Pedro Peloso e sua expedição exploratória no coração da Amazônia

Biólogo, fotógrafo e Explorador da National Geographic foca seu trabalho na descoberta e nomeação de novas espécies.

Por Redação National Geographic
Publicado 27 de fev. de 2018, 12:06 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Em mais de uma década de viagens mundo afora em busca de répteis e anfíbios, Pedro Peloso já descreveu – ou ajudou a descrever – 20 espécies de sapos e lagartos. Peloso é biólogo, fotógrafo e Explorador da National Geographic.
Foto de Pablo Cerqueira

Enquanto a Amazônia sofre com o desmatamento, apontado por alguns pesquisadores como irreversível, exploradores lutam para ampliar o conhecimento que temos sobre a região. Pedro Peloso é um desses personagens que vasculham a floresta para registrar novas espécies e expor ao mundo uma natureza rica, de criaturas impressionantes. Nesta entrevista, concedida durante o Explorer Festival, evento que reuniu na semana passada vários Exploradores da América Latina na Cidade do México, o biólogo comenta sobre seu trabalho, a situação na Amazônia e sua perspectiva – até otimista – acerca do futuro do nosso meio ambiente.

 

NG: Por que você escolheu estudar os vertebrados terrestres na Amazônia?

PP: Eu escolhi meu projeto de estudo ao longo da carreira. Comecei a trabalhar um pouco com lagartos e serpentes e ouvia muitos sapos enquanto procurava os répteis, e não sabia da onde vinham aqueles sons. Fui atrás deles e percebi que a diversidade é enorme. Levei esses animais para o laboratório e quando eu os mostrava para as pessoas, muitas das espécies não tinham nem nome. Foi aí que me interessei em descobrir e estudar mais a diversidade. Hoje em dia, eu dou nome a bichos desconhecidos pelo mundo inteiro.

Por que você desenvolveu um interesse mais específico pelos anfíbios?

O meu interesse pelos anfíbios se deu justamente quando comecei a sair mais e procurar os animais, entender que cada um tem o seu som diferente e que existe uma diversidade extremamente grande e muito maior do que a gente pensava. E muitas das espécies de anfíbios estão sumindo no mundo inteiro por vários fatores. Um deles é uma doença que está atacando agora, um fungo que os atinge. Outro motivo é a destruição das florestas pelo homem. A poluição de ambientes aquáticos também é responsável pela diminuição de espécies. Os anfíbios são especialmente sensíveis a qualquer alteração na água exatamente porque são espécies que estão bastante concentradas ali durante sua vida.

Como foi o início da operação dentro da Amazônia?

Foi difícil por um lado, já que eu não sabia nada sobre a fauna. Tudo o que eu via era novo, era muito difícil saber por onde começar, tem muito menos livros e artigos sobre a floresta do que tinha sobre a Mata Atlântica. Por outro lado, foi fácil minha adaptação ao campo, porque eu gosto muito de ir a campo. Fui muito durante minha graduação para a Mata Atlântica, eu tinha bastante experiência, sabia um pouco como era procurar animais. Então, houve a parte fácil e a parte difícil.

O que a Amazônia tem de mais fascinante na sua opinião?

Ela não é sempre essa floresta linda com pássaros voando para todo lado, algo que muita gente pensa que é. A verdade é que a Amazônia é uma floresta tão densa que a maioria das vezes que estamos acampando na floresta, por exemplo, e ficamos cinco a seis dias sem ver o sol, porque tem muita chuva, a floresta é muito alta. Ao mesmo tempo que estamos nesse ambiente meio claustrofóbico, a diversidade é extremamente alta, por onde andamos esbarramos em aranhas, animais, cobras, aves, sapos. O que me fascina é essa diversidade enorme em qualquer lugar para onde eu vá.

Tem alguma história diferente que tenha se destacado enquanto trabalhava em campo?

São muitas histórias que acontecem. Eu já me perdi na Amazônia, por exemplo, sem saber o rumo de casa por umas oito ou dez horas. Tivemos que decidir se arranjávamos um lugar para dormir, se continuávamos procurando a saída de volta para casa ou se ficávamos andando a esmo até algo acontecer e alguém ajudar a gente. Eventualmente, conseguimos encontrar o caminho de volta sem maiores apuros.

“O que me fascina é essa diversidade enorme em qualquer lugar para onde eu vá.”

por Pedro Peloso
Sobre a Amazônia.

Qual foi o seu caminho até você se tornar um Explorador National Geographic?

Eu acho que o caminho que percorri foi igual ao de muitos outros exploradores. Eu estudei biologia, depois, o meu mestrado e fui fazer o doutorado nos Estados Unidos. Sempre precisei correr atrás de financiamento para minhas expedições porque uma expedição na Amazônia é muito cara. Então, foi assim o meu primeiro contato com a National Geographic para me tornar um explorador. Mas eu tive algumas histórias de algumas espécies que descobri publicadas pela National Geographic antes. O meu contato foi em duas vias, primeiro com as notícias e depois ao me tornar um Explorador propriamente dito, com dinheiro da Society.

Um dos meus primeiros contatos que tive com a Nat Geo foi por causa de um sapo que descobri na Amazônia que tem um canto bastante alto e bem agudo que parece de um morcego, tentamos bolar um nome mais criativo para essa espécie e e lembramos da história que o Ozzy Osbourne, o roqueiro, mordeu um morcego no palco. Então, demos o nome da espécie de Dendropsophus ozzyi, em homenagem ao Ozzy e essa história foi publicada na National Geographic.

O que você faria se não fosse explorador?

É uma pergunta difícil de responder porque eu já faço muitas coisas fora explorar. Além do meu trabalho no campo, eu dou aula em vários temas da biologia na universidade, faço muita fotografia. Eu gosto dessa parte mais artística, indo muito mais longe que animais, paisagens e pessoas. Acho que eu ainda assim trabalharia com ensino, comunicação, mas talvez em uma parte mais artística da coisa, como a fotografia, por exemplo.

Como você acha que estará o meio ambiente em 20 anos?

Eu vou responder a essa pergunta de duas maneiras. Como eu vejo que estavam as coisas há dez anos, já que não tenho a experiência de 20 anos atrás, e como eu acho que estarão daqui a 20 anos. Há dez anos, eu acho que as pessoas tinham menos consciência do que estavam causando ao meio ambiente, mas com a informação tão rápida hoje, com o celular e a internet, as pessoas têm criado essa consciência maior sobre a preservação. Já para o futuro, daqui a 20 anos, eu vejo que há um desafio enorme, porque continuamos perdendo uma grande área de florestas muito rápido, mas eu sou otimista. Acredito que conseguimos algumas vitórias importantes, como a demarcação de áreas para proteção tanto pelo governo como áreas privadas, aquelas que as pessoas compram e transformam em áreas naturais. Então, eu sou otimista, gosto de ver que a preservação está cada vez mais presente aí na nossa vida.

Como você vê sua carreira em 20 anos?

Eu me vejo continuando a explorar. Acho que eu nunca vou parar de viajar. Sempre volto de uma expedição pensando quando e para onde será a próxima, eu não acho que esse fogo vai se apagar tão rápido. A minha esposa também é bióloga e exploradora, o que faz com que tenhamos a possibilidade de ir para campo juntos, descobrimos coisas juntos. Temos um futuro bastante longo como exploradores. E a minha formação me permite também ensinar, tenho dado aula, orientado gente mais nova, e a minha paixão é poder pegar esses meninos e colocá-los para serem também exploradores e cientistas no futuro.

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