Por que os pterossauros foram as criaturas voadoras mais estranhas

Novos achados e estudos estão mudando o modo como entendemos as maiores, mais ferozes e estranhas criaturas que cruzaram os céus da Terra.

Por Richard Conniff
fotos de Robert Clark
Publicado 2 de nov. de 2017, 16:07 BRST, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Alto como uma girafa e com a envergadura de um caça F-16, o Quetzalcoatlus northropi foi um dos maiores animais voadores do planeta. Este modelo, em tamanho real, sendo pintado em um ateliê em Minnesota, vai ser levado a um centro cultural no Kuwait.
Foto de Robert Clark

Confira a reportagem completa: Incríveis animais alados na edição de novembro de 2017 da revista National Geographic Brasil. Publicada por ContentStuff.

Ao ouvir o termo “pterossauros”, a maioria das pessoas estranha. Até que você acrescenta “como os pterodátilos”.

Esse é o nome comum atribuído ao primeiro pterossauro, descoberto ainda no século 18. Desde então, os cientistas descreveram mais de 200 espécies de pterossauro, mas as ideias correntes a respeito desses animais – os dragões alados que dominavam os céus na era Mesozoica, há 162 milhões de anos – estão longe de se atualizar. Nós ainda os imaginamos como répteis de cabeça pontuda, asas coriáceas e voo desajeitado – além, é claro, de exibirem propensões assassinas.

Basta ver, por exemplo, o filme Mil Séculos Antes de Cristo, de 1966, no qual um pterossauro guinchante arrebata Raquel Welch para alimentar a sua ninhada. (Alerta: ela sobrevive.) Para uma versão mais atualizada, há o Jurassic World – O Mundo dos Dinossauros, de 2015, no qual essas criaturas continuam a carregar os seres humanos pelo céu, cumprindo o triste destino de personagens sempre estereotipados. (É bom lembrar que os derradeiros pterossauros se extinguiram há 66 milhões de anos, muito antes de os primeiros seres humanos aparecerem no planeta.)

Fibras similares a pelos deixaram marcas neste fóssil de Jeholopterus da China. A penugem isolante é um indício de que os pterossauros posteriores tiveram sangue quente.
Foto de Institute of Vertebrate Paleontology and Paleoanthropology, Pequim

Um surto de descobertas de fósseis trouxe à luz uma nova variedade de formatos, tamanhos e comportamentos dos pterossauros. Alguns paleontólogos estão seguros de que centenas de espécies podem ter convivido nas mesmas épocas, compartilhando os hábitats tal como o fazem as aves modernas. Deste mundo faziam parte monstros como o Quetzalcoatlus northropi, um dos maiores animais voadores que se conhece, quase tão alto quanto uma girafa, com asas cuja envergadura chegava a 10,5 metros e que provavelmente exibia uma tendência a agarrar bebês dinossauros. Mas também havia pterossauros tão pequenos quanto pardais, adejando pelas matas e talvez se alimentando de insetos; ou, ainda, versões enormes que pairavam no ar, sobrevoando os oceanos por dias, como os albatrozes; assim como os que permaneciam em baixios salobros, comendo por filtração, como os flamingos.

Entre os achados mais excitantes está um sortimento de ovos fossilizados. O escaneamento de ovos intactos permitiu o exame de embriões sob a casca, e ajudou a explicar o desenvolvimento dos filhotes recém-eclodidos. Um dos ovos estava num pterossauro Darwinopterus encontrado na China, juntamente com outro ovo, aparentemente expulso durante o impacto que matou a fêmea. A “Sra. T” tornou-se assim o primeiro espécime sobre o qual não resta dúvida quanto ao sexo. E, como não exibia crista na cabeça, também oferece o primeiro indício de que, pelo menos no caso de alguns machos, assim como se dá entre as aves modernas, as cristas avantajadas e coloridas desempenhavam uma função em exibições de natureza sexual. Tais descobertas conferem aos pterossauros um aspecto mais vívido como animais de verdade. E também despertam nos pesquisadores um apetite por mais detalhes.

A caminho do bolo em camadas geológicas do Parque Nacional Big Bend, no sudoeste do estado americano do Texas, o paleobiólogo britânico Dave Martill menciona uma lista de tarefas a executar nessa breve missão de reconhecimento: primeiro, topar com uma cascavel interessante; segundo, achar no terreno um crânio completo de Quetzalcoatlus. Claro que a probabilidade de ticar o primeiro item da lista é infinitamente maior. Mas ele e o paleontólogo Nizar Ibrahim logo mergulham numa discussão sobre o melhor meio de obter uma permissão de pesquisa caso encontrem o segundo item.

Aí está, portanto, a primeira regra de quem pesquisa os pterossauros: é preciso ser otimista. O fato inegável é que os fósseis são muito raros. Todo o deslumbrante mundo deles, delineado apenas com base em ossos ocos e de paredes finas como folhas de papel, há muito virou pó. Tal escassez vale sobretudo para o Quetzalcoatlus, que se tornou conhecido graças apenas a uns raros fragmentos achados no Big Bend nos anos 1970.

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    Eriçado de dentes para a captura de peixes, este fóssil de Anhanguera piscator conserva o formato original. O crânio e outros ossos foram encontrados na região da Chapada do Araripe, no Ceará.
    Foto de Nsm-pv 19892, National Museum Of Nature And Science, Tokyo

    Martill e Ibrahim dedicam três dias à busca de ossos nas encostas gretadas. Passam e repassam por um local de nome promissor, a Crista dos Pterodátilos, consultando com frequência as anotações feitas nos mapas usados pelo descobridor do Quetzalcoatlus. Atentos às sutilezas dos estratos geológicos, eles vão evocando mundos perdidos.

    No final, os pesquisadores não topam com o mais débil resquício de pterossauro. Como prêmio de consolação, o fêmur de um dinossauro gigante, talvez um Alamosaurus. Mas dinossauros não são pterossauros e vice-versa. Enquanto deixam o parque, os dois paleontólogos já planejam a retomada da busca pelo Quetzalcoatlus, impelidos pelo fascínio da intrigante diversidade de formatos, tamanhos e comportamentos dos pterossauros, uma variedade que apenas se vislumbra nos mais raros indícios fósseis.

    As concepções científicas a respeito dos pterossauros também se mostram diversas – mesmo no que se refere a questões básicas do tipo: qual a aparência que eles tinham e como se comportavam. Isso se deve, em parte, ao fato de que os pesquisadores tiveram de elaborar as suas hipóteses a partir de um mero punhado de espécimes, muitas vezes desprovidos de detalhes cruciais. Outro motivo é a óbvia estranheza na anatomia dos pterossauros, aparentemente mal adaptada para a vida na terra ou no ar. Alguns cientistas sugeriram que os pterossauros se arrastavam sobre o próprio ventre. Outros os imaginaram andando eretos sobre as pernas traseiras, feito zumbis. E ainda há os que os retrataram como quadrúpedes, com as asas dobradas nas laterais, mas avançando desajeitadamente, como se estivessem se acostumando ao uso dos membros dianteiros. Para alguns pesquisadores, os pterossauros eram de tal modo deficientes em termos aeronáuticos que apenas conseguiam alçar voo depois de se pendurar de cabeça para baixo e se lançar da borda de penhascos íngremes.

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    Confira a reportagem completa: Incríveis animais alados na edição de novembro de 2017 da revista National Geographic Brasil. Publicada por ContentStuff.  

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