O ‘supervulcão’ da Itália está se enchendo de magma? Entenda os fatos.

A análise dos Campos Flégreos oferece uma nova visão de seu ciclo de atividades, mas quaisquer rumores de catástrofe iminente seriam um exagero.

Por Maya Wei-Haas
Publicado 25 de nov. de 2018, 20:00 BRST, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Também conhecido como “The Phlegrean Fields”, os Campos Flégreos da Itália são um complexo vulcânico composto ...
Também conhecido como “The Phlegrean Fields”, os Campos Flégreos da Itália são um complexo vulcânico composto por uma rede de crateras e elementos hidrotermais.
Foto de Christian Jungeblodt, Laif, Redux

Crateras sobrepostas de todos os tamanhos marcam a região dos Campos Flégreos, localizada na região ocidental de Nápoles, na Itália, e se estende até o Mar Mediterrâneo. Atualmente, mais de meio milhão de pessoas vivem perto do vulcão adormecido, cujos barulhos e gases efusivos refletem o calor que ainda fermenta no subterrâneo. Duas vezes, nos últimos 60 mil anos, grandes explosões de cinzas e rochas vulcânicas cobriram a região e uma série de explosões menores aconteceu antes e depois de cada grande erupção, incluindo o evento mais recente em 1538.

Para obter pistas sobre o que está ocorrendo na câmara subterrânea de magma, uma equipe de pesquisadores examinou a química de rochas vulcânicas e vidro de erupções históricas, usando esses dados para criar um modelo de computador que simula as condições que levam a uma erupção. Esse estudo, publicado na revista Science Advances, pode ajudar cientistas a entenderem os ciclos de atividade e inatividade desses vulcões causadores de cataclismos.

Uma informação específica provavelmente causará impacto: os pesquisadores concluíram que o magma sob os Campos Flégreos pode estar entrando em uma fase de construção, “potencialmente culminando, em algum momento indeterminado no futuro, em uma erupção de grande escala,” a equipe escreveu em seu estudo.  

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Para deixar claro: atualmente o vulcão não está a caminho de gerar uma catástrofe. Os pesquisadores monitoram ativamente o sistema e entendem os sinais que podem indicar erupções iminentes. Qualquer grande explosão hipotética estaria provavelmente em um futuro distante, possivelmente milhares de anos ou mais.

“Podemos supor que isso possa ocorrer, mas não sabemos quando,” diz a autora principal, Francesca Forni, do ETH Zurique, na Suíça. Ela enfatiza que o trabalho se concentra em ciclos químicos, “não efetivamente quando ou se os Campos Flégreos vão entrar em erupção em breve.” Além disso, muitos pesquisadores não associados ao trabalho expressam preocupação com a aplicação dos resultados às condições modernas.

“Como frequentemente acontece na pesquisa científica, a coleta e análise de dados pode ser mais importante que as interpretações imediatas, que na verdade não são muito bem definidas,” disse por e-mail a vulcanologista Claudia Troise do Vesuvius Observatory, da equipe responsável pelo monitoramento da atividade dos Campos Flégreos.

Então, antes de você correr para o bunker subterrâneo mais próximo, vamos decifrar este novo estudo.

O que os pesquisadores fizeram?

Enquanto o magma se cristaliza dentro do planeta, os minúsculos flocos minerais nos dão pistas químicas que podem revelar informações sobre seu magma parenteral, como temperatura e teor da água. Como Forni explica, essas características podem sugerir o que esteja acontecendo no vulcão antes de cada erupção e pode ser a chave para explicar por que as erupções às vezes são pequenas e outras são enormes.

Para solucionar as complexidades da região, Forni e seus colegas examinaram material vulcânico de 23 erupções, analisando sua química elementar para identificar características fundamentais de sua formação. Os pesquisadores então incorporaram essas informações em um modelo de computador para simular as erupções nos Campos Flégreos desde sua última grande explosão, 15 mil anos atrás.

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    No geral, as amostras de materiais de erupções apontam para ciclos de resfriamento e aquecimento do magma, semelhantes aos anteriormente indicados para outros grandes vulcões. Só que os resultados mais recentes usam métodos modernos para dar uma noção muito mais detalhada.

    Como é esse ciclo?

    Em uma visão geral, o ciclo começa com o lento acúmulo de magma na câmara, levando a uma enorme explosão formadora de crateras. As erupções seguintes a este grande evento são explosões relativamente pequenas e frequentes de magma seco e quente, que provavelmente se origina das profundezas da Terra e não perdura enquanto sai do vulcão.

    Com o tempo, o magma começa a se acumular na câmara, esfriando e se cristalizando levemente. Como o sal que se desprende da água do mar à medida que o gelo se forma, a água dissolvida do magma não é incorporada nesses cristais, aumentando sua presença no derretimento restante. Isso significa que as erupções têm mais água e temperaturas decrescentes.  


    Em algum momento a frequência de erupções diminui, mas o magma continua a ser formado. O gatilho exato para o começo de um novo ciclo, que pode levar a uma grande erupção, é incerto. Mas Forni e seus colegas apontam uma mudança fundamental: a formação de uma pasta de cristal com tanta água diluída que parte dela é forçada a entrar no magma na forma de bolhas. A análise da composição da equipe sugere que a última erupção do vulcão em 1538 representa esse estágio de magma borbulhante. Mas o próximo passo é um mistério.

    “Na verdade nós não sabemos qual é o próximo passo,” diz Forni, observando que a câmara poderia continuar esfriando e se aquietar permanentemente, ou um novo ciclo de acúmulo poderia começar. A química da última erupção, diz ela, “indica que o reservatório de magma pode estar ‘pronto’ para acomodar magmas da recarga sem entrar em erupção com frequência.”

    O que tudo isso significa?

    “É realmente uma grande contribuição ter esses dados juntos para ver como as coisas estão mudando com o tempo,” diz Victoria Smith, geocronologista e vulcanologista da Universidade de Oxford. “Mas não há provas suficiente para dizer que a próxima erupção será formadora de caldeira.”

    Smith enfatiza a complexidade do sistema dos Campos Flégreos. Cada camada de rocha e cinzas de erupção não foram formadas de modo organizado e uniforme. Além disso, os dois eventos mais maciços de erupção cobriram grandes áreas da região de rochas e cinzas, enterrando traços de explosões anteriores. Por causa disso, é quase impossível recuperar materiais de todas as erupções históricas, o que deixa lacunas inevitáveis nos registros.

    “Eu imagino como a ilustração seria clara se tivéssemos todos esses materiais,” ela diz.

    O vulcanologista Christopher Kilburn, da Universidade College London, acrescenta que o artigo é um bom exemplo de como usar a geoquímica para entender melhor o ciclo de vida desse grande sistema vulcânico. “De fato, os resultados podem ser valiosos para entender grandes caldeiras no mundo todo,” ele afirmou por e-mail.

    Entretanto, ele também adverte contra tirar muitas conclusões sobre o atual estado das condições nos Campos Flégreos. No artigo, Forni e sua equipe apontam recentes atividades, como deformação no solo ou mudanças em gases emitidos, como sinais de potencial recarga de magma.  

    “No entanto, temos que ser cautelosos ao conectar o comportamento de longo prazo que acontece há milhares de anos a mudanças de curto prazo que acontecem há décadas, e suas implicações sobre o potencial de erupção,” diz Kilburn.

    Esses barulhos também provocaram discussões sobre sua causa e trabalhos recentes sugerem que os tremores não refletem uma câmara rasa sendo reabastecida com magma, aponta Troise.

    Ainda assim, com uma densa população na vizinhança, qualquer erupção pode ser mortal e eventos tão grandes quanto à explosão de 1538 podem acontecer no futuro. É por isso que estudar como os Campos Flégreos funcionam é tão vital. E, enquanto isso, a equipe do Vesuvius Observatory está monitorando cada sussurro do vulcão para que, se ele acordar, eles estejam ouvindo.

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