Ao prender a respiração, os tubarões-martelo-recortados podem ser capazes de regular a temperatura corporal ao mergulhar ...

Nova descoberta marinha: o tubarão que desafia a biologia ao caçar no gelo

O comportamento inesperado relatado em tubarões-martelo levanta questões sobre o quanto esse hábito pode ser comum e trazer novas possibilidades de caça e sobrevivência.

Ao prender a respiração, os tubarões-martelo-recortados podem ser capazes de regular a temperatura corporal ao mergulhar a milhares de metros debaixo d’água, em locais muito frios.

Foto de GREG LECOEUR
Por Dina Fine Maron
Publicado 11 de set. de 2025, 10:02 BRT

Os tubarões-martelo-recortados podem estar prendendo a respiração quando mergulham profundamente em águas geladas. A revelação, publicada recentemente na revista Science, sugere que essa estratégia pode permitir que esses habitantes de águas quentes regulem sua temperatura enquanto caçam em águas frias.

Essa técnica é “completamente inesperada”, diz Mark Royer, biólogo especializado em tubarões da Universidade do Havaí, Estados Unidos, que liderou a pesquisa. “Esse tipo de comportamento nunca foi observado em nenhum tipo de peixe que mergulha em profundidade”, comenta ele, e agora levanta questões sobre o quão comum pode ser prender a respiração entre outras espécies.

Esses tubarões-martelo-recortados, criticamente ameaçados de extinção, normalmente dependem do movimento para frente para forçar a água através de suas guelras, o que lhes permite extrair o oxigênio necessário para respirar. 

No entanto, quando esses predadores nadam 800 metros para baixo para capturar lulas e outras presas, a água mais fria pode afetar seu metabolismo, função cardíaca e visão — todos fatores que reduziriam sua capacidade de caça.

Ao fechar as guelras e a boca — prendendo a respiração —, esses tubarões conseguem limitar sua exposição à água fria.

Algumas espécies, como atum-azul e o tubarão-mako, têm uma anatomia especializada que lhes permite conservar o calor corporal em águas frias, mas os tubarões-martelo-recortados não têm essa vantagem.

É por isso que alguns cientistas teorizaram que os tubarões-martelo-recortados mantêm o calor corporal usando simplesmente a inércia térmica — essencialmente contando com seu grande tamanho corporal para ajudar a manter a temperatura e transportar o calor para baixo à medida que mergulham em profundidades frias.

“Imagine que você está tentando descongelar seu peru de 7 kg para o Dia de Ação de Graças: você o tira do freezer e leva muito tempo para descongelar — isso é como a inércia térmica”, explica Marianne Porter, bióloga que estuda o movimento dos tubarões na Florida Atlantic University, nos Estados Unidos, que não participou do estudo.

No entanto, pequenos sensores que a equipe colocou em tubarões-martelo adultos — basicamente um “Fitbit para tubarões”, como diz Royer — sugerem que a inércia térmica não é a razão pela qual eles permanecem aquecidos durante suas caçadas em profundidade.

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Como os tubarões-martelo caçam em águas geladas


Para o estudo, a equipe analisou informações detalhadas sobre o comportamento de natação, profundidade e localização de um pequeno grupo de seis tubarões machos marcados que, juntos, completaram mais de 100 mergulhos ao redor do Havaí ao longo de várias semanas.

Pequenas sondas também registraram a temperatura muscular dos animais durante esses mergulhos noturnos repetidos. Esses dados, juntamente com modelagens adicionais, indicaram que os tubarões conseguiram manter em grande parte a temperatura corporal tanto quando estavam nas águas superficiais, a cerca de 26,6ºC, quanto quando mergulharam a mais de 2.500 pés abaixo, onde a temperatura caiu muito, para cerca de 5ºC.

Surpreendentemente, a temperatura corporal dos animais acabou caindo quando eles subiram e alcançaram águas ligeiramente mais quentes a cerca de metade do caminho de volta à superfície — aparentemente quando os tubarões abriram suas guelras para obter o oxigênio necessário

Isso não é o que se esperaria com a inércia térmica, já que haveria um aquecimento e resfriamento mais constantes para atingir o equilíbrio, afirma Royer.

Embora não tenham observado os tubarões fechando suas guelras, sua equipe suspeita que seja isso o que está acontecendo. Para confirmar totalmente sua hipótese de retenção da respiração, Royer diz que, em seguida, eles precisarão fixar câmeras nas barbatanas peitorais desses tubarões-martelo para observar as guelras abrindo e fechando enquanto os tubarões mergulham.

Ainda não está claro como essa espécie de 3,6 metros de comprimento pode ter adquirido essa habilidade de prender a respiração. “É possível que eles aprendam isso por meio de interações sociais com outros tubarões-martelo que estão mergulhando”, afirma Royer, acrescentando que “outra possibilidade é que eles estejam seguindo o exemplo de outros animais que mergulham e comem presas na mesma profundidade”. 

Um cardume de tubarões-martelo-recortados navega em águas profundas perto da Ilha Cocos, na Costa Rica. Os ...

Um cardume de tubarões-martelo-recortados navega em águas profundas perto da Ilha Cocos, na Costa Rica. Os tubarões às vezes mergulham milhares de metros abaixo da superfície em busca de lulas, peixes e outras presas.

Foto de GREG LECOEUR, Nat Geo Image Collection

Evidências convincentes que os tubarões respiram debaixo d’água


Outras evidências que corroboram a conclusão da equipe sobre a retenção da respiração: imagens anteriores de um veículo operado remotamente que mostram um tubarão-martelo-recortado adulto nadando nos mares da Tanzânia a mais de 914 metros abaixo da superfície com as guelras fechadas, e imagens da espécie em suas águas superficiais típicas com fendas branquiais abertas. 

Além disso, outro experimento da equipe de Royer com tubarões-martelo mortos em banhos de água quente e fria também corroborou seus resultados.

“É um artigo convincente — a maneira como eles têm todas essas linhas de evidência sugerindo que isso pode estar acontecendo”, comenta Porter. “Estou convencida” de que há retenção da respiração, diz ela.

As fêmeas do tubarão-martelo-recortado também realizam mergulhos profundos, diz ela, então, embora este estudo tenha incluído apenas machos, ela suspeita que isso se aplique também às fêmeas não grávidas

As implicações desse trabalho sobre a retenção da respiração são “notáveis”, escrevem Mark Meekan, da Universidade da Austrália Ocidental, e Adrian Gleiss, da Universidade Murdoch (também da Austrália), em um comentário científico acompanhante também publicado na revista Science.

Se essas espécies em rápido declínio podem pausar a respiração enquanto se alimentam em profundidade, elas podem lidar com os ambientes cada vez mais comuns de baixo oxigênio em nosso mundo em mudança melhor do que o esperado, escrevem eles. 

Os tubarões-martelo já ocupam águas com baixo teor de oxigênio no Golfo da Califórnia, e essa habilidade recém-descoberta de prender a respiração pode explicar sua presença, observam eles.

É verdade que esses animais podem sobreviver em áreas com baixo teor de oxigênio por curtos períodos, diz Porter, mas isso provavelmente não é sustentável a longo prazo. “Eu me pergunto o que aconteceria se isso se tornasse sua realidade o tempo todo.”

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