Aumento de baleias sem cauda na Califórnia preocupa cientistas

Especialistas dizem que linhas e redes de pesca são os prováveis responsáveis pelos ferimentos.

Por Katarina Zimmer
Publicado 11 de mai. de 2018, 11:34 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Aumentam os avistamentos de baleias-cinzentas sem cauda

Alisa Schulman-Janiger observava baleias-cinzentas na costa do México em 1985 quando, em vez de ver uma bela nadadeira saindo da água, viu um coto feioso.

Era uma baleia sem cauda. “Fiquei de queixo caído”, ela lembra.

Desde então, avistamentos de baleias sem cauda tem acontecido com frequência no oeste da América do Norte. Somente neste ano, no mínimo 3 baleias-cinzentas sem nadadeira caudal foram vistas migrando para o norte ao longo da costa da Califórnia – um aumento que deixou Schulman-Janiger preocupada com o bem-estar dos cetáceos.

Não há qualquer sinal de que esses animais sofreram algum tipo de ataque de orcas, ou de que colidiram com embarcações, ela diz. Na verdade, as lesões provavelmente são provenientes do emaranhamento em redes de pesca.

Quando esses mamíferos se alimentam em áreas com grande quantidade de equipamentos de pesca, entulhos e outros objetos humanos, cordas e redes podem ficar presas à base de suas caudas, cortando-as gradualmente ou travando a circulação de sangue até que definhem de vez.

O prognóstico para essas baleias não é bom: “A maioria delas – senão todas – irão morrer em decorrência dessas feridas”, diz Justin Viezbecke, coordenador do programa de desencalhe da Admnistração Oceânica e Atmosférica Nacinoal (NOAA), dos EUA.

O conto da baleia

Sem as nadadeiras, a alimentação fica difícil: baleias-cinzentas precisam da cauda, que serve como propulsor para mergulhar no fundo do mar e filtrar pequenos crustáceos.

Além disso, a lenta migração da espécie dos berçários no México aos locais de alimentação no Ártico torna-se um desafio sem a cauda para acelerar a jornada. Mães sem nadadeiras não podem defender seus filhotes das orcas.

Schulman-Janiger, bióloga especialista em baleias que coordena o Projeto de Censo e Estudo de Comportamento de Baleias-Cinzentas, é fascinada pela habilidade de alguns animais de se adaptarem à deficiência.

Algumas baleias-cinzentas sem nadadeiras que ela observou torcem seus corpos para a direita, de forma semelhante a um saca-rolhas, ganhando força para mergulhar de volta depois de respirarem na superfície.

Uma fêmea em especial chama a atenção. Ela já foi vista várias vezes ao longo dos anos, às vezes com um filhote à tiracolo. “Não sabemos como ela conseguiu migrar até o Alasca”, ela diz.

Não está claro ainda porque a maioria dos avistamentos são de baleias-cinzentas, já que a maior parte dos enredamentos na América do Norte acontece com as jubarte.

Pieter Folkens, profissional do NOAA especializado em desenredar baleias, acredita que o motivo é o fato das baleias-cinzentas serem menos dependentes de suas nadadeiras caudais que outras espécies e, portanto, conseguem sobreviver mais tempo sem elas. (Veja “14 fotos de baleias de cair o queixo. “)

“Baleias-azul e jubartes precisam dar o bote para se alimentarem, por isso necessitam mais da nadadeira”, escreveu ele em um e-mail.

Apenas uma nadadeira?

O aumento nos avistamentos de baleias-cinzentas está alinhado com o aumento geral de enredamentos de baleias ao longo dos anos. Entre 2000 e 2012, o número de incidentes do tipo era, em média, de 10 por ano, de acordo com o NOAA. Em 2017, foram 31, diz Folken.

A razão do aumento é desconhecida, mas pode ser que as pessoas apenas ficaram melhores em avistá-las, diz Folken.

Há também o fato de hoje haverem mais baleias para ficarem enroscadas. As populações de baleias-cinzentas, baleias-azuis e jubartes tem crescido nos últimos anos, ele diz. (Veja também: Recorde de encalhes de jubartes não é tão ruim quanto parece)

Algumas baleias conseguem ser resgatadas – especialistas treinados libertaram seis dos 31 casos reportados em 2017 na costa oeste dos EUA, segundo Folken – e algumas se soltam por conta própria.

Entretanto, encontrar uma solução a longo prazo é um desafio. Os cientistas não sabem exatamente como elas se enroscam, e nem onde, já que podem ter viajado longas distâncias antes de serem encontradas. (Leia a história do pescador que morreu logo após desenroscar uma baleia.) 

Algumas indústrias de pesca vêm trabalhando para prevenir os enredamentos, uma delas é a pescaria de caranguejos em gaiolas da Califórnia, que prendem os crustáceos no leito marinho, em gaiolas suspensas por longos cabos. A prática contribuiu para um número recorde de enredamentos em 2016.

Viezbicke espera desfechos melhores para os mamíferos. “Ficar presa a redes de pesca, limita a habilidade de ser uma baleia.”

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