Caçadores do monstro do Lago Ness tentarão encontrá-lo por DNA

Esta busca deverá responder se o famoso criptídeo é real. Mas, mesmo se não for, cientistas ainda obterão dados ecológicos valiosos.

Por Michael Greshko
Publicado 1 de jun. de 2018, 15:09 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
A pesquisa irá resultar em um perfil genético de todo o ecossistema do Lago Ness, não ...
A pesquisa irá resultar em um perfil genético de todo o ecossistema do Lago Ness, não importa se houver vestígios do monstro ou não.
Foto de Reprodução - nationalgeographic.com

Um grupo de cientistas planeja descobrir de uma vez por todas se o “morador” mais famoso da Escócia, o monstro do Lago Ness, está ou já esteve algum dia escondido nas profundezas através do sequenciamento de todos os fragmentos de DNA que conseguirem encontrar nas águas turvas do lago.

Desde abril de 2018, um grupo de pesquisa internacional liderado pelo geneticista da Universidade de Otago, Neil Gemmell, vem coletando amostras de água do icônico lago de água doce. Neste mês, a equipe de Gemmell começará a extrair o DNA das amostras, em busca da impressão digital genética do Nessie.

A equipe espera divulgar suas descobertas até janeiro de 2019. Enquanto isso, o projeto esclarecerá muitas questões quanto ao DNA ambiental, também chamado de eDNA, um campo relativamente novo de estudo que vem oferecendo aos cientistas percepções inéditas.

Quer saber tudo sobre o Projeto Lago Ness? Nós temos as informações.

O que é DNA ambiental?

Enquanto os organismos seguem suas vidas normalmente, eles deixam pequenos pedaços deles mesmos para trás, seja na forma de pele, fezes, ovos, esperma e mais. Essa mistura biológica contém amostras de DNA dos organismos, que então se misturam com a água e com a terra ao seu redor. Isso significa que um único frasco de solo ou água pode atuar como uma acidental biblioteca genética. Cientistas podem então isolar e decodificar este eDNA e compará-lo a um banco de dados de sequências de DNA já conhecidas e identificar as criaturas que o deixaram para trás.

Recentemente, o banco de dados de referências explodiu em tamanho, com cada vez mais sequências se acumulando e devido ao custo de sequenciamento que continua despencando. A quantidade de bases de DNA em Genbank, um grande banco de dados de DNA administrado pelo Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos, vem dobrando a cada 18 meses desde 1982. Ele agora abriga mais de 260 trilhões de pares de bases de DNA espalhados em mais de 200 milhões de sequências.

Como o DNA ambiental ajuda a ciência?

O DNA ambiental é eficaz porque permite aos pesquisadores conseguirem obter uma amostra genética de todo um ecossistema de uma só vez.

“Imagine poder coletar amostras de solo e água de um ecossistema e catalogar todas as espécies que vivem nele”, disse Helen Taylor, pesquisadora da Universidade de Otago que trabalha com Gemmell, em um post de blog em 2017 sobre o eDNA. “Será o fim das amostragens invasivas ou precisar levar organismos inteiros para o laboratório para identificá-los sob o microscópio”.

O eDNA já está ajudando os cientistas a fazerem grandes descobertas. Em 2011, biólogos encontraram o DNA de uma carpa nos canais que circundam Chicago, sugerindo que o peixe invasivo foi posicionado para se mudar para os Grandes Lagos. Em 2016, biólogos coletaram amostras da água do mar na costa do Qatar, buscando compreender a genética por trás do grande “enxame” de tubarões-baleia. Em 2017, pesquisadores divulgaram que conseguiram isolar o DNA dos neandertais a partir do solo de cavernas na Espanha, Rússia e Bélgica.

E, atualmente, uma equipe da National Geographic Society está tentando extrair eDNA a partir de amostras de solo coletadas na Ilha de Nikumaroro, no sul do Pacífico, para descobrir se um suspeito sepulcro no local possa ter pertencido à aviadora Amelia Earhart.

O que isso tem a ver com o monstro do Lago Ness?

O Monstro do Lago Ness, ou Nessie, é dito viver no Lago Ness, um lago profundo de água doce no norte da Escócia, formado por geleiras há mais de 10 mil anos. Histórias e contos de aparições perduram ao longo de décadas, mas cientistas consideram a imagem clássica do Nessie, uma criatura reptiliana de pescoço alongado, algo impossível e uma farsa.

Alguns criptozoólogos argumentam que o Nessie seja um plesiossauro, uma espécie de réptil marinho de pescoço longo que viveu na era dos dinossauros. Evidências fósseis sugerem de forma veemente que, assim como os dinossauros não aviários, os plesiossauros foram extintos há não mais de 66 milhões de anos.

Caso alguns deles houvessem sobrevivido até hoje, seria difícil para eles conseguirem viver no lago. Estudos ambientais sugerem que o Lago Ness não abriga peixes suficientes para alimentar uma população reprodutora de plesiossauros, que poderiam pesar mais de 900 quilos cada.

Como alternativa, alguns teóricos sugerem que as testemunhas do Nessie possam ter avistado um esturjão exibido ou um bagre de Wels. No entanto, nenhum dos dois peixes foi ainda capturado no lago.

“Não há evidências do bagre de Wels no Lago Ness, assim como não há nenhuma evidência do meu [candidato] preferido, o esturjão”, escreveu o líder do Projeto Lago Ness, Adrian Shine, em um e-mail para a revista The Skeptic. “Ambas as teorias surgiram quando o foco de nossa atenção se voltou cada vez mais para os peixes como candidatos, entre as reduzidas possibilidades de qualquer criatura estranha ser a causa das aparições”.

Será então o projeto de DNA ambiental inútil?

De maneira alguma. A pesquisa de Gemmell deve resultar em um perfil genético de todo o ecossistema do Lago Ness, algo muito útil não importa o que encontrarem. Espécies invasivas de salmão estão entrando no Lago Ness e ameaçando espécies nativas, por exemplo, e o perfil do eDNA deverá ajudar a monitorá-los.

A publicidade também não é coisa pequena, principalmente para um campo da ciência se desenvolvendo tão rapidamente. “Eu estava cético com a participação do líder do meu laboratório na caça ao monstro do Lago Less”, escreveu Taylor em 2017, “até que compreendi que era uma maneira excelente de promover as incríveis possibilidades do DNA ambiental”.

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