica que a contagem real pode ser de apenas 34 a 47 indivíduos, sem que nenhuma subpopulação ultrapasse os 30 rinocerontes”, aponta a IRF.
Conforme indicado por esta mesma fonte, as ameaças que os rinocerontes enfrentam não são novas, mas diferem em função das diversas realidades ambientais, socioeconômicas e políticas de cada região onde esses animais residem.
A Fundação insiste na importância de continuar encontrando novas ferramentas e avançando na proteção, sem se desanimar com os acontecimentos que dificultam a conservação (como ocorreu com os rinocerontes de Java). “A única maneira de realmente fracassar na conservação é parar de tentar”.
