Conheça as 20 principais descobertas científicas da década

A década de 2010 rendeu muitas descobertas incríveis e marcos importantes - veja as nossas favoritas.

Por Michael Greshko
Publicado 13 de dez. de 2019, 07:30 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Ilustração de duas estrelas de nêutrons que se colidem em um fenômeno explosivo chamado kilonova. Em 16 de outubro de 2017, astrônomos anunciaram a primeira detecção confirmada de ondulações no espaço-tempo, chamadas ondas gravitacionais, criadas por esse tipo de fenômeno violento — e visível.
Foto de ILLUSTRATION BY ROBIN DIENEL; COURTESY THE CARNEGIE INSTITUTION FOR SCIENCE

COM O FIM DA DÉCADA DE 2010 por perto, é hora de relembrar uma era repleta de descobertas. Nos últimos 10 anos, cientistas de todo o mundo fizeram avanços notáveis na compreensão do corpo humano, do nosso planeta e do cosmos ao nosso redor. Além disso, na década de 2010, a ciência se tornou mais global e colaborativa do que nunca. Atualmente, é mais provável que grandes avanços venham de grupos formados por 3 mil cientistas do que grupos de apenas três cientistas.

Tanta coisa aconteceu, graças a tanta gente, que os redatores e editores da National Geographic decidiram não resumir a última década em apenas poucas descobertas. Em vez disso, resolvemos selecionar 20 tendências e marcos que consideramos especialmente dignos de nota e que acreditamos que abrirão o caminho para mais descobertas surpreendentes na próxima década.

Detectando as primeiras ondas gravitacionais

Em 1916, Albert Einstein propôs que, quando objetos com massa suficiente aceleram, às vezes eles podem criar ondas que se deslocam através do tecido do espaço e do tempo como ondulações na superfície de uma lagoa. Embora mais tarde Einstein tenha questionado sua existência, essas dobras no espaço-tempo — chamadas ondas gravitacionais — são uma previsão essencial da relatividade, e a busca por elas fascinou os pesquisadores por décadas. Embora indícios convincentes das ondas tenham surgido pela primeira vez na década de 1970, ninguém as tinha detectado diretamente até 2015, quando o observatório LIGO dos Estados Unidos captou o tremor secundário de uma colisão distante entre dois buracos negros. A descoberta, anunciada em 2016, permitiu uma nova maneira de “ouvir” o cosmos.

Em 2017, o LIGO e o observatório europeu Virgo captaram outro conjunto de tremores, desta vez, quando colidiram dois objetos ultradensos, chamados estrelas de nêutrons. Telescópios ao redor do mundo observaram a explosão relacionada, tornando o evento o primeiro a ser observado em ondas de luz e ondas gravitacionais. Os dados de referência forneceram aos cientistas uma visão sem precedentes do funcionamento da gravidade e da formação de elementos como o ouro e a prata.

Abalando a árvore genealógica humana

A década observou numerosos avanços na compreensão da complexa história de nossa origem, como novas datas para fósseis conhecidosfósseis de crânios espetacularmente completos e o acréscimo de várias novas ramificações. Em 2010, Lee Berger, explorador geral da National Geographic, identificou um ancestral remoto chamado Australopithecus sediba. Cinco anos depois, anunciou que o sistema de cavernas Berço da Humanidade da África do Sul continha fósseis de uma nova espécie: Homo naledi, um hominínio cuja anatomia em “mosaico” se assemelha à do homem moderno e a parentes muito mais antigos. Um estudo de acompanhamento também mostrou que o H. naledi é surpreendentemente recente, tendo vivido entre pelo menos 236 mil e 335 mil anos atrás.

Embora primitivo em alguns aspectos, o rosto, o crânio e os dentes (vistos nesta reconstrução) mostram características modernas suficientes para justificar a colocação do H. naledi no gênero Homo. O artista John Gurche passou cerca de 700 horas reconstruindo a cabeça a partir de varreduras ósseas. Ele utilizou pelo de urso no lugar dos cabelos.
Foto de Mark Thiessen, National Geographic

Houve inúmeras outras descobertas notáveis na Ásia. Em 2010, uma equipe anunciou que o DNA extraído de um antigo osso do dedo mindinho encontrado na Sibéria era diferente do osso do homem moderno, a primeira evidência de uma enigmática linhagem, atualmente chamada de denisovana. Em 2018, um sítio arqueológico na China encontrou ferramentas de pedra de 2,1 milhões de anos, confirmando que os produtores dessas ferramentas estavam dispersos pela Ásia milhares de anos antes do que se acreditava. Em 2019, pesquisadores nas Filipinas anunciaram a descoberta de fósseis de Homo luzonensis, um novo tipo de hominínio semelhante ao Homo floresiensis, o “hobbit” de Flores. E as ferramentas de pedra recém-encontradas em Célebes antecedem a chegada do homem moderno, o que sugere a existência de um terceiro hominínio não identificado na ilha do sudeste da Ásia.

Revolucionando o estudo do DNA antigo

Com o avanço exponencial das tecnologias de sequenciamento de DNA, a década passada trouxe grandes saltos à compreensão de como nosso passado genético define o homem moderno. Em 2010, os pesquisadores publicaram o primeiro genoma quase completo de um antigo Homo sapiens, dando início a uma década revolucionária no estudo do DNA de nossos ancestrais. Desde então, mais de 3 mil genomas antigos foram sequenciados, incluindo o DNA de Naia, uma menina que morreu na atual região do México há 13 mil anos. Os restos mortais dela estão entre os mais antigos esqueletos humanos intactos já encontrados nas Américas. Também em 2010, pesquisadores anunciaram o primeiro esboço de um genoma neandertal, fornecendo a primeira evidência genética sólida de que entre 1% e 4% do DNA de todos os não africanos modernos provem desses parentes próximos.

Em outra surpreendente descoberta, cientistas que estudavam DNA antigo revelaram em 2018 que um osso de 90 mil anos pertencia a uma adolescente com uma mãe neandertal e um pai denisovano, fazendo dela o primeiro humano híbrido antigo já encontrado. Em outra descoberta, cientistas compararam o DNA denisovano com proteínas fósseis para confirmar que os denisovanos já viveram no Tibete, expandindo a área de ocorrência conhecida do misterioso grupo. Com o amadurecimento do estudo do DNA antigo, aumentaram as preocupações éticas, como a necessidade de engajamento da comunidade e o repatriamento de restos humanos indígenas.

Revelando milhares de novos exoplanetas

O conhecimento de planetas que orbitam estrelas distantes deu um salto gigantesco na década de 2010, em grande parte graças ao Telescópio Espacial Kepler da Nasa. Entre 2009 e 2018, somente o Kepler encontrou mais de 2,7 mil exoplanetas confirmados, mais da metade do total atual. Entre os maiores sucessos de Kepler está o primeiro exoplaneta rochoso confirmado. Seu sucessor TESS, lançado em 2018, está iniciando seu levantamento sobre o céu noturno e já identificou 34 exoplanetas confirmados.

Pesquisas em terra também participaram da ação. Em 2017, os pesquisadores anunciaram a descoberta do TRAPPIST-1, um sistema estelar a apenas 39 anos-luz de distância que abriga a incrível quantidade de sete planetas do tamanho da Terra, o maior número já encontrado ao redor de qualquer estrela que não seja o Sol. No ano anterior, o projeto Pale Red Dot (Pálido Ponto Vermelho, em tradução livre) anunciou a descoberta do Proxima b, um planeta do tamanho da Terra que orbita a Proxima Centauri, a estrela mais próxima do Sol, a apenas 4,25 anos-luz de distância.

Entrando na era do Crispr

Os anos 2010 marcaram enormes avanços em nossa capacidade de editar com precisão o DNA, em grande parte graças à identificação do sistema Crispr-Cas9. Algumas bactérias utilizam naturalmente o Crispr-Cas9 como um sistema imunológico, uma vez que ele permite que as bactérias armazenem fragmentos de DNA viral e, com isso, reconheçam eventuais vírus futuros correspondentes e, em seguida, cortem o DNA do vírus em tiras. Em 2012, os pesquisadores propuseram que o Crispr-Cas9 poderia ser utilizado como uma poderosa ferramenta de edição genética, já que é capaz de cortar o DNA com exatidão e de uma forma que pode ser facilmente personalizada pelos cientistas. Em alguns meses, outras equipes confirmaram que a técnica funcionava com o DNA humano. Desde então, há uma corrida entre laboratórios em todo o mundo para identificar sistemas semelhantes, modificar o Crispr-Cas9 de modo a torná-lo ainda mais preciso e fazer experimentos com aplicações na agricultura e na medicina.

Embora sejam enormes os possíveis benefícios do Crispr-Cas9, os dilemas éticos que ele representa também são descomunais. Para horror da comunidade médica global, o pesquisador chinês He Jiankui anunciou em 2018 o nascimento de duas meninas com genomas editados por ele com o Crispr, os primeiros humanos nascidos com edições herdáveis em seu DNA. O anúncio provocou pedidos de uma moratória global das edições hereditárias da “linha germinativa” em seres humanos.

Observando o cosmos como nunca

A década de 2010 trouxe consigo várias observações importantes que estão revolucionando nosso estudo do universo. Em 2013, a Agência Espacial Europeia lançou Gaia, uma sonda que calcula distâncias de mais de um bilhão de estrelas na Via Láctea, além de dados de velocidade de mais de 150 milhões de estrelas. O conjunto de dados ajudou os cientistas a fazerem um registro tridimensional de nossa galáxia natal, proporcionando uma visão singular da formação e alteração das galáxias ao longo do tempo.

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    O Event Horizon Telescope — um conjunto de radiotelescópios terrestres em escala planetária — revelou a primeira imagem de um buraco negro supermassivo e sua sombra em 2019. A imagem mostra o buraco negro central de Messier 87, uma galáxia enorme no aglomerado de Virgem.
    Foto de Event Horizon Telescope Collaboration

    Em 2018, os cientistas lançaram a última versão das medições do tênue brilho posterior dos primórdios do universo, feitas pelo satélite Planck, que contém indícios vitais sobre os componentes, a estrutura e a taxa de expansão do cosmos. Surpreendentemente, a taxa de expansão calculada pelo Planck difere da atual, provocando uma possível “crise na cosmologia” ainda a ser esclarecida por uma nova explicação física. Também em 2018, o imenso Levantamento da Energia Escura divulgou seu primeiro lote de dados, que ajudará na pesquisa de padrões ocultos na estrutura do nosso universo. E, em abril de 2019, os cientistas do Event Horizon Telescope revelaram a primeira imagem da silhueta de um buraco negro, graças a uma enorme iniciativa global para observar o centro da galáxia M87.

    Revelando a arte antiga

    Descobertas em todo o mundo reforçaram que a arte — ou ao menos rabiscos — era um fenômeno mais antigo e global do que se pensava. Em 2014, os pesquisadores mostraram que gravações à mão e uma pintura de suínos “babirusas” em sítios arqueológicos nas cavernas de Maros, em Célebes, tinham ao menos 39 mil anos de idade, tornando-as tão antigas quanto as pinturas rupestres mais antigas da Europa. Então, em 2018, os pesquisadores anunciaram a descoberta de arte rupestre em Bornéu, datada entre 40 mil e 52 mil anos, tornando ainda mais antigas as origens da pintura de figuras. E outra descoberta de 2018 na África do Sul, uma lasca de pedra com hachuras de 73 mil anos atrás, pode ser o rabisco mais antigo do mundo.

    Um trabalhador faz medições de anéis de pedra que podem ter sido construídos pelos neandertais, no interior da Caverna Bruniquel, na França.
    Foto de Etienne Fabre, Ssac

    Outras descobertas polêmicas alimentaram o debate sobre as habilidades artísticas dos neandertais. Em 2018, os pesquisadores revelaram pigmentos e conchas marinhas perfuradas encontradas na Espanha com 115 mil anos de idade, quando apenas os neandertais viviam na Europa. Nesse mesmo ano, outro estudo afirmou que algumas das pinturas rupestres da Espanha têm 65 mil anos de idade. Muitos especialistas em arte rupestre contestaram a descoberta, mas, se estiver correta, poderia ser a primeira evidência de pinturas rupestres neandertais. E, em 2016, pesquisadores anunciaram que uma caverna francesa continha círculos incomuns de estalagmites feitos há cerca de 176 mil anos. Se os ursos das cavernas não os produziram, a idade dos círculos sugere que também sejam obras dos neandertais.

    Pioneirismo interestelar

    É possível que, no futuro, historiadores considerem os anos 2010 como a década interestelar: pela primeira vez, uma sonda espacial nossa atravessou o véu entre o Sol e o espaço interestelar, e recebemos nossas primeiras visitas de objetos formados em torno de estrelas distantes.

    Em agosto de 2012, a sonda Voyager 1 da Nasa atravessou o limite externo da heliosfera, a bolha de partículas carregadas emitida pelo nosso Sol. A Voyager 2 seguiu sua irmã mais velha até o meio interestelar em novembro de 2018 e obteve dados inovadores pelo caminho. Mas a rota interestelar é uma via de mão dupla. Em outubro de 2017, os astrônomos encontraram ‘Oumuamua, o primeiro objeto já detectado formado em outro sistema estelar a passar pelo nosso. Em agosto de 2019, Gennady Borisov, astrônomo amador, encontrou o segundo intruso interestelar: um cometa altamente ativo que agora leva seu nome.

    Abrindo portas para civilizações antigas

    Os arqueólogos fizeram muitas descobertas extraordinárias na década de 2010. Em 2013, pesquisadores britânicos finalmente descobriram o corpo do rei Ricardo III — no subterrâneo do que hoje é um estacionamento. Em 2014, pesquisadores anunciaram que o complexo do templo do Castelo de Huarmey, no Peru, ainda continha uma tumba real intocada. Em 2016, arqueólogos revelaram o primeiro cemitério dos filisteus, oferecendo um vislumbre sem precedentes para a vida das pessoas mais notórias e enigmáticas da Bíblia Hebraica. No ano seguinte, pesquisadores anunciaram que a Igreja do Santo Sepulcro em Jerusalém remonta ao primeiro imperador cristão de Roma, há mais de 1,7 mil anos, o que parece confirmar que foi construída no local identificado por Roma como o local de sepultamento de Cristo. E em 2018, equipes que trabalham no Peru anunciaram o maior sítio arqueológico já descoberto de sacrifício em massa de crianças, enquanto outros cientistas que exploravam a Guatemala detectaram mais de 60 mil construções maias antigas identificadas recentemente com lasers transportados por via aérea.

    Grandes descobertas arqueológicas também surgiram das profundezas subaquáticas. Em 2014, uma equipe canadense finalmente encontrou o H.M.S. Erebus, uma fatídica embarcação de expedição ao Ártico que afundou em 1846. Dois anos depois, outra expedição localizou seu navio irmão, o H.M.S. Terror. Em 2017, uma iniciativa liderada por Paul Allen, cofundador da Microsoft, descobriu o U.S.S. Indianapolis, há muito perdido, que afundou em 1945 e se tornou um dos desastres mais mortais da história naval dos EUA. O Projeto de Arqueologia Marítima do Mar Negro encontrou mais de 60 naufrágios históricos no fundo do Mar Negro — incluindo uma embarcação primitiva de 2,4 mil anos descoberta em 2018. E, em 2019, autoridades do Alabama anunciaram a descoberta do Clotildao último navio a transportar africanos escravizados para os Estados Unidos, há muito perdido.

    Explorando novos caminhos no Sistema Solar

    Em julho de 2015, a sonda New Horizons da Nasa cumpriu uma jornada de décadas visitando o planeta gelado Plutão, com o envio das primeiras imagens da impressionante e variada superfície do planeta anão. E no ano-novo de 2019, a New Horizons realizou o sobrevoo mais distante já feito e tirou as primeiras fotos do corpo gelado Arrokoth, um objeto primordial remanescente do início do Sistema Solar.

    Um pouco mais perto de casa, a sonda Dawn da Nasa chegou a Vesta, o segundo maior corpo celeste do cinturão de asteroides, em 2011. Depois de mapear esse objeto, Dawn disparou até a órbita do planeta anão Ceres, o maior objeto do cinturão de asteroides — tornando-se a primeira missão a orbitar um planeta anão e a primeira a orbitar dois diferentes corpos extraterrestres. Perto do fim da década, a OSIRIS-REx da Nasa e a Hayabusa2 da JAXA visitaram os asteroides Bennu e Ryugu, respectivamente, com o objetivo de enviar amostras para a Terra.

    Alterando o curso das doenças

    Em resposta ao surto de ebola de 2014 a 2016 na África Ocidental, autoridades de saúde pública e a empresa farmacêutica Merck aceleraram a rVSV-ZEBOV, uma vacina experimental contra o ebola. Após um bem-sucedido teste de campo em 2015, as autoridades europeias aprovaram a vacina em 2019 — um marco na luta contra a doença mortal. Vários estudos de referência também abriram novos caminhos para impedir a transmissão do HIV. Um estudo de 2011 mostrou que o uso preventivo de medicamentos antirretrovirais reduziu bastante a transmissão do HIV entre casais heterossexuais, uma descoberta confirmada em estudos seguintes que incluíram casais do mesmo sexo.

    Revolucionando limites reprodutivos

    Em 2016, os médicos anunciaram o nascimento de um “bebê com três pais”, produzido a partir do esperma do pai, do núcleo celular da mãe e do óvulo de uma terceira doadora que teve seu núcleo removido. A terapia — que despertou polêmicas éticas — tem por objetivo corrigir alterações nas mitocôndrias da mãe.

    Com o uso de edição genética, duas mamães camundongos tiveram este filhote, conforme descrito em um estudo de 2018. Após chegar à idade adulta, a fêmea de camundongo nascida de indivíduos do mesmo sexo agora teve seus próprios filhotes.
    Foto de Leyun Wang

    Um estudo de 2018 obteve precursores de espermatozoides ou óvulos humanos a partir de células reprogramadas da pele e do sangue, enquanto outro mostrou que a edição de genes poderia permitir que dois camundongos do mesmo sexo concebessem filhotes. E, em 2018, cientistas chineses anunciaram o nascimento de dois macacos clonados, a primeira vez que um primata foi clonado como a ovelha Dolly. Embora os pesquisadores afirmem que a técnica não será utilizada em humanos, é possível que ela funcione com outros primatas, inclusive conosco.

    Rastreando o bóson de Higgs

    Como a matéria obtém massa? Nas décadas de 1960 e 1970, físicos como Peter Higgs e François Englert propuseram uma solução na forma de um novo campo de energia que permeia o universo, atualmente chamado de campo de Higgs. Esse campo teórico também possuía uma partícula fundamental associada, atualmente chamada de bóson de Higgs. Em julho de 2012, uma pesquisa de décadas terminou quando duas equipes do Grande Colisor de Hádrons do CERN  anunciaram a detecção do bóson de Higgs. A descoberta era a última peça que faltava no Modelo Padrão, a teoria espetacularmente bem-sucedida — porém incompleta — que descreve três das quatro forças fundamentais da física e todas as partículas elementares conhecidas.

    Um bóson de Higgs irrompe de uma colisão de prótons na ilustração.
    Foto de Illustration by Moonrunner Design Ltd., National Geographic

    Reescrevendo os livros de paleontologia

    Esta década observou uma explosão em nossa compreensão da vida pré-histórica, pois cientistas descobriram novos fósseis impressionantes ao expandir seus conjuntos de ferramentas analíticas. Em 2010, pesquisadores apoiados pela National Geographic Society publicaram a primeira reconstrução em cores de corpo inteiro de um dinossauro, baseada na descoberta de pigmentos fossilizados. Nos anos seguintes, foi ampliada a paleta à medida que os paleontologistas descobriram penas de dinocamuflagem, que variavam entre pretoazul e arco-íris iridescente, além de pele avermelhada em um dos fósseis mais preservados de um dinossauro encouraçado. E, em um feito notável de investigação química, os pesquisadores analisaram moléculas de gordura preservadas e provaram, em 2018, que o Dickinsonia, uma criatura primitiva que viveu há mais de 540 milhões de anos, era um animal.

    Em 2014, paleontologistas também revelaram novos fósseis do dinossauro predador Spinosaurus que sugeriam que ele fosse um predador semiaquático — o primeiro conhecido entre os dinossauros. Um ano depois, uma equipe na China divulgou o impressionante fóssil do Yi qi, um dinossauro com penas muito estranho, que ostentava asas membranosas semelhantes às do morcego. Também na última década, aumentou o interesse dos cientistas pelo âmbar de 99 milhões de anos de Mianmar, revelando uma cauda de dinossauro com penasum filhote de ave primitiva e uma variedade de invertebrados presos em resina de árvore fossilizada.

    Encontrando alicerces da vida em outros planetas

    Nos últimos 10 anos, as missões espaciais nos proporcionaram uma visão mais sofisticada das moléculas orgânicas à base de carbono encontradas em outros planetas, os ingredientes necessários para a vida como a conhecemos. A missão Rosetta da Agência Espacial Europeia orbitou e pousou no cometa 67P / Churyumov–Gerasimenko. Os dados coletados entre 2014 e 2016 nos ofereceram uma profunda análise das matérias-primas que podem ter sido trazidas para a Terra por impactos antigos. Antes que a sonda Cassini da Nasa saísse de operação em 2017, ela confirmou que as plumas aquosas de Encélado, lua de Saturno, contêm grandes moléculas orgânicas, um indício de que ela possui o que é necessário para a vida. E, em 2018, a Nasa anunciou que seu veículo espacial Curiosity havia encontrado compostos orgânicos em Marte, e também um curioso ciclo sazonal nos níveis de metano atmosférico do planeta vermelho.

    Alarmes climáticos soando mais alto do que nunca

    Ao longo desta década, o dióxido de carbono atmosférico alcançou níveis sem precedentes nos tempos modernos, com recordes de temperaturas equiparáveis. Em 9 de maio de 2013, os níveis globais de CO2 atingiram 400 partes por milhão pela primeira vez na história da humanidade e, em 2016, os níveis de CO2 ficaram obstinadamente acima desse limite. Como resultado, o mundo inteiro sentiu um aumento no aquecimento; 2015, 2016, 2017, 2018 e 2019 foram os cinco anos mais quentes já registrados desde 1880. A partir de 2014, o aquecimento dos oceanos deu início a um fenômeno global de branqueamento de corais. Corais em todo o mundo morreram, inclusive em partes da Grande Barreira de Corais. Em 2019, a Austrália declarou extinto o roedor da espécie Melomys rubicola da Ilha de Bramble, devido à elevação do nível do mar, o primeiro mamífero conhecido a ser extinto pelas mudanças climáticas modernas.

    Alexandria Villasenor, com 13 anos, falta às aulas às sextas-feiras para fazer greve em protesto às mudanças climáticas. Toda semana, faça chuva ou faça sol, ela se senta em um banco em frente à Organização das Nações Unidas na cidade de Nova York com cartazes, chamando a atenção para a questão das mudanças climáticas. Villasenor e outros jovens ativistas de todo o país organizaram uma greve escolar global pelo clima em 15 de março.
    Foto de Sarah Blesener, The Washington Post, Getty

    Em uma série de relatórios importantes, cientistas em todo o mundo veementemente chamaram a atenção para as alterações climáticas da Terra, os riscos representados por elas e a necessidade de respostas. Em 2014, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas divulgou sua quinta avaliação da realidade e das consequências das mudanças climáticas e, um ano depois, vários países negociaram o Acordo de Paris, o acordo climático global com o objetivo de manter o aquecimento abaixo de 2oC — que cientistas e líderes mundiais consideram um limiar perigoso. Em outubro de 2018, o IPCC publicou outro relatório sombrio que descrevia os enormes custos do aquecimento a 1,5oC até 2100 — provavelmente o mínimo enfrentado pelo planeta. Diante desses enormes desafios, um número recorde de manifestações pelo clima varreu o mundo, muitas delas lideradas por jovens ativistas.

    Descobrindo — e redescobrindo — espécies

    Os biólogos modernos estão identificando novas espécies em um ritmo acelerado, nomeando 18 mil novas espécies por ano, em média. Na década passada, cientistas descreveram pela primeira vez várias espécies carismáticas de mamíferos, como o macaco-dourado-de-nariz-arrebitado de Mianmar, o rato da espécie Uromys vika e o olinguito, o primeiro carnívoro recém-encontrado no Ocidente desde o fim da década de 1970. Outros grupos de animais também foram expandidos, com as descrições de peixes recém-descobertos com “mãos”, pequenos sapos menores que uma moedauma salamandra gigante da Flórida e muito mais. Além disso, alguns animais, como o saola do Vietnã e o pika-de-ili da China, foram avistados novamente depois de terem desaparecido por anos.

    Mas, juntamente com todas essas descobertas, os cientistas calcularam a taxa exponencial das extinções modernas. Em 2019, os cientistas alertaram que um quarto das espécies da flora e da fauna estão ameaçadas de extinção, sugerindo que até um milhão de espécies — conhecidas ou não pela ciência — agora correm o risco de desaparecer, algumas em poucas décadas.

    Dando início a uma nova era de voos espaciais

    A década de 2010 foi um período de transição importante para os voos espaciais, pois o acesso à órbita terrestre baixa e além se tornou uma empreitada mais global — e comercial. Em 2011, a China pôs em órbita seu primeiro laboratório espacial, o Tiangong-1. Em 2014, a Missão Mars Orbiter da Índia chegou ao planeta vermelho, tornando a Índia o primeiro país a chegar com sucesso a Marte em sua primeira tentativa. Em 2019, a SpaceIL, organização israelense sem fins lucrativos, tentou o primeiro pouso na Lua com financiamento privado e a missão chinesa Chang'e-4 realizou o primeiro pouso no lado oculto da Lua. O corpo global de astronautas também ficou mais diversificado: Tim Peake se tornou o primeiro astronauta profissional britânico, Aidyn Aimbetov se tornou o primeiro cosmonauta cazaque pós-soviético, e os Emirados Árabes Unidos e a Dinamarca enviaram seus primeiros astronautas para o espaço. Além disso, Jessica Meir e Christina Koch, astronautas da Nasa, realizaram a primeira caminhada espacial exclusivamente feminina.

    Nos EUA, após a última missão de ônibus espacial lançada em 2011, empresas privadas procuraram preencher o vazio. Em 2012, a SpaceX lançou a primeira missão de reabastecimento comercial para a ISS e, em 2015, a Blue Origin e a SpaceX se tornaram as primeiras empresas a lançar com sucesso foguetes reutilizáveis no espaço e, em seguida, aterrissá-los verticalmente na Terra, um marco para lançamentos mais baratos à órbita terrestre baixa.

    Descobrindo aspectos inesperados nos animais

    A década passada revelou características e comportamentos incomuns em todo o reino animal. Em 2015, David Gruber, Explorador da National Geographic, descobriu uma fluorescência verde e vermelha nas tartarugas-de-pente — a primeira biofluorescência já registrada em um réptil. Em 2016, os pesquisadores mostraram que o tubarão-da-groenlândia pode viver pelo menos 272 anos, tornando-o o vertebrado de maior longevidade já conhecido. Nossa compreensão sobre o uso de ferramentas por animais também aumentou: um estudo de 2019 mostrou pela primeira vez que os porcos da espécie Sus cebifrons usam ferramentas e vários estudos mostraram que os macacos-prego do Brasil usam ferramentas há pelo menos 3 mil anos, o mais antigo registro não humano encontrado fora da África. Em um avistamento extremamente raro em 2018, biólogos do Quênia documentaram cientificamente uma pantera negra na África pela primeira vez desde 1909.

    Redefinindo as unidades da ciência

    Para entender o mundo natural, os cientistas precisam medi-lo — mas como definir as unidades? Ao longo das décadas, os cientistas redefiniram gradualmente as unidades clássicas em função de constantes universais, como o uso da velocidade da luz para ajudar a definir o comprimento de um metro. Mas a unidade científica de massa, o quilograma, permaneceu atrelada ao “Le Grand K”, um cilindro metálico armazenado em uma instalação na França. Se a massa desse lingote variasse por qualquer motivo, os cientistas teriam que recalibrar seus instrumentos. Não há mais esse risco. Em 2019, os cientistas concordaram em adotar uma nova definição de quilograma, baseada em um fator fundamental na física chamado constante de Planck e em definições aprimoradas para as unidades de corrente elétrica, temperatura e número de partículas em uma determinada substância. Pela primeira vez, todas as unidades científicas agora se originam de constantes universais — garantia de uma era de medição mais precisa.

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