Planta com poderes curativos cresce em uma única ilha grega

Desde a antiguidade, Chios atrai visitantes por sua apreciada resina aromática.

Por Margarita Gokun Silver
Publicado 22 de nov. de 2019, 11:24 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Vassilis Ballas e sua esposa, Roula Boura, extraem resina de uma aroeira-da-praia em Chios. O processo ...
Vassilis Ballas e sua esposa, Roula Boura, extraem resina de uma aroeira-da-praia em Chios. O processo de cultivo de aroeira-da-praia, que dura o ano todo, mudou pouco desde a antiguidade.
Foto de Eirini Vourloumis, T​he New York Times, Redux

É SÓ ANDAR PELAS RUAS MEDIEVAIS DE PYRGI para ver construções, arcos — e até a parte inferior das varandas — gravados com intrincados padrões geométricos em preto e branco. Feixes de tomate-cereja e pimentão desidratados balançam acima, enquanto mulheres examinam ramos folhosos tão compenetradas quanto caçadores de diamantes. Elas buscam borbulhas de goma branca endurecida: o mástique, que é uma resina natural apreciada desde a antiguidade por suas propriedades aromáticas e curativas.

Pyrgi é uma das 24 vilas produtoras de mástique, que formam o antigo município de Mastichochoria, na ilha grega de Chios. Embora a aroeira-da-praia (Pistacia lentiscus) exista em todo o Mediterrâneo, a variedade que produz a resina de mástique cresce apenas na parte sul de Chios — uma peculiaridade da natureza que deu origem à rica e conturbada história da ilha.

Mulheres extraem gotas de mástique em frente a suas casas em Pyrgi. As construções são decoradas com xysta, que são padrões geométricos tradicionais em preto e branco, e datam de séculos.
Foto de Georgios Makkas, Alamy Stock Photo

Monopólios de goma

Há milênios, a mastiha (ou mástique) tem sido fonte de prestígio, força econômica e identidade para Chios e seus moradores. Heródoto fez menção à goma no século 5 a.C., os romanos a mastigavam para limpar os dentes e refrescar o hálito, e os otomanos a utilizavam como tempero.

Seu cultivo foi intensificado com a chegada dos genoveses no século 14, os quais monopolizaram o comércio do mástique e construíram na região de Mastichochoria casas semelhantes a fortalezas por toda parte, formando um labirinto de ruas para enganar invasores e uma torre de guarda central para alerta em caso de ataques. Para coibir o comércio ilegal, foram instituídos toques de recolher à noite para os moradores e punições severas pelo roubo de mástique.

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    O mástique é conhecido na Grécia como “lágrimas de Chios” em razão das gotas transparentes de resina que endurecem e escurecem com o passar do tempo. Amargo no início, o sabor adquire notas herbáceas e de pinho quanto mais se mastiga.
    Foto de AGE Fotostock, Alamy Stock Photo

    Quando os otomanos assumiram o controle, no século 16, o monopólio foi mantido. Somente em 1840, os produtores de mástique finalmente tiveram permissão para negociar de forma independente o que haviam cultivado e, menos de um século depois, uniram forças para criar a Associação de Produtores de Mastiha de Chios (CMGA), uma cooperativa ativa até hoje.

    Apesar das mudanças de regime, o cultivo e a produção da goma permaneceram praticamente iguais ao longo dos séculos. Ainda concentrada nas 24 aldeias, sua produção se estende  pelo ano inteiro, a começar pelo preparo do solo, cortes superficiais na casca para que o mástique seja secretado, e terminando com a colheita e a limpeza. A maior parte desse processo é manual. Como nas gerações anteriores, os produtores atuais normalmente contam com a ajuda de suas famílias e vizinhos.

    A cidade de Chios, na costa leste da ilha de mesmo nome, possui um porto que recebe balsas vindas de Piraeus, outro porto situado na região metropolitana de Atenas.
    Foto de Salvator Barki, Getty Images

    Como visitar

    Embora geograficamente mais próxima da Turquia do que da Grécia, Chios fica à leste de Atenas e o voo que sai da capital pela companhia aérea Olympic Air é breve. Também é possível pegar  a balsa noturna de Piraeus até a cidade de Chios.

    Visite de agosto a setembro para conhecer o processo de cortes nos arbustos ou entre outubro e março para ver a limpeza da goma. Alugue um carro e comece sua viagem no Museu do Mástique de Chios, que oferece um excelente panorama do processo de cultivo e produção de mástique, além de um bosque de aroeiras-da-praia em que os visitantes podem passear em busca das “lágrimas” (ou gotas) de mástique brilhando ao sol.

    Em seguida, continue o passeio pela vila “pintada” de Pyrgi, pelas vizinhas Olympi, Mesta e por outras vilas, caminhando pelas ruas e admirando as igrejas. Agioi Apostoli, perto da praça central de Pyrgi, é um exemplo da arquitetura bizantina do século 13 e apresenta afrescos bem preservados do século 17. Em Limenas, delicie-se com o fagri fresco grelhado (o robalo da região), no restaurante O Sergis Taverna. Com sorte, você verá a yiayia (avó) da família enrolando bolinhas de queijo caseiras.

    Para ter uma ideia de como era a vida aristocrática em Chios durante o período genovês e posteriormente, hospede-se em uma pousada em Kampos, região conhecida por seus altos muros de pedra, mansões imponentes e amplos jardins de Citrus. Para desfrutar de uma bebida à noite, vá até a orla da cidade de Chios e prove um coquetel de mástique em Pura Vida — ou experimente o drinque puro de mástique. Quer saber mais sobre o processo de destilação? Entre em contato com a Stoupakis Distillery, uma das destilarias mais antigas da ilha, para fazer um passeio.

    Antes de ir embora, não se esqueça de se abastecer com licores, suplementos, massas e todos os outros produtos de mástique na loja Mastic Shop da CMGA, também à beira-mar. Faça um lanchinho com um pacote de gotas de mástique para manter a tradição milenar da ilha de mastigar mastiha ao natural.

     

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