Exploradores brasileiros trazem ousadia e experiência para evento da National Geographic em Manaus
Biólogos, pesquisadores e fotógrafos desenvolvem técnicas para divulgarem suas pesquisas fora da academia ao mesmo tempo em que se conectam com o trabalho dos colegas.
A exuberante e calorenta Manaus, no coração da Floresta Amazônica, foi escolhida para abrigar o Sciencetelling Bootcamp & Explorer Spotlight, evento da National Geographic Society que reúne, esta semana, exploradores latino-americanos para divulgarem entre si projetos científicos focados na conservação da vida selvagem da região. Entre os pesquisadores, há bolivianos, equatorianos, colombianos e peruanos. Contudo, a maior parte do grupo é de brasileiros: são nove, no total, de várias partes do país.
Todos eles passaram por um intenso processo de seleção e foram escolhidos pela National Geographic Society para se tornarem exploradores, o que significa que eles recebem diretrizes e suporte financeiro para realizarem suas pesquisas. Neste encontro, os projetos estão de alguma forma ligados à Amazônia, e esta é a primeira vez que um evento Bootcamp dedica-se à região.
“Quero mostrar para outras mulheres que elas devem continuar a investir na carreira mesmo após a maternidade”
Uma das novas exploradoras é a bióloga capixaba Silvia Pavan, que vive e trabalha em Belém (PA). A pesquisadora tornou-se mãe do pequeno Davi há apenas cinco meses, mas fez questão de participar da série de workshops em Manaus, mesmo com o filho no colo.
“Sou uma mamãe cientista, e quero mostrar para outras mulheres que elas devem continuar a investir na carreira mesmo após a maternidade”, diz ela, que é também mãe de uma menina de três anos. “Estar com ele (Davi) aqui dificulta um pouco, sim, mas expõe para outras pesquisadoras do Brasil que é possível conciliar as duas vocações”.
Doutora em biologia pela City University de Nova York, Estados Unidos, Pavan estuda diversidade e evolução de mamíferos na América do Sul, mapeando áreas prioritárias para conservação. A bolsa concedida pela National Geographic Society possibilitou a ela uma expedição exploratória em 2018 em busca de uma espécie rara de esquilo na Amazônia peruana.
“A National Geographic está querendo aprender com o pessoal que trabalha na Amazônia, por isso o Bootcamp está ocorrendo em Manaus”, comenta ela. “Em outros tipos de evento eu não poderia participar, pois não poderia trazer o meu neném. Aqui, eles me apoiam. Estou querendo me estabelecer como pesquisadora no Brasil e é primordial que eu esteja aqui”.
Aperfeiçoamento
Os exploradores da National Geographic estão em Manaus para se aperfeiçoarem nas técnicas de divulgação de seus projetos científicos. Fotografia, vídeo, redes sociais e oratória em público estão entre os workshops oferecidos aos pesquisadores.
Compõem a equipe de brasileiros no evento, também, o ecólogo marinho Angelo Bernardino, o engenheiro elétrico Pedro Torres Ferreira, a antropóloga Clara Fortes, os biólogos Thiago Sanna Silva e João Felipe Herculano, o ecólogo Thiago Couto, o arqueólogo Eduardo Góes Neves e o fotógrafo Felipe Fittipaldi.
Vice-presidente do programa de exploradores da National Geographic Society, Alex Moen observa que o grupo de brasileiros traz a vantagem de viver ou trabalhar na região amazônica, o que os deixa extremamente conectados ao objeto de estudo. “Eles sabem, além de tudo, da importância planetária que a Amazônia possui”, pontua ele.
“OS pesquisadores brasileiros sabem da importância planetária que a Amazônia possui”
“O grupo é bastante diverso, sendo que os exploradores estão envolvidos com pesquisa, conservação, storytelling, tecnologia e educação”, explica Gael Almeida, diretora regional da América Latina da National Geographic Society.
O biólogo João Felipe Herculano integra o Projeto Mantis, que pesquisa, documenta e ajuda a preservar os louva-a-deus. “Tenho amadurecido bastante profissionalmente durante essa experiência do Bootcamp”, comemora ele. “É um momento difícil para a Amazônia, o meio ambiente em geral e a ciência no Brasil – por isso é tão importante estar aqui”.
Após o Bootcamp, com o apoio da National Geographic Society, Herculano e seus colegas de Projeto Mantis irão para uma expedição nas reservas de Allpahuayo-mishana e Boiling River, na Amazônia peruana, para mapear e registrar espécies de louva-a-deus e demais animais da biodiversidade da região.
Já o fotógrafo carioca Felipe Fittipaldi é uma exceção no grupo: ele também é explorador, contudo seu objeto de estudo não está na Amazônia. Fittipaldi tem registrado o desaparecimento da cidade fluminense de Atafona, que está sendo invadida pelo mar. “É o maior caso de erosão marinha do Brasil”, comenta ele. Com o apoio da National Geographic Society, ele poderá investigar a fundo as causas do fenômeno.
O fotógrafo acredita que o Sciencetelling Bootcamp & Explorer Spotlight é uma forma de se conectar à comunidade acadêmica, além de aprender a desenvolver outras atividades, como se comunicar com o público digital. “As ideias de todos os pesquisadores estão, de alguma forma, conectadas. Ninguém faz nada acontecer sozinho”.