Altas temperaturas, chuvas e secas: é assim que as mudanças climáticas ameaçam o chocolate da Páscoa
Chocolates em forma de ovos são comuns na época de Páscoa. Mas não somente esses doces estão ameaçados, como qualquer tipo de alimento feito com cacau, a matéria-prima principal do chocolate. Estudos vêm mapeando o impacto da crise climática sobre o cultivo desta planta.
Quem come chocolate – e especialmente aqueles que apreciam o doce na época da Páscoa – já estão sendo alertados sobre o impacto das mudanças climáticas sobre esse tipo de alimento. Acontece que uma combinação de seca, chuvas, pragas e outros fatores impulsionados pelas mudanças climáticas ameaçam a produção de cacau em todo o mundo, minimizando as colheitas e aumentando os preços.
De olho nesse fato, que pode se tornar um problema crônico nos próximos anos, National Geographic explica por que a produção de chocolate pode sofrer com as mudanças nas temperaturas e nos padrões climáticos.
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Aqui é possível ver três vagens de cacau – o fruto do cacaueiro. As sementes de cacau são extraídas de seu interior, o que também pode ser visto nesta foto.
Adeus cacau: o aquecimento global está tornando algumas regiões menos adequadas para o cultivo
As mudanças climáticas causam eventos climáticos extremos, como secas intensas, escassez de água, incêndios, enchentes e tempestades catastróficas, entre outros, como define a Organização das Nações Unidas (ONU). E esses acontecimentos acabam por tornar algumas regiões menos adequadas para o cultivo do cacau.
Para crescer e dar frutos, as plantas de cacau (de onde é extraída a matéria-prima do chocolate) precisam de um clima quente e úmido, condições que são encontradas em áreas tropicais ao longo da Linha do Equador. Temperaturas altas de até 32 °C são ideais, mas mais calor pode reduzir a qualidade e a quantidade das colheitas, diz a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).
Uma região particularmente propícia ao desenvolvimento do cacau é a África Ocidental, onde quatro países produzem cerca de 70% do cacau do mundo, de acordo com um relatório da Climate Central – um grupo independente de cientistas e comunicadores que pesquisam e informam sobre as mudanças climáticas e como elas afetam a vida das pessoas.
A Climate Central analisou, recentemente, como a mudança climática induzida pelo homem (principalmente devido à queima de petróleo, carvão e gás metano) afetou a frequência das temperaturas máximas no chamado cinturão do cacau da África Ocidental nos últimos dez anos (de 2015-2024).
Mulheres trabalham em torno de árvores de cacau em uma plantação no Brasil, um dos principais países exportadores de cacau.
Chuvas ou secas extremas relacionadas à mudança climática também afetam a produção de cacau
Além do calor excessivo, outros fatores, como a seca, as chuvas e as infecções transmitidas por insetos, podem afetar os cacaueiros, continua o relatório.
A seca está associada à redução da floração das plantas de cacau, pois reduz a eficiência da fotossíntese nas árvores. Além disso, os padrões irregulares de chuva têm a possibilidade de prejudicar a produção da fruta da qual o chocolate é feito. O excesso de chuva em um curto período de tempo, por exemplo, pode encharcar os campos e impedir que as raízes absorvam oxigênio. Tempestades fortes, por sua vez, acabam fazendo com que as flores caiam, reduzindo a colheita.
Também é importante observar que o excesso de umidade cria um ambiente ideal para o desenvolvimento da podridão marrom ou preta do cacau, que faz com que as vagens da planta apodreçam e endureçam. Isso ocorreu em Gana e na Costa do Marfim, por exemplo, no final de 2023, quando chuvas excessivas levaram a um surto do vírus do broto inchado e da doença da vagem preta, observa um artigo publicado pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD).
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A produção de chocolate está ameaçada por causa das mudanças climáticas. Cerca de 70% da produção de cacau do mundo acontece em uma mesma região da África que vem sendo bastante atingida por climas extremos.
O cacau está ficando mais caro – e isso impacta no preço e na oferta do chocolate
O artigo da UNCTAD aponta que a mudança climática é um dos fatores que causam o aumento dos preços do cacau, pois a menor produção leva a uma menor oferta e, consequentemente, a custos mais altos. Os valores dessa matéria-prima dispararam “136% entre julho de 2022 e fevereiro de 2024”, de acordo com o sistema de rastreamento de preços de commodities da UNCTAD.
Em resumo, “estações secas prolongadas, chuvas reduzidas, temperaturas extremas e o surgimento de novas pragas e doenças podem reduzir tanto a produção quanto a qualidade do cacau”, alerta a Swiss Platform for Sustainable Cocoa (SWISSCO), uma associação suíça criada para compartilhar conhecimento sobre o produto e encontrar soluções comuns.
Portanto, a fonte conclui que “a adaptação às mudanças climáticas para fortalecer a resiliência dos meios de subsistência e dos sistemas agrícolas está se tornando uma questão cada vez mais urgente para todos os atores do setor cacaueiro”.
