Na Ilha dos Daltônicos, o paraíso tem um tom diferente

Uma ilha do Pacífico tem uma história genética única que afeta a forma como a cor é entendida.

Por Daniel Stone
fotos de Sanne De Wilde
Publicado 7 de fev. de 2018, 18:08 BRST, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
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MICRONÉSIA – O atol do Oceano Pacífico chamado de Pingelap – aqui retratado em infravermelho – também é conhecido como a Ilha dos Daltônicos, pois acredita-se que até 10% dos seus residentes carreguem o gene da acromatopsia, causador do daltonismo total. No século 18, um tufão eliminou a maior parte da população da ilha e, dizem, um cacique dotado do gene ajudou a repovoá-la.
Foto de Sanne De Wilde, Noor

O atol de Pingelap, ilha da Micronésia no Pacífico Sul, às vezes é chamado por outro nome – Ilha dos Daltônicos. Esse é o apelido que Oliver Sacks atribuiu a ilha em seu livro de 1996 que explorou o cérebro humano. Pingelap despertou o interesse de Sacks e muitos outros cientistas por sua estranha circunstância genética. De acordo com a lenda, um tufão devastador em 1775 causou uma diminuição da população. Um dos sobreviventes, o governante, carregava um gene raro para um tipo extremo de daltonismo. Eventualmente, ele passou o gene para as futuras gerações da ilha.

Hoje, acredita-se que cerca de 10% das pessoas da ilha ainda possua o gene para essa condição, conhecida como acromatopsia completa. A taxa é significativamente maior do que a ocorrência de 1 em 30.000 em outros lugares do mundo. Mas 10% também é baixo o suficiente para que o conceito de cor – e quem pode vê-la – tenha adquirido um novo significado entre os habitantes em Pingelap.

A fotógrafa belga Sanne De Wilde usou a ilha e o conceito de daltonismo para inspirar uma série de imagens sobre a genética. Durante uma visita a Pingelap em 2015, ela criou uma série de fotos mostrando o mundo como uma pessoa daltônica o vê. Algumas imagens estavam completamente em preto e branco. Mas algumas pessoas com acromatopsia também alegaram que podiam ver pequenas variações de algumas cores, como vermelho ou azul. Então, ela usou configurações de fotos e lentes infravermelhas em sua câmera para distorcer e abafar certas cores. Em seguida, em um golpe de arte, ela convidou algumas das pessoas a pintar algumas das imagens com aquarelas para refletir como elas viam o mundo.

O desafio da deficiência visual, é claro, é que é difícil entender algo que o olho nunca enxergou. O que é laranja para uma pessoa que só conhece preto e branco? "A cor é apenas uma palavra para aqueles que não conseguem vê-la", observou De Wilde. Assim, uma vez de volta da ilha, ela criou em seu estúdio em Amsterdã uma instalação como uma forma de osmose reversa, para simular o daltonismo. Os visitantes foram convidados a pintar usando cores que nunca parecem aparecer. E depois, para sua surpresa e perplexidade, eles eram confrontados com suas obras de arte coloridas feitas as cegas.

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    "O que eu realmente estou tentando fazer é convidar as pessoas a entender uma nova maneira de ver e interagir com o mundo", diz De Wilde. Seus outros projetos, sobre albinismo e nanismo, ocupam a mesma sobreposição de genética, geografia e estigma social. Mas há algo primordial na visão, os olhos como os primeiros embaixadores do corpo em relação ao mundo. Um projeto sobre cores torna-se um projeto sobre perspectiva e como duas pessoas nunca são iguais.

    Dois meninos seguem para a costa com suas capturas, segurando o peixe fora da água para protegê-lo dos tubarões. O peixe é comido cru e, como no Japão, é chamado de sashimi.
    Foto de Sanne De Wilde, Noor

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