Como é ser um explorador da National Geographic?
Pesquisadores da América do Sul, reunidos para um encontro em Manaus, revelam os bastidores da jornada científica que os une à entidade.
Búfalos selvagens, onças ferozes e jacarés famintos: estes foram alguns dos desafios que o arqueólogo paulista Eduardo Góes Neves enfrentou para encontrar um sítio arqueológico na região do rio Guaporé, estado de Rondônia, em 2013. O explorador da National Geographic Society não apenas sobreviveu aos perigos como conclui com louvor o ambicioso projeto de reabrir o sítio e identificar vestígios humanos da Amazônia de 7 mil anos atrás.
A vida de um explorador da National Geographic pode ser, por vezes, repleta de aventuras e boas histórias para contar, como esta de Góes Neves, mas também está ligada à dedicação e ao comprometimento com que esses pesquisadores desenvolvem seus projetos científicos.
Na última semana, cientistas sul-americanos de diversas áreas do conhecimento reuniram-se em Manaus (AM) para o Sciencetelling Bootcamp & Explorer Spotlight, evento em que compartilharam suas experiências e aprenderam a lidar com novas ferramentas para divulgarem seus trabalhos.
Eduardo Góes Neves só pôde realizar o projeto por que, segundo ele, a National Geographic lhe deu um voto de confiança. “Havia um risco grande, poderia não dar certo, mas eu recebi este financiamento mesmo assim”, observa. Sobre o Bootcamp em Manaus, ele acredita estar desenvolvendo melhor as ferramentas que o ajudarão a descobrir novos parceiros e aprender a “contar histórias”.
“É preciso perseverança e estar disposto a correr riscos – nem sempre é fácil”
Existe uma “mentalidade de explorador, segundo a diretora regional da América Latina da National Geographic Society, Gael Almeida, que é fundamental para a escolha de quais cientistas receberão financiamento e apoio da entidade. Tal mentalidade, de acordo com Almeida, tem a ver com gostar de colaborar, ser curioso e criativo, encontrar soluções para problemas e ser bastante comprometido com o trabalho.
(Leia mais: "Exploradores brasileiros trazem ousadia e experiência para evento da National Geographic em Manaus")
Para Alex Moen, vice-presidente do programa de exploradores da National Geographic Society, a curiosidade sobre como o mundo funciona é essencial para exercer a função, além, claro, do desejo de compartilhar com o público o conhecimento adquirido. “É preciso também perseverança e estar disposto a correr riscos – nem sempre é fácil”, diz ele, que trabalha no programa há 18 anos.
Objetivos comuns
No Sciencetelling Bootcamp & Explorer Spotlight, pesquisadores brasileiros e de outros países da América do Sul têm um objetivo em comum: a conservação da região amazônica perpassa a maior parte dos 17 projetos científicos.
A fotógrafa Gena Steffens é americana, mas vive há cinco anos em Florencia, na Colômbia, onde atuava como jornalista freelancer até se tornar uma exploradora da National Geographic em 2018. Em seu projeto, ela busca retratar fotograficamente as consequências ambientais da guerra que o país viveu contra o narcotráfico nas últimas décadas.
“Eu não era tão experiente quando iniciei a parceria com a NG, e desde então cresci muito como jornalista e fotógrafa. A National Geographic é uma plataforma poderosa de comunicação e muitas oportunidades surgiram para mim”, diz ela.
Assim como outros exploradores, Steffens vive em uma área isolada, na Amazônia colombiana, e estar no Bootcamp em Manaus é uma oportunidade ímpar para que esses pesquisadores se encontrem e que haja um intercâmbio de ideias. “Estamos muito motivados e esses projetos certamente resultarão impactantes”, observa.
Quem também recebeu a missão de se tornar uma exploradora foi a ecóloga equatoriana Silvana Gallegos, que atualmente faz seu doutorado no Instituto de Biodiversidad Neotropical em Buenos Aires, Argentina. Nascida na cidade de Riobamba, Gallegos foca suas pesquisas em ambientes aquáticos e populações de microinvertebrados.
“Queremos que as pessoas também se apaixonem pelo meio ambiente”
A ecóloga diz acreditar que, muitas vezes, o público em geral não sabe muito bem o que faz um cientista, e pode ter uma ideia um tanto quanto ilusória. Ser uma exploradora da National Geographic Society, contudo, e usufruir da visibilidade que a entidade traz, é uma forma de aproximar a ciência do dia-a-dia e tirar dela a aura de inatingível. “Queremos que as pessoas também se apaixonem pelo meio ambiente”, torce Gallegos.