Pontes de árvores vivas na Índia permanecem fortes por centenas de anos
As raízes entrelaçadas das falsas-seringueiras formam pontes que — ao contrário das estruturas de aço — ficam mais resistentes com o passar do tempo.
CHERRAPUNJI, ÍNDIA Pode ser difícil caminhar nas colinas verdejantes do estado de Meghalaya — uma área montanhosa, encharcada, acidentada e cortada por riachos, na remota e bela região nordeste da Índia.
As encostas irregulares, cobertas de névoa, estão repletas de vegetação rasteira e são escorregadias por causa da lama. Durante a estação chuvosa, as trilhas entre as aldeias desmoronam desfiladeiro abaixo, e a região fica repleta de cachoeiras e rios caudalosos, impossíveis de serem atravessados. Transitar por esses obstáculos naturais — em um clima com precipitação anual aproximada de 12 metros — requer pés hábeis, pulmões de ferro e capacidade de observação demorada. São necessários milhares de anos de atenção. Vidas inteiras de experimentação. Gerações focadas na resolução de problemas.
O resultado, cortesia da engenhosidade dos povos khasis e jaintias, que percorriam esses caminhos assim que aprendiam a andar, são as pontes formadas por raízes de árvores na região de Cherrapunji.
A falsa-seringueira, cujo nome científico é Ficus elastica, abundante na região, produz fortes raízes aéreas semelhantes a cordas que, quando atadas a uma estrutura de troncos ocos de palmeira noz-de-areca ou amarradas em caules de bambu, podem ser direcionadas pacientemente ao longo de décadas para crescer na horizontal, sobre barrancos íngremes e margens de rios. Em algum momento, com uma lentidão dolorosa, mas de forma incansável e constante, as raízes são levadas a se entrelaçar, de modo a formar suportes e apoios para passarelas vivas, capazes de suportar até 50 pessoas ao mesmo tempo.
As modernas pontes de madeira ou aço se deterioram rapidamente nas colinas verdejantes de Meghalaya, um hotspot global de diversidade botânica (mais de 3 mil espécies de plantas floríferas) e centro da cultura humana (três grandes grupos étnicos e dezenas de clãs). Já as pontes formadas por raízes de árvores duram 500 ou 600 anos e ficam mais resistentes com o passar do tempo.
Atravessar essas estruturas orgânicas — uma colaboração rara e harmoniosa entre a imaginação humana e a crescente força da natureza — é uma experiência comovente.
As pontes de raízes de Cherrapunji cedem suavemente, quase que de modo imperceptível, sob os pés. Elas sustentam o peso do corpo com flexibilidade, algo que o concreto e o metal sem vida nunca seriam capazes de reproduzir. Internamente, nas grades de tecido vivo, você sente a imensa força das árvores unidas. Você transpõe o tempo.
Algumas das pontes vivas de Cherrapunji cresceram na época em que os invasores do reino feudal de Ahom, atualmente Mianmar, dominavam as colinas de Meghalaya.
Eles transportavam cargas a pé quando, segundo o “Report on the Khasi and Jaintia Hills – 1853” (Relatório sobre as Colinas de Khasi e Jaintia – 1853, em tradução livre), de autoria de A.J.M. Mills (com introdução do Dr. J.B. Battacharjee), Harry Inglis, comerciante corrupto e colonizador britânico, passou a aterrorizar a população da região fronteiriça com torturas e assassinatos nas décadas de 1830 e 1840. “Depois de sua morte, Sophie, sua viúva, instalou o cadáver do marido em um caixão de vidro na varanda, dizendo aos khasis 'que ele ressuscitaria dos mortos e se vingaria de qualquer pessoa que a prejudicasse’”, escreveu um historiador do leste das Colinas de Khasi. “A lógica de Sophie se aproveitava do medo que os khasis ainda sentiam do poder de Harry, mesmo após sua morte.”
E as pontes transportam a mim e meu parceiro de caminhada, Priyanka Borpujari, adiante no futuro, pelas trilhas do nordeste da Índia.
Por alguns passos durante nossa longa jornada, avançamos para o leste, em direção a Mianmar, sobre pontes que respiravam. Sobre uma arquitetura feita de memória. Feita de chuva e sol.