Como Mahatma Gandhi mudou o protesto político

A resistência não violenta ajudou a acabar com o controle britânico na Índia e influenciou os movimentos modernos de desobediência civil ao redor do planeta.

Por Erin Blakemore
Publicado 7 de out. de 2019, 07:00 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Amplamente referido como Mahatma, que significa “grande alma” ou “santo” em sânscrito, Gandhi ajudou a Índia a alcançar a independência através de uma filosofia de não cooperação não violenta.
Foto de Rühe, Ullstein Bild, Getty

Ele foi chamado de o “pai da Índia” e uma “grande alma em vestes de mendigo”. Sua abordagem não violenta em relação à mudança política ajudou a Índia a se tornar independente depois de cerca de um século de controle colonial britânico. Um homem frágil com uma determinação de ferro, ele ofereceu um modelo para futuros movimentos sociais ao redor do mundo. Ele foi Mahatma Gandhi e permanece como uma das figuras mais reverenciadas da história moderna.

Nascido como Mohandas Gandhi, em Guzerate, Índia, em 1869, ele fazia parte de uma família de elite. Depois de uma adolescência rebelde, ele deixou a Índia para estudar direito em Londres. Antes de ir, prometeu a sua mãe que se absteria de sexo, carne vermelha e álcool em uma tentativa de readotar as rigorosas morais hindus.

Retrato de Gandhi quando jovem.
Foto de Bettmann, Getty

Em 1893, aos 24 anos, o novo advogado se mudou para a colônia britânica de Natal, no sul da África, para advogar. Natal era lar de milhares de indianos cujo trabalho ajudava a aumentar sua riqueza, mas a colônia nutria discriminação formal e informal contra os indianos. Gandhi ficou chocado quando foi jogado para fora de vagões de trem, espancado por usar vias públicas e segregado de passageiros europeus em uma diligência.

Em 1894, Natal tirou o direito de voto de todos os indianos. Gandhi organizou uma resistência, lutou contra a legislação anti-indianos nos tribunais e liderou grandes protestos contra o governo colonial. Ao longo do caminho, criou uma imagem pública e uma filosofia de não cooperação com foco na verdade e não violenta que ele chamou de Satyagraha.

Gandhi levou Satyagraha para Índia em 1915 e logo foi eleito para o Partido do Congresso Nacional Indiano. Ele começou a pressionar por uma Índia independente do Reino Unido e organizou resistência contra uma lei de 1919 que dava às autoridades britânicas carta branca para prender revolucionários suspeitos sem julgamento. Os britânicos responderam violentamente à resistência, matando cerca de 400 manifestantes desarmados no Massacre de Amritsar.

Gandhi pressionou mais por um governo nacional, encorajando boicotes de bens britânicos e organizando protestos em massa. Em 1930, ele começou uma enorme campanha satyagraha contra uma lei britânica que forçava os indianos a comprarem sal britânico em vez de produzir localmente. Gandhi organizou uma passeata de 387 km até a costa oeste de Guzerate, onde ele e seus acólitos coletaram sal das margens do Mar Arábico. Em resposta, os britânicos prenderam mais de 60 mil manifestantes pacíficos e inadvertidamente geraram ainda mais apoio para um governo nacional.

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    Crianças em Rajkot, Guzerate, onde Gandhi passou grande parte de sua juventude, vestidas como o lendário ativista para celebrar o que seria seu 144º aniversário em 2013. Este ano marcará seu 150º aniversário.
    Foto de Rena Effendi, Nat Geo Image Collection

    Nesta época, Gandhi já tinha se tornado um ícone nacional e era amplamente referido como Mahatma, “grande alma” ou “santo”, em sânscrito. Preso por um ano por causa da Marcha do Sal, ele se tornou mais influente do que nunca. Ele protestou contra a discriminação contra os “intocáveis”, a casta mais inferior da Índia, e negociou sem sucesso por um governo nacional indiano. Determinado, ele começou o movimento Quit India (“deixem a Índia”, em português), uma campanha para que os britânicos deixassem a Índia de forma voluntária durante a Segunda Guerra Mundial. Os britânicos se recusaram e o prenderam de novo.

    Ocorreram grandes demonstrações e, apesar das prisões de 100 mil defensores de um governo nacional pelas autoridades britânicas, a balança finalmente começou a pender para o lado da independência indiana. Um Gandhi fraco foi solto da prisão em 1944 e os britânicos começaram a fazer planos para saírem do subcontinente indiano.  Foi algo um pouco amargo para Gandhi que se opunha à divisão da Índia e tentou acalmar a animosidade hindu-muçulmana e rebeliões mortais em 1947.

    Gandhi não viveu para ver a Índia independente: um hindu extremista o assassinou em 30 de janeiro de 1948. Cerca de 1,5 milhão de pessoas marcharam em seu cortejo fúnebre.

    Depois do assassinato de Gandhi em 1948, as crianças subiram em carros e homens escalaram postes telefônicos para ver seu cortejo fúnebre, que recebeu 1,5 milhão de pessoas.
    Foto de Margaret Bourke-white, The Life Picture Collection, Getty

    Ascético e determinado, Gandhi mudou a cara da desobediência civil ao redor do mundo. Martin Luther King Jr. usou suas táticas durante o Movimento dos Direitos Civis e Dalai Lama foi inspirado por seus ensinamentos, que ainda são proclamados por aqueles que procuram inspirar mudança sem incitar a violência.

    Mas embora seu legado ainda ressoe, outras pessoas se perguntam se Gandhi deveria ser reverenciado. Entre alguns indianos hindus, ele permanece controverso por ter acolhido os muçulmanos. Outras pessoas questionam se ele fez o suficiente para desafiar o sistema indiano de casta. Ele também foi criticado por apoiar a segregação racial entre negros e brancos na África do Sul e fazer comentários depreciativos sobre os negros. E, apesar de ter apoiado os direitos das mulheres, ele também se opunha aos contraceptivos e convidava mulheres jovens a dormirem nuas em sua cama como forma de testar seu autocontrole sexual.

    Mohandas Gandhi, o homem, era complexo e tinha defeitos. No entanto, Mahatma Gandhi, a figura pública, deixou uma marca impossível de se apagar na história da Índia e no exercício  da desobediência civil no mundo todo. “Depois que eu me for, nenhuma pessoa será completamente capaz de me representar”, ele disse. “Mas um pouco de mim viverá em muitos de vocês. Se cada um colocar a causa em primeiro lugar e a si próprio por último, grande parte do vácuo será preenchido.”

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