Pau-brasil: no dia da árvore, 6 curiosidades sobre a espécie que batizou um país

O pau-brasil já foi responsável por dar status de luxo a quem usava vestimentas com o pigmento vermelho extraído de sua madeira. Atualmente, é reconhecido como árvore nacional devido a sua importância histórica, mas ainda segue ameaçado de desaparecer.

Por Redação National Geographic Brasil
Publicado 21 de set. de 2022, 10:20 BRT

Exemplar de pau-brasil fotografado durante visitas noturna guiada pelo Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

Foto de Fernando Frazão /AGÊNCIA BRASIL

Endêmico da Mata Atlântica e nativo da região litorânea que vai dos estados do Rio de Janeiro até o Rio Grande do Norte, o pau-brasil (Caesalpinia echinata ou Paubrasilia echinata) é um dos exemplares mais representativos da flora brasileira. 

“A história do Brasil está intimamente ligada com essa árvore'', disse o engenheiro agrônomo Yuri Tavares Rocha, doutor em geografia e professor da Universidade de São Paulo (USP) em entrevista à reportagem. 

Com a chegada do Dia da Árvore, criado por decreto federal em 1965 e celebrado nacionalmente em 21 de setembro, National Geographic investigou mais sobre esta espécie da flora brasileira que nomeou o maior país da América Latina – e descobriu que, por pouco, ela quase não existe mais no país.

“Ainda hoje há interesse comercial na madeira”, alerta Tavares Rocha. A seguir, conheça 6 curiosidades sobre a árvore que é símbolo nacional:

1. Pau-brasil significa “vermelho como brasa” e seu nome em tupi é Ibirapitanga

O professor e especialista em geografia começa contando que, durante os primeiros anos da ocupação portuguesa, muitas espécies animais e vegetais chamaram a atenção por não existirem na Europa, como a arara e o papagaio, por exemplo. E o pau-brasil estava entre elas desde o princípio, por conta de seu interior avermelhado.

“Os portugueses já conheciam uma árvore de madeira vermelha do mesmo gênero da C. echinata, mas de origem asiática, chamada de bresil ou bersil. Com a descoberta da espécie americana, ela também passou a ser chamada assim”, diz Tavares Rocha. 

“Bresil”, segundo Rocha, quer dizer “vermelho como brasa”, fazendo uma referência ao vermelho presente no interior do tronco do pau-brasil. “Vale ressaltar que os povos originários, que já habitavam o território, ajudaram os portugueses a encontrar essas as árvores. Eles também a chamavam de ‘Ibirapitanga’ que significa ‘madeira vermelha’ na língua tupi”, acrescenta o professor. 

Usado para a produção de um corante natural para tecidos, os troncos vermelhos das novas terras da América logo se tornaram um item cobiçado no mercado europeu. “A exploração do pau-brasil foi a primeira motivação da ocupação portuguesa e trazia benefícios para os comerciantes. Era mais fácil de transportar do que as árvores da Ásia e o pigmento extraído apresentava maior qualidade.”

Bosque de pau-brasil localizado na Estação Ecológica do Tapacurá, em Pernambuco.

Foto de Yuri Tavares Rocha

Rocha estima que cerca de 500 mil toras de pau-brasil foram enviadas à Europa entre os séculos 16 e 19. Mas esse número pode ser ainda maior. 

“É uma estimativa subestimada porque a árvore não foi explorada apenas pelos portugueses. Franceses, holandeses, espanhóis e ingleses também participaram desse comércio, nem sempre de forma legal, muito menos registrada.”

2. Um país com nome de árvore: como o pau-brasil nomeou um imenso território

Vera Cruz, Terra de Santa Cruz e Terra dos Papagaios foram alguns dos nomes pelos quais a colônia portuguesa no então “novo continente” já foi conhecida. 

Entretanto, chegavam cada vez mais naus carregadas de quantidades significantes  de “bresil” em Portugal e, aos poucos, a relevância comercial acabou por influenciar o nome de seu território de origem. “Apesar do nome de batismo da colônia ser Santa Cruz, era comum se referir a quem trabalhava com o pau-brasil de ‘brasileiros’ e o lugar de onde a madeira vinha de ‘terra do brasil’”, conta Rocha. 

“O nome também foi muito influenciado pela cartografia da época”, afirma Rocha. Segundo este mesmo artigo de 2001, os mapas europeus, naquele momento, nomeavam o lugar geográfico já como “Brasil” ou variantes como Bracir, Bracil, Brazille, Bersil, Braxili, Braxill, Bresilge. 

“Os mapas representavam o território da colônia portuguesa com iluminuras (desenhos) que faziam a alusão da exploração da madeira, mostrando o tronco vermelho cortado. E, aos poucos, a colônia era mais conhecida como Brasil do que Santa Cruz”, diz Rocha. 

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    3. Pau-brasil: símbolo de status nas roupas e de qualidade na música

    O tamanho da influência do comércio do pau-brasil no primeiro período da colonização do Brasil pode ser explicado, segundo Rocha, pela importância do subproduto que a madeira originava: o corante vermelho. 

    A tintura vermelha era uma cor difícil de ser obtida, o que fazia dela um sinal de luxo. “Roupas vermelhas eram sinal de status social. O vermelho era usado por representantes do alto-clero, nobres e grandes mercadores ricos, por exemplo.”

    O protagonismo do pau-brasil como matéria prima para o corante seguiu até meados do século 18 e início do século 19, quando foram desenvolvidos os primeiros corantes sintéticos. “O que aumentou e facilitou o acesso à essa tintura, derrubando a demanda pela madeira”, afirma Rocha. 

    Além da extração do pigmento, Rocha diz que a qualidade da  madeira do pau-brasil também servia para outros fins, como a construção de móveis e decorações, principalmente para igrejas. “É uma madeira muito resistente e durável. Até hoje é possível encontrar decorações e móveis em igrejas europeias talhados em pau-brasil”, diz Rocha. Mas não espere ver um brilho vermelho nesses itens. “Ela vai ficando mais marrom com o tempo, perdendo a cor característica”

    Outro uso para o pau-brasil era na produção de instrumentos musicais. “Estudiosos da música dizem que a madeira do pau-brasil gera uma das melhores reverberações quando usada para confeccionar arcos de instrumentos de corda, como violinos, diz Rocha. Segundo ele, um arco de violino feito de pau-brasil pode chegar a custar mais de 2 mil dólares. 

    4. O pau-brasil é considerado a árvore nacional

    Em 1961, o Ministério da Agricultura do Brasil apresentou um anteprojeto de lei ao então presidente da República, Jânio Quadros, que declararia o pau-brasil como árvore nacional. 

    Ministério alegava que o mundo inteiro reconhecia o Brasil por sua flora exuberante e, portanto, seria conveniente que o país declarasse a espécie que representasse o país. 

    O pedido se tornou o Projeto de Lei 3380/1961, que declarou, oficialmente, o pau-brasil como a árvore nacional brasileira. Além dele, o PL também declara a flor do ipê-amarelo como flor nacional. 

    Flores do pau-brasil.

    Foto de Yuri Tavares Rocha

    [Veja também: Marañón, Fernãoburgo e cyri-gi-pe: a origem dos nomes dos estados do Nordeste brasileiro]

    5. Onde estão as árvores de pau-brasil hoje

    Depois de séculos de exploração predatória, em conjunto com o desmatamento da Mata Atlântica, o pau-brasil chegou próximo à extinção. “No século 20 ele chegou a ser considerado extinto. Até ser redescoberto por populações nativas em Pernambuco, em 1928”, relata Rocha. 

    “Atualmente, ainda é possível encontrar populações nativas de pau-brasil no Nordeste brasileiro, principalmente no Parque das Dunas, em Natal, além do sul de Alagoas, do norte da Paraíba e em fragmentos da costa de Pernambuco”, diz Rocha. 

    Entretanto, não há estimativas de quantos exemplares nativos sobram na Mata Atlântica. “É uma espécie difícil de ser encontrada. Seria necessária uma expedição específica para realizar essa contagem estimada em escala nacional", diz Rocha. "É um próximo passo para a preservação da espécie."

    6. O pau-brasil segue ameaçado de extinção

    O pau-brasil é uma das espécies na lista das ameaçadas de extinção do Comércio Internacional das Espécies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção (Cites). A organização foi criada para regular o comércio de espécies animais e vegetais ameaçadas, prevenindo-as do perigo de extinção, considerando como ameaça o comércio internacional.

    “Por ser uma espécie em risco na Mata Atlântica, ela é imune de corte por conta da legislação nacional. Mas, como ainda há interesse comercial na madeira, esse comércio deve seguir regulamentos nacionais e internacionais”, diz Rocha. 

    Por isso, além de manchas esparsas de exemplares nativos, também é possível encontrar raras áreas comerciais regulamentadas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). 

    Atualmente, a exploração do pau-brasil só pode acontecer por meio de plantio devidamente registrado no Sistema Nacional de Controle da Origem dos Produtos Florestais (Sinaflor) perante o órgão ambiental competente, e sua exportação depende da aprovação do Ibama. 

    Em julho de 2022, o Ibama instituiu diretrizes para a Estratégia Nacional de Proteção da Espécie Paubrasilia echinata (pau-brasil), as quais delimita a fiscalização – desde o plantio e estoque de empresas registradas até a comercialização final da madeira. 

    “É uma forma de ter certeza da origem da madeira comercializada", diz Rocha, "evitando exportações ilegais e mais danos aos poucos exemplares existentes."

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