‘Duvido muito', diz diretor de agência de saúde dos EUA sobre eficácia de vacina russa

Desenvolvimento de vacina contra a covid-19 não significa que houve comprovação de segurança e eficácia, afirma Anthony Fauci, do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA.

Por Nsikan Akpan
Publicado 12 de ago. de 2020, 11:30 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 01:56 BRT
Técnico de laboratório retira um banco de vacinas do botijão criogênico em 6 de agosto de ...

Técnico de laboratório retira um banco de vacinas do botijão criogênico em 6 de agosto de 2020, durante a produção de uma vacina contra a covid-19, desenvolvida pelo Centro Nacional Gamaleya de Pesquisa em Epidemiologia e Microbiologia e pelo Fundo de Investimento Direto da Rússia.

Foto de Andrey Rudakov, Bloomberg via Getty Images

O DESENVOLVIMENTO DE UMA VACINA não significa que a segurança e eficácia da vacina tenham sido comprovadas. Essa é a opinião de Anthony Fauci sobre a notícia de que a Rússia aprovou e está pronta para disponibilizar ao mercado uma vacina contra o coronavírus.

Diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos, Fauci comentou sobre a notícia durante uma entrevista para o evento exclusivo Stopping Pandemics, da National Geographic.

“Espero que os russos tenham provas concretas de que a vacina é segura e eficaz”, disse Fauci a Deborah Roberts, correspondente da ABC News, moderadora do evento. “Mas duvido muito que tenham.”

A Rússia vem insinuando nos últimos meses que tem feito grandes avanços com sua suposta vacina, denominada Sputnik V em homenagem ao inovador satélite do país lançado em 1960. Em maio, o diretor do Instituto de Pesquisa Gamaleya de Epidemiologia e Microbiologia em Moscou, local de desenvolvimento da vacina, afirmou que ele e outros pesquisadores começaram os testes com a substância em si mesmos antes mesmo do início da fase um de testes em humanos com 76 indivíduos, ocorrida um mês depois.

“Espero que os russos tenham provas concretas de que a vacina é segura e eficaz. Mas duvido muito que tenham.”

por Anthony Fauci
Diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas - EUA

Mas o Instituto Gamaleya ainda não publicou nenhum resultado dos testes em humanos, que normalmente compreendem três fases para verificar a segurança, eficácia e dosagem de uma substância medicinal. O instituto também não divulgou nenhum estudo pré-clínico com modelos animais ou experimentos com cultura de células em placas de Petri.

Apesar da falta de informações públicas, o presidente russo Vladimir Putin afirma que a autoridade reguladora de saúde do país está pronta para aprovar a vacina para uso generalizado. “Temos que demonstrar gratidão para com aqueles que deram esse primeiro e tão importante passo, muito importante para a Rússia e para o mundo todo”, afirmou Putin em uma declaração divulgada nesta terça (12/08) pelo Kremlin.

Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos, usa uma máscara facial do time de beisebol Washington Nationals durante uma audiência do subcomitê da Câmara em Washington, D.C., em 31 de julho de 2020.

Foto de Kevin Dietsch, UPI, Bloomberg via Getty Images

A aprovação foi concedida muito embora outras autoridades russas tenham afirmado que as pesquisas da fase três ainda não terminaram. Kirill Dmitriev, executivo-chefe do Fundo de Investimento Direto da Rússia que está financiando a vacina, contou à agência de notícias Associated Press que o início desses testes avançados havia sido agendado para 12 de agosto em vários países, incluindo a Rússia, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Filipinas e possivelmente o Brasil. Mas a Associated Press não encontrou nenhuma documentação nos registros do Ministério da Saúde russo que ao menos citasse que essas pesquisas haviam sido aprovadas.

A fase três das pesquisas é imprescindível para confirmar se uma vacina está pronta para distribuição de massa. Essa última etapa dos testes foi concebida para identificar a dose mais segura a ser administrada na população — uma determinação que só pode ser feita por meio da aplicação da vacina em um grupo diversificado de milhares de pessoas. Esse estágio do desenvolvimento das vacinas também determina o grau de eficácia de uma vacina.

Segundo um estudo de 2018 conduzido pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts, um terço das vacinas avança para a fase três dos testes — que determina uma dosagem recomendada e atende a padrões consagrados de segurança e eficácia. A Agência de Administração de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos declarou que só aprovará uma vacina contra o coronavírus se alcançar no mínimo 50% de eficácia.

“Temos meia dúzia ou mais de vacinas”, contou Fauci a Roberts. “Se quiséssemos oferecer algo com o potencial de provocar efeitos nocivos ou que até mesmo não funcionasse, poderíamos também oferecer uma vacina em uma semana. Mas não é assim que funciona.” 

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