Árvores mais antigas da África estão morrendo. Cientistas não sabem por quê

Um assassino misterioso vem vitimando os grandiosos e milenares baobás.

Por Nadia Drake
Publicado 12 de jun. de 2018, 13:49 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Uma enorme árvore baobá domina a paisagem na savana do Parque Nacional Kruger, na África do ...
Uma enorme árvore baobá domina a paisagem na savana do Parque Nacional Kruger, na África do Sul.
Foto de Tim Lamán, National Geographic Creative

Na província sul-africana de Limpopo, uma árvore baobá cresceu tanto e com tanta força que seus vizinhos decidiram fazer o óbvio: construíram um bar dentro do tronco oco da árvore milenar ainda viva, que media mais de 45 metros de circunferência e abrigava duas cavidades interligadas.

Durante duas décadas, o baobá de Sunland atraiu os turistas que buscam tomar uma cerveja dentro de uma árvore. Mas, em agosto de 2016, um dos enormes caules que formava sua parede interior partiu e desmoronou. Oito meses depois, outro enorme pedaço tombou e, agora, cinco dos gigantescos caules da Sunland caíram e morreram, deixando apenas metade da árvore de pé.

Apesar do declínio da árvore de Sunland parecer consequência da visitação humana, ele faz parte de uma tendência alarmante: um surpreendente alto percentual dos maiores e mais antigos baobás da África morreram nos últimos 12 anos, cientistas relataram essa semana no periódico Nature Plants.

Isso significa que o destino da árvore de Sunland pode ser um presságio para um futuro sem estas amadas e extravagantes árvores. O culpado por suas mortes mantém-se desconhecido, apesar de cientistas suspeitarem das mudanças climáticas. (Em compensação, a árvore mais antiga da Europa começou a apresentar um surto de crescimento.)

“É muito surpreendente visitar baobás monumentais, com mais de mil a dois mil anos de idade, que parecem estar em bom estado de saúde e descobrir que, após alguns anos, eles sucumbiram e morreram”, diz o coautor do estudo, Adrian Patrut, da Universidade Babes-Bolyai, na Romênia.

“Estatisticamente, é praticamente impossível que um grande número de enormes baobás antigos morra em um curto espaço de tempo de causas naturais”.

Florestas cadentes

Com aparência similar às ilustrações dos livros do Dr. Seuss, baobás têm como característica seus espessos troncos e galhos espaçados, o que faz a árvore parecer, às vezes, que foi plantada de cabeça para baixo. Devido às características de seu crescimento, em que adicionam caules em uma estrutura circular, os baobás são famosos por terem interiores ocos que podem ser grandes o suficiente para entreter (ou aprisionar) pessoas dentro dele.

As árvores mais antigas do mundo que ainda produzem sementes, as nove espécies de árvore do gênero Adansonia ganharam uma abundância de nomes coloquiais e diferentes papéis em folclores e lendas, além de serem integrantes valiosas em florestas decíduas, desertos e savanas, da África às Arábias e à Austrália.

“Acho que consideramos como certo o fato destas gigantes árvores não terem problemas ”

por HENRY NDANGALASI
Universidade de Dar Es Salaam

Patrut começou a estudar os baobás no início da década de 2000, e passou muito dos últimos 15 anos identificando mais de 60 dos maiores e mais antigos espécimes, utilizando a datação por radiocarbono para determinar a idade das árvores. Diferente de árvores como as sequoias e os carvalhos, os baobás não podem ser datados apenas pela contagem de seus anéis de crescimento. Enquanto a árvore cresce, seus anéis desbotam ou desaparecem, e suas enormes cavidades interiores tornam o que restou dos traços difíceis de contar.

Patrut concentrou grande parte de sua pesquisa no baobá africano, Adansonia digitata, espalhado principalmente pelo continente africano e suas ilhas.

Ele diz que a maioria dos maiores e mais antigos baobás africanos crescem no sul da África. Mas, desde 2005, oito das 13 árvores mais antigas e cinco entre as seis maiores sofreram colapsos catastróficos ou tombaram completamente e morreram. Entre essas árvores, estão espécimes conhecidos que se tornaram famosos por seu tamanho ou arquitetura natural, como o baobá de Sunland, além do sagrado baobá de Panke, uma enorme árvore na Namíbia chamada Grootboom, e o baobá de Chapman, em Botswana.

Apesar do conjunto pequeno de dados, a tendência é alarmante. “Sentimos como se nós estivéssemos vivendo mais que os baobás, ao invés deles viverem mais que muitas gerações de humanos”, disse Patrut.

O Explorador da National Geographic Henry Ndangalasi, botânico na Universidade de Dar Es Salaam, na Tanzânia, concorda que a descoberta é reveladora: “Acho que consideramos como certo o fato destas gigantes árvores não terem problemas”, ele diz.

Tendência preocupante

Patrut e seus colegas não acreditam que a morte das árvores seja resultado de doenças, e sugerem que a onda de mortalidade possa ser consequência de um clima mais quente e seco. Além destas árvores excepcionais, a equipe observa que outros baobás maduros estão morrendo em ritmo acelerado, especialmente em áreas onde o clima africano vem esquentando mais rapidamente.

Apesar de maiores estudos serem necessários para conectar definitivamente os pontos entre as mudanças climáticas e a mortalidade dos baobás, um outro estudo, publicado na revista Biological Conservation, concluiu que as mudanças no clima prejudicarão duas das três espécies de baobá ameaçados em Madagascar.

Na ilha, temperaturas crescentes e variações mais extremas na precipitação sazonal restringirão os períodos nos quais estas árvores poderão crescer, e o governo malgaxe ainda não definiu áreas protegidas que possam vir a ser aptas no futuro.

Um fenômeno climático similar vem vitimando árvores tropicais na floresta nublada da Costa Rica, que parece estar sucumbindo às altas temperaturas, observa a exploradora da National Geographic Tarin Toledo Aceves, ecologista florestal no Instituto de Ecologia A.C., no México.

“Infelizmente, os resultados do estudo com os baobás não são surpreendentes”, ela diz. “Há uma inesperada alta mortalidade nos baobás mais antigos do sul da África, mas não sabemos por quê”.

Toledo Aceves também observa que o número de baobás estudados é baixo e diz que é possível, apesar de improvável, que as conclusões estejam apenas refletindo um padrão natural de mortalidade em indivíduos mais velhos.

“Estas árvores podem viver por mais de dois mil anos e, embora os pesquisadores estejam monitorando pontualmente os indivíduos mais velhos, acredito ser espantoso que mais de 70% deles tenham morrido em um espaço tão curto de tempo”, ela disse.

Em outras palavras, árvores demais estão morrendo em ritmo acelerado para que a tendência seja natural.

“De 2005 a 2017 são 12 anos. Considerando a grande expectativa de vida destas árvores, é bastante improvável que este seja um padrão natural”.

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