Quais são as vacinas mais promissoras contra a covid-19?

Apresentamos as possíveis vacinas contra o novo coronavírus que estão em estudos clínicos de fase três ou posterior.

Por Amy McKeever
Publicado 5 de ago. de 2020, 11:25 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 01:56 BRT
A enfermeira Kathe Olmstead, à direita, aplica uma injeção na voluntária Melissa Harting, de Harpersville, Nova ...

A enfermeira Kathe Olmstead, à direita, aplica uma injeção na voluntária Melissa Harting, de Harpersville, Nova York, como parte de um estudo para uma possível vacina contra a covid-19 desenvolvida pela Moderna Therapeutics e pelos Institutos Nacionais de Saúde e Moderna Inc., em 27 de julho de 2020, em Binghamton, Nova York.

Foto de Hans Pennik, AP Photo

Mais de 150 vacinas contra o coronavírus estão em desenvolvimento em todo o mundo — e há grandes expectativas de que uma delas receba aprovação para comercialização em tempo recorde com o intuito de aliviar a crise global. Há várias iniciativas para ajudar a tornar isso possível. Uma delas é a Operation Warp Speed, do governo dos Estados Unidos, que prometeu destinar US$10 bilhões e pretende desenvolver e fornecer 300 milhões de doses de uma vacina segura e eficaz contra o coronavírus até janeiro de 2021. A Organização Mundial da Saúde também está coordenando esforços globais para desenvolver uma vacina, que visa fornecer dois bilhões de doses até o fim de 2021.

Assim como ocorre com todas as outras vacinas, o objetivo das candidatas é basicamente  ensinar o sistema imunológico a desenvolver uma defesa, que às vezes é mais forte do que a desencadeada por uma infecção natural, com  menos consequências para a saúde.

Para tanto, algumas vacinas utilizam o coronavírus inteiro, mas inerte ou enfraquecido. Outras utilizam apenas parte do vírus — que pode ser uma proteína ou um fragmento. Algumas transferem as proteínas do coronavírus para um vírus diferente com pouca probabilidade ou até mesmo incapaz de causar a doença. Por fim, algumas vacinas em desenvolvimento dependem da utilização de partes do material genético do coronavírus para que nossas células consigam produzir temporariamente as proteínas necessárias para estimular nosso sistema imunológico.

Normalmente, pode levar de 10 a 15 anos para uma vacina chegar ao mercado: a mais rápida até o momento — a vacina contra caxumba — levou quatro anos na década de 1960. As vacinas passam por estudos clínicos compostos por várias etapas. As fases iniciais verificam a segurança da vacina e se ela estimula uma resposta imune em um pequeno grupo de participantes humanos saudáveis.

A segunda fase avalia a eficácia da vacina e amplia o conjunto de testes para incluir grupos de pessoas que podem ter a doença ou que têm maior probabilidade de contraí-la. A terceira fase expande o conjunto para milhares de participantes a fim de garantir que a vacina seja segura e eficaz em uma gama maior de pessoas, pois a resposta imune pode variar de acordo com a idade, etnia ou condições de saúde pré-existentes. Posteriormente, a vacina segue para aprovação pelos órgãos reguladores — o que pode ser um processo demorado.

Mesmo após a aprovação de uma vacina, é preciso enfrentar possíveis obstáculos relacionados à fabricação e à distribuição, desde o aumento da produção para atender à demanda até a decisão de quais populações devem recebê-la primeiro — e a que preço. Muitas vacinas também permanecem na chamada fase quatro, uma etapa perpétua de estudo regular.

Mas os desenvolvedores de vacinas estão tentando compactar esse processo para o SARS-CoV-2, executando as fases dos ensaios clínicos simultaneamente, e a FDA, Agência de Administração de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos, prometeu acelerar o processo de aprovação.

Embora ainda seja muito cedo para afirmar quais vacinas serão eficazes, abaixo estão as candidatas que chegaram à fase três ou posterior — incluindo uma breve explicação sobre como funcionam e em que etapa se encontram.

Fotos: Brasil participa de teste final da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford

Nome: mRNA-1273

Quem: empresa de biotecnologia com sede em Massachusetts, em colaboração com os Institutos Nacionais de Saúde.

Vacina: essa candidata envolve injetar fragmentos do material genético de um vírus, nesse caso o RNAm (RNA mensageiro), nas células humanas. Esses fragmentos criam proteínas virais que imitam o coronavírus, treinando o sistema imunológico para que reconheça sua presença. Essa tecnologia nunca foi licenciada para nenhuma doença. Caso seja bem-sucedida, será a primeira vacina de RNAm aprovada para uso humano.

Situação: em 27 de julho, a Moderna anunciou que havia iniciado a terceira fase de seus ensaios clínicos, apesar de continuar monitorando os resultados da fase dois. Achados preliminares da fase um demonstraram que os participantes saudáveis produziram anticorpos contra o coronavírus e uma reação dos linfócitos T, outro grupo que atua na resposta imune humana. A fase três testará a vacina em 30 mil participantes nos Estados Unidos. A Moderna afirma que poderia disponibilizar pelo menos 500 milhões de doses por ano a partir de 2021, em parte, graças ao acordo firmado com a fabricante suíça Lonza, que permitirá produzir até um bilhão de doses por ano.

Pfizer

Nome: BNT162b2

Quem: uma das maiores farmacêuticas do mundo, com sede em Nova York, em colaboração com a empresa alemã de biotecnologia BioNTech.

Vacina: a Pfizer e a BioNTech também estão desenvolvendo uma vacina de RNAm com base nas pesquisas anteriores da empresa alemã que utilizou a tecnologia em vacinas experimentais contra o câncer. A Pfizer assinou um contrato de quase US$2 bilhões com o governo dos Estados Unidos para fornecer 100 milhões de doses até dezembro de 2020 — um acordo que entrará em vigor quando e se a vacina for aprovada e entregue.

Situação: em 27 de julho, a Pfizer e a BioNTech lançaram um estudo que combina as fases dois e três, com a inclusão de uma população diversificada em áreas com transmissão significativa de SARS-CoV-2. O efeito da vacina será investigado em 30 mil pessoas de 39 estados norte-americanos e do Brasil, Argentina e Alemanha. O projeto tem como objetivo permitir uma análise regulatória já em outubro de 2020 para cumprir o prazo de dezembro — e espera fornecer 1,3 bilhão de doses até o fim de 2021. Os resultados preliminares das fases um/dois mostram que a vacina produz anticorpos e respostas de linfócitos T específicos à proteína do SARS-CoV-2.

Universidade de Oxford

Nome: ChAdOx1 nCoV-19

Quem: a universidade do Reino Unido, em colaboração com a empresa biofarmacêutica AstraZeneca.

Vacina: a candidata da Oxford é conhecida como uma vacina de vetor viral, basicamente um “cavalo de Troia” apresentado ao sistema imunológico. A equipe de pesquisa da Oxford transferiu a proteína S (espícula) do SARS-CoV-2 — que ajuda o coronavírus a invadir as células — para uma versão enfraquecida de um adenovírus, que geralmente causa o resfriado comum. Quando esse adenovírus for injetado em humanos, a esperança é que a proteína S ative uma resposta imune. A AstraZeneca e a Universidade de Oxford planejam produzir um bilhão de doses da vacina que concordaram em vender a preço de custo.

Situação: os resultados preliminares das duas primeiras fases dos ensaios clínicos realizados com essa candidata revelaram que a vacina havia desencadeado uma forte resposta imune — incluindo aumento de anticorpos e respostas dos linfócitos T — e apenas efeitos colaterais não significativos, como fadiga e dor de cabeça. Atualmente, passou para a fase três dos ensaios clínicos, com o objetivo de recrutar até 50 mil voluntários no Brasil, Reino Unido, Estados Unidos e África do Sul.

Nome: CoronaVac

Quem: uma empresa biofarmacêutica chinesa, em colaboração com o centro de pesquisa brasileiro Butantan.

Vacina: a CoronaVac é uma vacina inativada, o que significa que utiliza uma versão não infecciosa do coronavírus. Embora os patógenos inativados não possam mais produzir a doença, ainda podem provocar uma resposta imune, da mesma forma que na vacina anual contra influenza.

Situação: em 3 de julho, a Anvisa emitiu um parecer positivo para que essa candidata avance para a fase três, enquanto continua monitorando os resultados dos ensaios clínicos de fase dois. A Sinovac afirma que até o momento, as primeiras fases mostraram que a vacina desencadeia resposta imune sem efeitos adversos graves. Os resultados preliminares dos testes anteriores realizados com essa candidata em macacos, publicados na revista científica Science, revelaram que a vacina produzia anticorpos que neutralizavam 10 cepas do SARS-CoV-2. A fase três recrutará cerca de 9 mil profissionais da saúde no Brasil.

 

Nome: nenhum

Quem: empresa farmacêutica estatal da China, em colaboração com o Instituto Wuhan de Produtos Biológicos.

Vacina: a Sinopharm também está utilizando uma vacina de SARS-CoV-2 inativado que espera estar disponível ao público até o fim de 2020. A Sinopharm relatou que os estudos iniciais realizados com a sua candidata demonstraram forte resposta dos anticorpos neutralizantes nos participantes, sem efeitos adversos sérios.

Situação: em meados de julho, a Sinopharm iniciou a fase três dos estudos clínicos com 15 mil voluntários — entre 18 e 60 anos de idade, sem condições de saúde pré-existentes sérias — nos Emirados Árabes Unidos. A empresa selecionou os Emirados Árabes Unidos porque esse país possui uma população diversificada com aproximadamente 200 nacionalidades diferentes, o que faz dele um campo de testes ideal.

Instituto de Pesquisa Infantil Murdoch

Nome: ensaio BRACE do Bacilo Calmette-Guerin

Quem: o maior instituto de pesquisa em saúde infantil na Austrália, em colaboração com a Universidade de Melbourne.

Vacina: há quase cem anos, a vacina Bacilo Calmette-Guerin (BCG) vem sendo usada para prevenir a tuberculose, expondo os pacientes a uma pequena dose de bactérias vivas. Ao longo dos anos, surgiram evidências de que essa vacina pode estimular o sistema imunológico e ajudar o organismo a combater outras doenças também. Os pesquisadores estão investigando se esses benefícios também podem se estender ao SARS-CoV-2 e esse estudo chegou à fase três na Austrália. Embora a Organização Mundial da Saúde tenha declarado em 12 de abril que não há evidências de que a vacina BCG proteja as pessoas contra a infecção pelo coronavírus.

Situação: em abril, os pesquisadores do Instituto de Pesquisa Infantil Murdoch iniciaram uma série de ensaios clínicos randomizados que avaliarão se a BCG também pode ser eficaz contra o coronavírus. O instituto pretende recrutar 10 mil profissionais da saúde para o estudo.

CanSino Biologics

Nome: Ad5-nCoV

Quem: empresa biofarmacêutica chinesa.

Vacina: a CanSino também desenvolveu uma vacina de vetor viral, utilizando uma versão atenuada do adenovírus como veículo para a introdução da proteína S do SARS-CoV-2 no organismo. Os resultados preliminares dos ensaios de fase dois, publicados no periódico The Lancet, demonstraram que a vacina produz “respostas imunes significativas na maioria dos participantes após uma única imunização”. Não foram registradas reações adversas sérias.

Situação: embora a empresa ainda esteja tecnicamente na fase dois de seu estudo, em 25 de junho, a CanSino se tornou a primeira empresa a receber aprovação limitada para administrar sua vacina em pessoas. O governo chinês aprovou a vacina apenas para uso militar, pelo período de um ano.

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