Os sutiãs são mais antigos do que você pensa

Sutiãs com aros, esportivos e à prova de fogo são apenas as mais recentes inovações em uma busca milenar do vestiário feminino.

Por Erin Blakemore
Publicado 9 de out. de 2023, 08:00 BRT
Mulheres romanas em um mosaico do século IV d.C. da Sicília se exercitam enquanto usam um ...

Mulheres romanas em um mosaico do século IV d.C. da Sicília se exercitam enquanto usam um amictorium, uma antiga vestimenta de linho que parece a parte de cima de um biquíni. Os estudiosos estão divididos quanto ao fato de as mulheres gregas e romanas usarem roupas semelhantes a sutiãs para dar sustentação, estilo ou ambos.

Foto de Luisa Ricciarini Bridgeman Images

Os sutiãs modernos levantam, separam, modelam e, assim, contribuem para um mercado de lingerie avaliado em US$ 88 bilhões em vendas anuais somente nos Estados Unidos. Embora as versões atuais possam ter tecidos de última geração e suporte projetado com precisão, eles se apóiam nos ombros de vestimentas de antepassados surpreendentemente bem antigos. De couraças da Antiguidade a modelos icônicos, veja como os precursores do sutiã evoluíram e por que o sutiã moderno resistiu ao teste do tempo.

Épocas anteriores aos sutiãs

Embora não se saiba ao certo quando o primeiro dos muitos precursores do sutiã foi inventado, os historiadores encontraram referências a peças de vestuário que são semelhantes a sutiãs em obras gregas antigas, como na Ilíada de Homero, que retrata a deusa Afrodite removendo uma “cinta curiosamente bordada” de cima de seu seio, e no Lysistrata de Aristófanes, no qual uma mulher que não faz sexo com seu marido o provoca dizendo que está tirando seu strophium, traduzido livremente como “faixa para os seios”.

A historiadora Mireille Lee escreve que, embora o strophium tivesse conotações sexuais e de gênero, é difícil determinar exatamente o que os antigos usavam por baixo das roupas, se é que usavam alguma coisa – há apenas uma única representação artística da época que mostra uma mulher usando um strophium por baixo da roupa.

Em outro exemplo, os arqueólogos que escavaram a Villa del Casale, na Sicília, descobriram um mosaico do século IV d.C. que mostrava mulheres romanas atléticas com os seios presos por uma peça de roupa que, segundo os estudiosos, pode ter sido um amictorium, uma peça de linho cuja aparência de biquíni rendeu às personagens do mural o apelido de “Mulheres de Biquíni”. 

Outra cobertura romana para os seios, o mamillare, era feita de couro mais resistente. Mas, como escreve o classicista Jan Radicke, embora as mulheres romanas pareçam ter tido “várias opções para cobrir e modelar seus seios... Temos muito poucas evidências para determinar isso”, saber qual era a aparência real dessas vestimentas ou se seu uso era decorativo, sexual ou simplesmente de apoio.

A descoberta, em 2008, de "sutiãs" do século XV no Castelo Lengberg, na Áustria, como o modelo acima, surpreendeu os historiadores do vestuário que pensavam que o desenvolvimento das taças dos sutiãs era uma inovação do século XIX.

Foto de Institute of Archaeology University of Innsbruck

Vestimentas do passado medieval

Em 2008, os arqueólogos descobriram quatro “sutiãs” de linho em um cofre que continha lixo do século XV no Castelo Lengberg, na Áustria. As peças, que se assemelham muito aos sutiãs modernos, podem ser evidências das “bolsas para seios” mencionadas por alguns autores medievais.

Naquela época, explicam as historiadoras têxteis Rachel Case, Marion McNealy e Beatrix Nutz, seios grandes não eram considerados moda, e as mulheres usavam roupas de apoio para reduzir a aparência do tamanho das mamas e, dessa forma, diminuir as fofocas sobre seus corpos. 

As “bolsas para seios” de 600 anos atrás descobertas no Castelo de Lengberg tinham copas como as dos sutiãs modernos e, nas palavras dos historiadores, “são obras-primas do trabalho com o tecido” para moldar e apoiar os seios. A descoberta eletrizou os historiadores do vestuário, fornecendo evidências de que os sutiãs com taças – peça que se acreditava terem se originado no século XIX – foram inventados muito antes do que se pensava.

A criação do sutiã moderno

O sutiã, tal como o conhecemos, surgiu quando inventores do vestuário colocaram em evidência novas formas de modelar e sustentar os seios, mas as opiniões sobre o inventor do sutiã moderno variam. Alguns acreditam que teria sido Herminie Cadolle, a varejista francesa da década de 1880 que cortou um espartilho ao meio e o vendeu como um “soutien-gorge”. Já Olivia Flynt, a costureira cujo substituto do espartilho “Flynt waist” recebeu uma patente nos EUA em 1873. Ou poderia ter sido, talvez, Caresse Crosby, que recebeu a patente em 1914 de um “corslette” para dar suporte aos seios e seguia a moda da época, pois era transparente e sem costas. Mais tarde, Crosby venderia a patente para a Warner Brothers Corset Company, cuja marca de sutiã existe até hoje.

Na década de 1930, os sutiãs estavam substituindo o espartilho e, naquela década, o setor de lingerie introduziu tamanhos padronizados de taças e alças ajustáveis para essa peça cada vez mais essencial na moda. Em 1968, os sutiãs eram tão onipresentes e associados à sexualidade feminina e aos padrões de beleza que as feministas que protestavam contra o concurso de Miss América em Atlantic City, nos Estados Unidos, os jogaram em latas de lixo. 

E, embora estigmatizadas como “queimadoras de sutiãs” na cultura popular, as manifestantes nunca chegaram a queimar seus sutiãs: “Tínhamos a intenção de queimar (uma lata de lixo cheia de sutiãs no calçadão de Atlantic City)”, disse a organizadora do protesto Carol Hanisch à NPR em 2008, “mas o departamento de polícia não nos deixou queimar”, explicou Carol.

Há também os sutiãs esportivos e, antes de seu desenvolvimento, escreve o historiador de roupas esportivas Jaime Schultz, muitas mulheres usavam apenas sutiãs comuns ou prendiam os seios com tecido, como as antigas “mulheres-biquíni” romanas. Então, na década de 1970, duas corredoras se inspiraram na cinta de atleta masculina para criar o Jockbra, hoje considerado o primeiro sutiã esportivo moderno. 

Entretando, foi preciso esperar até 1999 para que os sutiãs esportivos se tornassem mais aceitos como peças de vestuário autônomas, graças à estrela do futebol norte-americano Brandi Chastain, cujo gesto de vitória na Copa do Mundo, tirando a camisa e comemorando no campo de futebol com seu sutiã esportivo, serviu como o que Schultz chama de “festa de lançamento” da peça.

pandemia de Covid-19 provocou outra mudança no uso de sutiãs, levando muitas mulheres a ficarem sem sutiã ou a adotarem tops e sutiãs esportivos com menos suporte, em vez dos sutiãs com aros ou os modelos push-up popularizados nos últimos anos. Mas, dos sutiãs esportivos às antigas “bolsas para seios”, a inovação em sutiãs continua avançando. Um exemplo: em 2022, o Exército dos Estados Unidos exibiu protótipos do sutiã tático à prova de fogo do Exército, que acabará sendo incorporado aos uniformes militares – prova de que sempre há espaço para melhorar as maneiras pelas quais levantamos, posicionamos e envolvemos o seio feminino.

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