Ele, que localizou o Titanic, será capaz de encontrar o avião de Amelia Earhart?
Explorador marítimo Robert Ballard lidera expedição ao Pacífico para descobrir o destino da famosa aviadora, que desapareceu há mais de 80 anos.
Amelia Earhart e o navegador Fred Noonan desapareceram há mais de 80 anos, em 2 de julho de 1937, durante o segundo trecho de seu voo ao redor do mundo. Após decolar de Lae, em Nova Guiné, no Lockheed Electra 10E de Earhart, a próxima parada da dupla seria a pequena Ilha Howland, situada pouco acima da linha do Equador. Mas eles não a localizaram e, apesar de inúmeras tentativas, ninguém jamais conseguiu encontrá-los.
Agora Robert Ballard, o homem que encontrou o Titanic, planeja procurar sinais dos aviadores desaparecidos. Em 7 de agosto, ele partirá de Samoa rumo a Nikumaroro, uma ilha desabitada que faz parte da nação de Kiribati, na Micronésia. A expedição será filmada pela National Geographic para um documentário de duas horas que vai ao ar em 20 de outubro.
O Explorador Itinerante da National Geographic levará o E/V Nautilus, um moderno navio de pesquisa, e extensa perícia subaquática para ajudar nessa busca histórica. Além de localizar o Titanic, Ballard encontrou os destroços de uma lancha-torpedeira de John F. Kennedy utilizada na Segunda Guerra Mundial no mar de Salomão, o navio de guerra alemão Bismarck no Atlântico e muitas embarcações antigas no Mar Negro, além de fontes hidrotermais perto de Galápagos.
Earhart é procurada desde seu desaparecimento. A Guarda Costeira e a Marinha dos Estados Unidos vasculharam a região pelo ar e pelo mar durante duas semanas. George Putnam, marido de Earhart, recrutou marinheiros civis para continuar a caçada. Por fim, o governo dos Estados Unidos acabou declarando que o avião muito provavelmente havia sofrido um acidente e afundado no Pacífico.
Contudo, não faltam teorias sobre o que aconteceu com Earhart, como a que ela teria sido capturada e executada por japoneses ou até que teria sobrevivido e levado uma vida em anonimato como dona de casa em Nova Jersey. Com o transcorrer dos anos, muitos entusiastas buscaram pistas de Earhart ou de seu avião nas Ilhas Marshall, em Saipan e nas profundezas do mar.
Uma teoria predominante, proposta pelo Grupo Internacional de Recuperação de Aeronaves Históricas (TIGHAR, na sigla em inglês), é que Earhart e Noonan pousaram em Nikumaroro. O recife de corais está situado a cerca de 650 quilômetros ao sul de Howland, próximo à rota do voo (157 a Sudeste 337 a Noroeste) que Earhart identificou em sua última mensagem confirmada de rádio. A ilha possui um recife plano onde Earhart poderia ter pousado o Electra na maré baixa.
O TIGHAR enviou 13 expedições à ilha, incluindo uma em parceria com a National Geographic que levou cães farejadores para procurar os restos mortais de Earhart. Os cães indicaram um suposto acampamento onde alguém provavelmente havia morrido e se decomposto há muito tempo. Nenhum osso foi encontrado, mas foram coletadas amostras de solo e estão sendo feitos testes de DNA.
“Torço muito para que a expedição tenha êxito”, afirma Ric Gillespie, diretor executivo do TIGHAR. Ele considera que a hipótese de Nikumaroro já foi comprovada há muito tempo. Entretanto, afirma ele, “o público quer ver um pedaço de avião.”
Duas linhas de evidências obtidas pelo TIGHAR convenceram Ballard de que Nikumaroro é o local de buscas mais promissor. Uma fotografia da ilha feita em outubro de 1937 mostra um contorno desfocado que poderia ser parte do trem de pouso do Electra. E mensagens de rádio registradas nos dias seguintes ao desaparecimento de Earhart sugerem que ela tinha naufragado em Nikumaroro.
Todas as buscas anteriores por vestígios do destino de Earhart se revelaram inconclusivas, mas Ballard está determinado.
“Sou um caçador — é preciso se colocar no lugar da presa que você está caçando”, afirma o geólogo marinho e ex-oficial da marinha, que se imaginou enfrentando as escolhas de Earhart. “Eu me imagino na cabine do avião e começo a me transformar em Amelia.”
A caçada do mês que vem será pelo mar e por terra. Uma equipe liderada por Fredrik Hiebert, arqueólogo da National Geographic Society vasculhará pontos específicos da ilha, enquanto Ballard e Allison Fundis, Diretor Executivo de Operações da Ocean Exploration Trust, supervisionarão a etapa submarina. A estratégia de buscas de Ballard, aperfeiçoada ao longo de mais de 150 expedições submarinas, requer o uso de sonares para mapear o fundo do mar e conta com uma variedade de veículos de operação remota, incluindo um que pode submergir a profundidades de quase 4 mil metros.
“Sem dúvida, essa é a mais sofisticada tecnologia subaquática que já tivemos”, afirma Tom King, arqueólogo que participou de várias expedições a Nikumaroro. “Será muito interessante utilizar a tecnologia de Ballard.”
Ainda assim, a probabilidade de encontrar provas conclusivas é remota. O próprio Ballard descreve a área em que ele concentrará as buscas como um “movimentado encontro do mar com um recife” — um lugar onde um avião seria facilmente estraçalhado.
Durante sua longa e ilustre carreira — sendo inclusive indicado recentemente para chefiar o Instituto Cooperativo de Exploração Oceânica da NOAA (sigla em inglês para a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica) — Ballard declarou diversas vezes que atua no ramo de encontrar coisas. Mas, ao que parece, o explorador de 77 anos está um pouco mais filosófico com a próxima expedição, que poderia ser a última dele.
“Talvez algumas coisas estejam fadadas a não ser encontradas. Veremos se Amelia é uma delas”, afirma ele.