Os lugares antigos danificados e destruídos pelo Isis

A chocante destruição da cidade síria de Palmira faz parte da campanha do grupo contra a arqueologia.

Por Andrew Curry
Arco de Palmira destruído pelo Isis
A antiga cidade de Palmira, na Síria, floresceu como um ponto comercial romano por volta do ano 200 a.C. Militantes do ISIS a conquistaram em maio e estão destruindo alguns de seus edifícios históricos.
Foto de Youssef Badawi, Epa, Cobis

O Estado Islâmico continua a guerra contra a herança cultural da região do Iraque e da Síria, atacando sítios arqueológicos com escavadeiras e explosivos.

O Isis divulgou um vídeo que chocou o mundo no mês passado ao mostrar a impetuosa destruição do Templo de Baalshamin, uma das ruínas melhor preservadas em Palmira, na Síria. No final de semana passado, explosões foram registradas em outro templo de Palmira, dedicado ao antigo deus Baal; uma agência da ONU diz que imagens de satélite mostram que o templo maior foi em grande parte destruído.

[ Assista The State no canal National Geographic. Dias 24 e 25 de setembro às 23h20 ]

A destruição é parte da campanha de propaganda que inclui vídeos de militantes e a colocação de explosivos em santuários cristãos e muçulmanos de séculos de idade.

O Isis controla grandes extensões da Síria, junto com o norte e o oeste do Iraque. Há pouco que impeça seus militantes de saquear e destruir lugares sob seu controle em uma região conhecida como o berço da civilização.

O grupo militante é apenas mais uma de muitas facções lutando pelo controle da Síria, onde uma guerra civil deixou mais de 230.000 mortos e milhões de desabrigados.

O grupo alega que a destruição de locais antigos tem motivação religiosa; os alvos dos militantes são lugares antigos conhecidos e túmulos modernos e santuários pertencentes a outras seitas muçulmanas, citando o culto de ídolos para justificar suas ações. Ao mesmo tempo, o Isis tem usado o dinheiro roubado como fonte de renda para financiar suas operações militares.

“É tão propagandista quanto sincero", afirma Christopher Jones, historiador da Universidade de Columbia, que relatou os danos em seu blog. “Eles se veem recapitulando a história antiga do Islã.”

Um guia dos locais culturais que o ISIS danificou até agora:

SÍRIA

Palmira

Palmira prosperou durante séculos no deserto ao leste de Damasco, como um oásis e ponto de parada para caravanas na Rota da Seda. Parte do Império Romano, era uma próspera e rica metrópole. A cidade-estado atingiu o ápice no final do século III, quando foi governada pela Rainha Zenóbia e se rebelou brevemente contra Roma.

Zenóbia falhou, e Palmira foi reconquistada e destruída pelos exércitos romanos em 273 a.C. As avenidas colunadas e templos impressionantes foram preservados pelo clima do deserto e no século 20 a cidade se tornou um dos maiores destinos turísticos da Síria.

O Isis conquistou a Palmira moderna e as antigas ruínas em maio de 2015. Inicialmente, os militantes prometeram deixar as colunas e templos intocados. Mas as promessas foram em vão: em agosto, eles publicamente executaram Khaled al-Asaad, um arqueólogo sírio que supervisionou escavações no local por décadas, e penduraram seu corpo decapitado em uma coluna.

mais populares

    veja mais
    O templo de Baal Shamin em Palmira foi atacado no mês passado por combatentes do Isis usando explosivos improvisados. O grupo divulgou fotos da destruição e imagens de satélites confirmaram que o edifício da era romana foi demolido.
    Foto de Kyodo, Ap

    E no mês passado o grupo divulgou fotos de militantes destruindo o Templo de Baal Shamin, de 1,9 mil anos, com explosivos. Um dos edifícios melhor preservados de Palmira, foi originalmente dedicado a um deus fenício das tempestades. Agora não resta nada além de escombros.

    Mosteiro de Mar Elian

    O mosteiro cristão foi tomado em agosto, quando militantes do Isis capturaram a cidade síria de Al-Qaryatain, perto de Palmira. Dedicado a um santo do século IV, o templo era um importante local de peregrinação e abrigou centenas de sírios cristãos. Testemunhas dizem que tratores foram usados para derrubar as paredes. O Isis publicou fotos da destruição no Twitter.

    Apameia

    Uma rica cidade comercial da era romana, Apameia foi saqueada desde o começo da guerra civil na Síria, antes mesmo do Isis aparecer. Imagens de satélite mostram dezenas de covas feitas no local; mosaicos romanos desconhecidos até então foram escavados e removidos para venda. Acredita-se que o Isis recolha uma parcela do valor das vendas de antigos artefatos, faturando milhões de dólares para financiar suas operações.

    Dura-Europos

    Assentamento grego no rio Eufrates, não muito longe da fronteira da Síria com o Iraque, Dura-Europos mais tarde se tornou um dos postos mais orientais de Roma. Abrigava a igreja cristã mais antiga do mundo, uma sinagoga belamente decorada e muitos outros templos e construções da era romana. Imagens de satélite mostram uma paisagem de crateras entre os muros de lama e tijolos da cidade, prova do aumento da destruição dos saqueadores.

    Mari

    Mari floresceu na Idade do Bronze, entre 3.000 e 1.600 a.C. Arqueólogos descobriram palácios, templos e extensos arquivos escritos em argila que trouxeram nova luz para os primeiros dias da civilização na região. De acordo com relatos de locais e imagens de satélite, o lugar, especialmente o palácio real, está sendo saqueado sistematicamente.

    O Templo de Baal era uma das maiores atrações de Palmira, um ponto comercial da era romana no deserto a nordeste de Damasco, na Síria. Uma agência da ONU afirma que o local foi derrubado no final de semana por explosões detonadas pelo ISIS.
    Foto de Sandra Auger, Reuters

    IRAQUE

    Hatra

    Construída no terceiro século a.C., Hatra era a capital de um reino independente à margem do Império Romano. A combinação de arquitetura influenciada pelos gregos e pelos romanos, com características do ocidente, são provas da sua proeminência como importante centro comercial da Rota da Seda. Hatra foi nomeada Patrimônio Mundial da Unesco em 1985.

    Em 2014, Hatra foi tomada pelo Isis e supostamente usada como depósito de munição e campo de treinamento. Um vídeo divulgado pelo grupo em abril de 2015 mostra combatentes usando marretas e armas automáticas para destruir esculturas em várias construções do local. "A destruição de Hatra marca um momento crítico na terrível estratégia de limpeza cultural em curso no Iraque", afirmou na época Irina Bokova, diretora geral da Unesco.

    Nínive

    A antiga Assíria foi um dos primeiros verdadeiros impérios, expandindo-se agressivamente por todo o Oriente Médio e controlando uma vasta área do mundo antigo entre 900 e 600 a.C. Os reis assírios governavam a partir de uma série de capitais onde hoje é o norte do Iraque. Nínive era uma delas, florescendo sob o comando do imperador assírio Sennacherib por volta do ano 700 a.C. Em um certo momento, Nínive foi a maior cidade do mundo.

    Localizada no entorno de Mossul – parte da cidade moderna foi construída sobre as ruínas de Nínive – colocou o local na mira do Isis quando o grupo tomou a cidade em 2014. Muitas das esculturas foram abrigadas no Museu de Mossul (veja no próximo tópico) e algumas foram danificadas durante o tumulto no museu, documentado em vídeo. Os homens também foram mostrados esmagando estátuas de guardiões que são metade humanos e metade animais, chamados lamassus, no antigo Nirgal Gate de Nínive. “Eu não tenho certeza se ainda há muito para ser destruído em Mossul", diz Jones, da Universidade de Columbia.

    Museu e bibliotecas de Mossul

    Relatos de roubos a bibliotecas e universidades de Mossul começaram a surgir assim que o Isis ocupou a cidade. Manuscritos de centenas de anos foram roubados e milhares de livros desapareceram no sombrio mercado internacional de arte. A biblioteca da Universidade de Mossul foi incendiada em dezembro de 2014. No final de fevereiro de 2015, a campanha do Isis cresceu: a biblioteca pública central de Mossul, um marco construído em 1921, foi destruída por explosivos junto com milhares de manuscritos e instrumentos utilizados por cientistas árabes.

    O incêndio dos livros coincidiu com a divulgação do vídeo mostrando combatentes do Isis em um alvoroço no Museu de Mossul, derrubando estátuas e destruindo outras com martelos. O museu era o segundo maior do país, atrás apenas do Museu do Iraque em Bagdá. As estátuas incluíam obras-primas de Hatra e Nínive.

    Margarete van Ess, chefe do escritório no Iraque do Instituto Arqueológico Alemão, afirma que um olho treinado é capaz de dizer que pelo menos metade dos artefatos destruídos no vídeo são cópias; muitos dos originais estão no Museu do Iraque.

    Nimrud

    Nimrud foi a primeira capital assíria, fundada há 3.200 anos. Sua rica decoração refletia o poder e a riqueza do império. O local foi escavado no começo dos anos 1840 por arqueólogos britânicos, que mandaram dezenas de suas gigantescas esculturas de pedra para museus de todo o mundo, incluindo o Metropolitan Museum of Art em Nova Iorque e o British Museum em Londres. Muitos originais permaneceram no Iraque.

    As muralhas de Nínive foram construídas por volta de 700 a.C para proteger a capital assíria, na época provavelmente a maior cidade do mundo. Em fevereiro, o ISIS divulgou um vídeo dos combatentes destruindo as esculturas e os portões neste local antigo.
    Foto de Randy Olson, National Geographic Creative

    O local em si é gigante: uma muralha de terra envolve uma área de 360 hectares. O Ministério de Turismo e Antiguidades do Iraque diz que o Isis destruiu partes do local, mas a extensão dos danos ainda não está clara. Parte da cidade nunca foi descoberta e permanece debaixo da terra – protegida, é de se esperar.

    Khorsabad

    Khorsabad é outra antiga capital da Assíria, a poucos quilômetros de Mossul. Seu palácio foi construído entre 717 e 706 a.C pelo Rei Sargão II da Assíria. Suas esculturas em relevo e estátuas estavam notavelmente bem preservadas, com traços da tinta original ainda decorando as representações das vitórias assírias e das procissões reais.

    A maior parte das esculturas e muitas das estátuas foram removidas durante escavações francesas no meio dos anos 1800 e por equipes do Instituto Oriental de Chicago nas décadas de 1920 e 1930. Agora estão no Museu do Iraque de Bagdá, em Chicago e no Louvre, em Paris. Não está muito claro qual parte do local era alvo do Isis.

    "Nós não temos fotografias mostrando até onde os danos podem chegar", afirma van Ess. "A única informação agora vem de pessoas locais e do Ministério de Antiguidades do Iraque.”

    Mosteiro dos Mártires São Behnam e sua irmã Sarah

    Estabelecido no século IV, o mosteiro era dedicado a um antigo santo cristão. O local sagrado, mantido desde o final dos anos 1800 pelos monges sírios católicos, sobreviveu às hordas mongóis nos anos 1200 mas caiu nas mãos do Isis em março. Os extremistas usaram explosivos para destruir o túmulo do santo e suas elaboradas esculturas e decorações.

    Mesquita do Profeta Jonas

    A Mesquita do Profeta Jonas de Mossul era dedicada à figura bíblica, considerado um profeta por muitos muçulmanos. Mas o Isis é adepto de uma interpretação extrema do Islã que enxerga a veneração de profetas como Jonas como algo proibido. Em 24 de julho de 2015, combatentes do ISIS evacuaram a mesquita e a demoliram com explosivos.

    Como muitos lugares do Iraque, a mesquita era uma camada da história, construída em cima de uma igreja cristã que, por sua vez, foi construída em cima de dois montes que compunham a cidade assíria de Nínive.

    O Mausoléu de Imam Dur

    O Mausoléu de Imam Dur, não muito longe da cidade de Samarra, era um exemplo magnífico de decoração e arquitetura medieval islâmica. Foi explodido em outubro.

    Publicado originalmente em 1 de setembro de 2015.

    mais populares

      veja mais
      loading

      Descubra Nat Geo

      • Animais
      • Meio ambiente
      • História
      • Ciência
      • Viagem
      • Fotografia
      • Espaço
      • Vídeo

      Sobre nós

      Inscrição

      • Assine a newsletter
      • Disney+

      Siga-nos

      Copyright © 1996-2015 National Geographic Society. Copyright © 2015-2024 National Geographic Partners, LLC. Todos os direitos reservados