Agora é oficial: fóssil de dinossauro superpreservado é uma nova espécie

Um novo estudo sobre o fóssil também sugere que o dino encouraçado possuía camuflagem anti-predadores.

Por Michael Greshko
Publicado 8 de nov. de 2017, 20:35 BRST, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT

Há cerca de 110 milhões de anos, onde agora é Alberta, no Canadá, um dinossauro parecido com um abacaxi de 1,2 tonelada acabou morto num rio.

Hoje, esse dinossauro é um dos melhores fósseis do gênero já encontrados – e ele acaba de ganhar um nome.

Eis o Borealopelta markmitchelli, um devorador de plantas também conhecido como nodossauro, que viveu durante o período Cretáceo. Depois de morrer, sua carcaça terminou envolta em lama de uma antiga via marítima, e a parte da frente ficou preservada em 3D com detalhes extraordinários.

Descoberto por acidente em 2011 e revelado no Museu Royal Tyrrell de Alberta em maio deste ano, o fóssil imediatamente ofereceu ao mundo um vislumbre sem precedentes sobre a anatomia e a vida de dinossauros encouraçados.

"É um belíssimo espécime", diz Victoria Arbor, pesquisadora pós-doutora do Museu Real de Ontário que estuda outro dinossauro encouraçado e bem preservado chamado Zuul crurivastator. "É muito bom ter exemplares como esse e Zuul que realmente nos dão uma ideia de como esses dinossauros se pareciam quando estavam vivos".

Além de anunciar seu nome, a primeira descrição científica do nodossauro, publicada hoje na revista científica Current Biology, revela ainda mais segredos.

"Reconhecemos logo de cara, há seis anos, que isso seria especial", conta Don Henderson, curador dos dinossauros do Museu Royal Tyrrell. "Mas acho que não nos demos conta do quão especial seria".

Marca na ciência

Tem sido um longo caminho para o Borealopelta. O isolamento subterrâneo da criatura chegou ao fim em 21 de março de 2011, quando o operador de equipamentos pesados Shawn Funk tropeçou no fóssil em uma mina de areias petrolíferas no norte de Alberta, operada pela empresa de energia Suncor.

O fóssil então viajou ao laboratório de preparação do Museu Royal Tyrrell, onde o técnico Mark Mitchell pulverizou minuciosamente a rocha em volta – uma façanha que levou mais de 7 mil horas, em quase seis anos. Apenas o crânio levou cerca de oito meses para sair.

"Não fosse por seu comprometimento, [Borealopelta] provavelmente nunca teria saído à luz", diz Caleb Brown, pesquisador pós-doutor do Museu Royal Tyrrell e principal autor do novo estudo. "É um esforço gigantesco... os preparadores são muitas vezes os heróis desconhecidos."

Todo o trabalho foi realizado com um orgulho extraordinário. O novo estudo confirma que o dinossauro representa um novo gênero e uma nova espécie, e seu nome formal se traduz em "escudo do norte de Mark Mitchell" – uma homenagem para o libertador do fóssil, sua armadura impecável e a localização onde foi sepultado.

“Fiquei muito emocionado [quando descobri seu nome]; joguei as mãos para o alto e comemorei”, conta Mitchell.

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    O técnico do Museu Royal Tyrrell liberta vagarosamente o pé e a sola do pé da rocha ao redor. O trabalho minucioso de Mitchell vai preservar por muitos anos os misteriosos aspectos do animal.
    Foto de Robert Clark

    Um jeito de disfarçar

    A afirmação mais polêmica do estudo envolve a potencial coloração do nodossauro. Os autores do estudo dizem que a cor está preservada em uma sujeira negra, que reveste grande parte do exterior do dinossauro.

    O coautor do estudo e paleobiólogo da Universidade de Bristol, Jakob Vinther, diz ter encontrado indícios químicos do pigmento vermelho-castanho feomelanina dentro desses revestimentos – considerados remanescentes da pele do animal.

    Um detalhe importante é que Vinther e seus colegas não encontraram sinais de pigmento no animal todo. Após a amostragem ao longo das secções transversais do fóssil, Vinther comenta que a barriga parece não conter feomelanina, o que tornaria essa parte do animal mais clara.

    Enquanto alguns animais usam suas costas escuras e ventres claros para ajudar a regular a temperatura do corpo, outros usam a modelagem como uma forma de camuflagem chamada contra-iluminação. Este visual de dois tons disfarça a aparência de um animal de longe e dificulta que predadores o localize.

    O paleobiólogo Jakob Vinther alega que o pigmento vermelho-castanho feomelanina cobria boa parte do corpo do Borealopelta, menos sua barriga. Se estiver certo, essa coloração com duas tonalidades pode ter ajudado o animal a evitar predadores.
    Foto de Ilustração de Davide Bonadonna

    Em ecossistemas modernos, mamíferos terrestres com massa corporal de mais de uma tonelada, como rinocerontes, não precisam desse tipo de estratégia de defesa visual contra predadores. Mas, se Borealopelta precisava, é porque seus predadores eram extremamente eficazes.

    "A história resumida é: o Cretáceo é assustador", aponta Vinther. "Temos evidências de que esses terópodes foram comendo Borealopelta [e outros] herbívoros grandes e fortemente encouraçados, derrubando-os e engolindo-os".

    Afirmações coloridas

    Para alguns especialistas, porém, o novo estudo não apresenta a evidência necessária para a camuflagem.

    "O espécime é certamente incrível, certo? É uma descoberta paleontológica absolutamente maravilhosa ", diz Alison Moyer, pesquisadora pós-docente da Universidade Drexel, que estudou tecidos moles fossilizados. Mas ela também afirma que "o estudo relativo à pigmentação e à coloração – e, portanto, conclusões sobre relações predadoras/presas – tem alguns problemas".

    A evidência de Vinther, obtida em testes financiados pela National Geographic Society, é indireta. Apesar da impressionante preservação do nodossauro, ele poderia encontrar apenas vestígios de produtos químicos que se pensavam serem deixados para trás quando esse pigmento particular se rompe.

    Durante a vida, o nodossauro tinha mais de 5 metros de comprimento e pesava 1300 quilos. Pesquisadores suspeitavam que ele tinha sido fossilizado por inteiro, mas quando foi descoberto em 2011, apenas a parte da frente estava intacta para ser recuperada.
    Foto de COMPOSIÇÃO DE OITO IMAGENS FOTOGRAFADAS NO MUSEU ROYAL TYRRELL MUSEUM DE PALEONTOLOGIA, EM DRUMHELLER, ALBERTA

    Para Moyer, o estudo não aborda totalmente como a química do fóssil pode ter mudado ao longo do tempo, ou se a camada enegrecida é realmente uma pele fossilizada ou restos de um manto bacteriano que cresceu sobre o dinossauro decadente. Ela também observa que a pele preservada não se estende ao baixo ventre de Borealopelta, por isso ela não está convencida de que a região carecia da pigmentação.

    Além disso, vários estudos documentaram o mesmo produto de degradação identificado no relatório como um componente natural de sedimentos marinhos, precisamente onde Borealopelta fossilizou.

    "Há infinitas possibilidades que não são consideradas e que seriam mais parcimoniosas do que saltar para essa conclusão", diz ela.

    A paleontóloga Mary Schweitzer, da Universidade Estadual da Carolina do Norte, especialista em preservação de tecidos moles em dinossauros, concorda plenamente com Moyer. "Os dados não sustentam as conclusões, na minha opinião", comentou por e-mail.

    Vinther conta que ele não encontrou nenhum dos compostos nos sedimentos que envolvem o fóssil do Borealopelta, apenas em sua pele e em altas concentrações.

    Mesmo assim, diz o paleontólogo da Universidade de Lund, Johan Lindgren, é possível que os compostos associados à feomelanina sejam de outras substâncias que caíram durante a fossilização. "Destaco mais uma vez o quão pouco sabemos sobre como os tecidos moles são preservados em animais", comenta ele.

    Henderson acrescenta que está ansioso pelos anos de debate saudável que o nodossauro certamente irá provocar. O espécime está alojado em um museu, disponível para outros pesquisadores estudar usando todo tipo de técnicas.

    Borealopelta, diz ele, "está em um lugar seguro para algo verdadeiramente excepcional – e não escondido na sala de estar de alguém".

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