O canudinho descartável é o novo cigarro?

A vida útil de um canudo plástico dura menos que quinze minutos e ele demora pelo menos 500 anos para se decompor. Precisamos parar de usá-lo.

Por Paulina Chamorro
Publicado 11 de set. de 2018, 11:00 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT

Há tempos não surgia uma iniciativa da sociedade por uma causa ambiental como o movimento que questiona o uso de canudos. Tudo começou após a publicação de um vídeo, em 2015, mostrando a angústia de uma tartaruga enquanto seus salvadores tentam retirar um canudo de sua narina. A informação viralizou e o canudo plástico, que pode matar animais marinhos, foi se espalhando pelo mundo.

A partir daí, empresas começaram a sentir a pressão da sociedade. A Starbucks, a rede de hotéis Marriott, a empresa de aviação American Airlines, a Walt Disney e o McDonald's do Reino Unido e da Irlanda prometeram eliminar o uso de canudinhos nos próximos anos. A lojas brasileiras da rede de fast-food já deixaram de entregar espontaneamente canudinhos aos clientes.

E veio a resposta legislativa também. No Brasil, a cidade do Rio de Janeiro decretou o banimento do canudo de plástico descartável e a vigilância sanitária já está fiscalizando os estabelecimentos. Em Santos, uma lei semelhante entra em vigor em 2019. Em São Paulo, vereadores ainda discutem a adoção de medidas semelhantes, mas cidades da região metropolitana – Sorocaba e Cotia – já tomaram medidas contra o canudinho.

A Comissão Europeia propôs o banimento de dez itens descartáveis responsáveis por 70% do lixo em mares europeus, entre eles o canudinho. Em um relatório, a instituição afirma que se apenas os canudinhos distribuídos por redes de fast-food na União Europeia em um ano fossem enfileirados, daria para ir e voltar à Lua dez vezes. Theresa May, primeira-ministra do Reino Unido, também declarou suas intenções de banir o plástico descartável, citando a estimativa de 8,5 bilhões de canudos plásticos descartados anualmente em seu país.

O canudinho é o maior vilão?

Fernanda Daltro, coordenadora da campanha Mares Limpos da ONU Meio Ambiente, acredita que retirar o canudo da equação não vai solucionar o problema da poluição plástica. No entanto, ele é emblemático. “Ainda que eles não sejam parte significativa daquilo que chega nos oceanos, os canudos são encontrados em volume considerável em todas as limpezas de praia", disse em entrevista para a National Geographic Brasil. "Eles são o símbolo do lixo plástico costeiro."

Para ela, a distribuição indiscriminada de canudos por restaurantes e vendedores ambulantes "demonstra que as pessoas têm um costume arraigado de unir prazer e diversão sem conectar com as consequências de alguns hábitos."

Para muitas pessoas o tema do canudo foi a primeira oportunidade de se aproximar de uma campanha ou temática ambiental. E o movimento está se transformando em uma poderosa arma de educação ambiental.

Outro ponto importante sobre o uso do canudo é justamente o problema associado com a deficiência do sistema de coleta seletiva e de reciclagem no Brasil.

O material plástico descartável é reciclável, mas os de uso único, como copos, colheres de café, garrafas pet individuais e os canudos, nem sempre percorrem o caminho da reciclagem.

Por isso o canudinho é tão importante. Ele é o vetor que faltava para que se inicie uma discussão mais ampla sobre os hábitos de consumo das pessoas e o seu impacto no planeta, além de levantar questionamentos sobre a cadeia da reciclagem, as consequências de sua não aplicação e outros tipos de poluição de praias e oceanos, como a própria bituca de cigarro.

De acordo com o Instituto Ecosurf, que dentre outras ações realiza mutirões de limpeza de praias, na cidade Imbituba, em Santa Catarina, o canudinho representa o sexto item plástico mais encontrado nas nove praias. Desde 2014 foram realizados 58 mutirões por lá.

Para Alexander Turra, professor titular do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo, “o canudo pode ser um ponto de partida para convidar as pessoas a refletirem de forma mais abrangente tanto a questão do consumo consciente como o descarte, e como lidar com o resíduo de forma geral”.

Foto de Luisa Dörr

Informação para todos

A National Geographic Brasil lança em 10 de setembro uma campanha nas estações da linha amarela do metrô de São Paulo para mostrar que o canudinho deve ser o novo cigarro. Os retratos produzidos pela fotógrafa Luisa Dörr fazem um paralelo entre os descartáveis e o cigarro.

Afinal, se o ato de fumar – antes considerado sexy, sinônimo de independência e elegância – ficou feio, usar um canudinho que vai demorar mais de 500 anos para se decompor deve ter tratamento semelhante.

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